São Paulo, quinta-feira, 10 de setembro de 2009 |
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NINA HORTA Será o gosto ou saudade da família?
NA SEMANA passada, falei sobre um restaurante especializado em comidas "que fim levou", e o os e-mails nostálgicos choveram, é claro. Ângela Gandini: "Lembra do mandiopã?... E do sagu com vinho? Do que tenho mais saudades é da bala de cevada que vinha numa latinha. Lembra?". Bea Hein: "Sua coluna me lembrou da gelatina contente. Sua mãe fazia?". Ana Luiza Couto: "Lembrei da minha mãe, que é expert em língua com batatas. Minha filha, hoje com 15 anos, foi criada comendo língua, o que sempre gerou espanto nas pessoas. Uma vez no açougue, a senhora que atendia não acreditou quando compramos duas línguas. Mas quem é que ainda come língua? Os olhos da minha irmã brilham até hoje quando a mamãe faz rabada. Meu fraco é estrogonofe. Minha mãe faz com champinhons e palmito, e uma batata frita quadradinha, ai Jesus!". A Lana Nowikow, que inventou a Feijoada da Lana, também tem um restaurante, Casa da Lana, comida de mãe, e não quer que eu me esqueça dela. (Não conheço ainda, mas me interessa saber o que chamamos de trivial brasileiro.) "A comida que ofereço na hora do almoço, de terça a domingo, é aquela que todo mundo gosta, mas que não vê nos cardápios dos restaurantes de moda, nem nas avaliações especializadas dos jornais e revistas. Estou servindo pratos do dia a dia, na base do arroz e feijão, carne, verdura, algum petisco na entrada e um doce na saída. Tudo feito em casa, com fidelidade canina às marcas e ingredientes de casa. E o preço, R$ 17, que tal? O menu passeia pela feijoada (que pego na Feijoada da Lana, é claro), lasanha verde e à bolonhesa, língua, estrogonofe, caldeirada de frutos do mar, espaguete com vôngole, ao sugo, bife à milanesa, carne assada de panela, filé à cubana, camarão à grega e com chuchu, picadinho, pernil, moros y cristianos, o arroz de forno e de Braga, miúdos de frango, canjiquinha e outros pratos pedidos exclusivamente. Quando meus fornecedores avisam que há uma partida de bucho casinha de abelha, que se tornou inexplicavelmente espécime raro, convido a turma e dificilmente alguém deixa de se manifestar. É isso, Nina, querendo falar em comida de mãe, lembre de mim também. Fico na rua Purpurina, 293, Vila Madalena, tel. 3892-5645. Lana." Heloisa Martins: "...mas o que derreteu meu coração foi o camarão à grega, lembro da minha infância em Santos, como era chique ir a um restaurante e pedir este prato!". Evandro: "Você conhece um bolo chamado "de libra", massa feita à base de manteiga e recheado com generosos pedaços de chocolate e damasco?". E este leitor atrevido, José Marques, que confessa que me lê meio displicentemente, mas a coluna da semana passada o fez lembrar da casa da avó. Nada displicentemente me diz quais são as comidas "que fim levaram" que batem na sua saudade: "Patê de fígado de boi, servido como um pudim, desenformado. Miolo de boi à milanesa; manjar branco de coco ralado, torcido e coado em pano de prato imaculadamente limpo, meio translúcido, de aspecto marmóreo, acompanhado de cocada amarela. Arroz doce com gema de ovo para ficar mais firme e menos branco. Gemas queimadas, um doce divino, sem precedentes ou paradeiro. Sopa de fubá com folha de couve e cabeça de cascudo. Pudim de laranja, este último uma extravagância: 12 dúzias de laranjas, não sei de qual qualidade, cujo sumo era coado doze vezes e resultava no doce mais fantástico que já comi na vida, meio transparente, doce na medida certa e sem o menor gosto de amargo, perfeito, parecendo tirado de alguma passagem bíblica pelo ritual das 12". "O churrasco de coração de boi também sumiu. Atenciosamente. Yoshio Sato.". ninahorta@uol.com.br Texto Anterior: Tentações Próximo Texto: Comida: Menu indigesto Índice |
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