|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"História de Fawcett inclui loucura e morte"
Convidado da Bienal do Livro do Rio rejeita visão "hollywoodiana" de explorador
David Grann lança livro sobre coronel desaparecido no Brasil, em 1925, e diz
que ele "provavelmente foi morto pelos índios"
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "Z - A Cidade Perdida", o
escritor David Grann, colaborador da "New Yorker" e um
dos principais convidados da
14ª Bienal do Livro do Rio, descreve como conheceu em Londres a Real Sociedade Geográfica, fundada em 1830. Dessa instituição saíram os desbravadores vitorianos responsáveis pela glória do Império Britânico.
Ao perguntar pelos arquivos
de Percy Fawcett, que explorou
a América do Sul e desapareceu
no Brasil, em 1925, Grann precisou provar que não era um
dos "lunáticos por Fawcett".
Assim são conhecidos os fanáticos que importunam os funcionários em busca de teorias
bizarras sobre esse coronel. Por
que ele ganhou essa fama?
O "último grande aventureiro da era das explorações" (na
visão de Grann) morreu tentando encontrar uma civilização perdida na Amazônia. Era
contemporâneo de Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock
Holmes, que teria escrito "The
Lost World" (o mundo perdido) inspirado nas suas aventuras. Teria inspirado Indiana Jones. E será brevemente interpretado nas telas por Brad Pitt,
em filme que deve ser rodado
parcialmente no Brasil por James Gray.
O personagem é um prato
cheio para best-sellers, status
que o livro-reportagem de
Grann já alcançou. Mas o autor
rejeita as fórmulas fáceis.
"Fawcett é uma figura extremamente complexa, cuja história não se resume à aventura.
Envolve obsessão, loucura e
morte", disse à Folha.
Para escrever o livro, Grann
fez uma extensa pesquisa que o
levou da região do Xingu até arquivos oficiais e espólios familiares. Sentiu-se mais à vontade
nos arquivos vetustos do que
na selva, já que não tem nada a
ver com as aventuras temerárias de Harrison Ford.
Boa parte da história é conhecida, já que as tentativas de
encontrar os restos mortais de
Fawcett renderam inúmeras
reportagens e expedições. Mas
o autor diz que é pioneiro em
parte da história. "Consegui
chegar aos diários e anotações
que estavam com a neta de
Fawcett", disse. "Também tive
acesso a diários inéditos de
companheiros dele, como Raleigh Rimell, que desapareceu
na última viagem."
Da aventura do próprio
Grann nessa história, restou a
convicção de que novas pesquisas arqueológicas estão de fato
provando a antiga tese de Fawcett, de que ainda há civilizações pré-colombianas a serem
reveladas, e que há uma coerência para as histórias e lendas que os índios narram.
"As histórias orais que os índios contaram para mim tinham uma enorme consistência com aquelas contadas desde
os anos 20. E o que falaram sobre Fawcett revelava detalhes
confiáveis sobre a expedição final, que conhecia apenas porque tinha lido as últimas cartas
de Fawcett para sua mulher."
Entre as suas boas surpresas,
Grann cita seu encontro com
os índios kuikuro e as revelações que ouviu do arqueólogo
Michael Heckenberger.
Segundo Grann, os kuikuro
"mostraram as extraordinárias
ruínas de uma civilização no
exato local em que Fawcett estava procurando Z". Para ele,
"não existe uma cidade dourada e resplandecente que alguns
conquistadores imaginaram".
Mas, nos últimos anos, arqueólogos "acharam provas de ruínas antigas". E o destino de
Fawcett? "Acho que provavelmente foi morto pelos índios."
Z - A CIDADE PERDIDA
Autor: David Grann
Tradução: Claudio Carina
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 49 (424 págs.)
Texto Anterior: Prévia do Oscar, Toronto começa com Darwin Próximo Texto: Jornalista brasileiro elogia livro Índice
|