São Paulo, quinta-feira, 10 de setembro de 2009

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"História de Fawcett inclui loucura e morte"

Convidado da Bienal do Livro do Rio rejeita visão "hollywoodiana" de explorador

David Grann lança livro sobre coronel desaparecido no Brasil, em 1925, e diz que ele "provavelmente foi morto pelos índios"

MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

Em "Z - A Cidade Perdida", o escritor David Grann, colaborador da "New Yorker" e um dos principais convidados da 14ª Bienal do Livro do Rio, descreve como conheceu em Londres a Real Sociedade Geográfica, fundada em 1830. Dessa instituição saíram os desbravadores vitorianos responsáveis pela glória do Império Britânico.
Ao perguntar pelos arquivos de Percy Fawcett, que explorou a América do Sul e desapareceu no Brasil, em 1925, Grann precisou provar que não era um dos "lunáticos por Fawcett".
Assim são conhecidos os fanáticos que importunam os funcionários em busca de teorias bizarras sobre esse coronel. Por que ele ganhou essa fama?
O "último grande aventureiro da era das explorações" (na visão de Grann) morreu tentando encontrar uma civilização perdida na Amazônia. Era contemporâneo de Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, que teria escrito "The Lost World" (o mundo perdido) inspirado nas suas aventuras. Teria inspirado Indiana Jones. E será brevemente interpretado nas telas por Brad Pitt, em filme que deve ser rodado parcialmente no Brasil por James Gray.
O personagem é um prato cheio para best-sellers, status que o livro-reportagem de Grann já alcançou. Mas o autor rejeita as fórmulas fáceis.
"Fawcett é uma figura extremamente complexa, cuja história não se resume à aventura. Envolve obsessão, loucura e morte", disse à Folha.
Para escrever o livro, Grann fez uma extensa pesquisa que o levou da região do Xingu até arquivos oficiais e espólios familiares. Sentiu-se mais à vontade nos arquivos vetustos do que na selva, já que não tem nada a ver com as aventuras temerárias de Harrison Ford.
Boa parte da história é conhecida, já que as tentativas de encontrar os restos mortais de Fawcett renderam inúmeras reportagens e expedições. Mas o autor diz que é pioneiro em parte da história. "Consegui chegar aos diários e anotações que estavam com a neta de Fawcett", disse. "Também tive acesso a diários inéditos de companheiros dele, como Raleigh Rimell, que desapareceu na última viagem."
Da aventura do próprio Grann nessa história, restou a convicção de que novas pesquisas arqueológicas estão de fato provando a antiga tese de Fawcett, de que ainda há civilizações pré-colombianas a serem reveladas, e que há uma coerência para as histórias e lendas que os índios narram.
"As histórias orais que os índios contaram para mim tinham uma enorme consistência com aquelas contadas desde os anos 20. E o que falaram sobre Fawcett revelava detalhes confiáveis sobre a expedição final, que conhecia apenas porque tinha lido as últimas cartas de Fawcett para sua mulher."
Entre as suas boas surpresas, Grann cita seu encontro com os índios kuikuro e as revelações que ouviu do arqueólogo Michael Heckenberger.
Segundo Grann, os kuikuro "mostraram as extraordinárias ruínas de uma civilização no exato local em que Fawcett estava procurando Z". Para ele, "não existe uma cidade dourada e resplandecente que alguns conquistadores imaginaram".
Mas, nos últimos anos, arqueólogos "acharam provas de ruínas antigas". E o destino de Fawcett? "Acho que provavelmente foi morto pelos índios."


Z - A CIDADE PERDIDA

Autor: David Grann
Tradução: Claudio Carina
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 49 (424 págs.)




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