São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2010

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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA

Bellocchio apresenta filme com pequenas histórias familiares

Com participação de seus filhos, diretor faz "laboratório de experiências" em "Sorelle Mai"

Trabalho do italiano, apresentado fora de competição anteontem, reúne seis episódios feitos durante seis anos

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

Como os motivos de uma sinfonia, os traços físicos e um certo senso de humor se deixam adivinhar, à medida que se repetem, em cada uma das cenas "Sorelle Mai".
O novo trabalho de Marco Bellocchio, o grande nome do cinema italiano hoje em atividade, nos oferece uma estranha sensação de familiaridade.
Conforme o filme se de senrola, vamos nos sentindo próximos de Bellocchio, de seus filhos e irmãs, do fazer cinematográfico e das pequenas histórias que só nos parecem grandes quando são nossas.
Bellocchio, que contara as grandes histórias em "Bom Dia, Noite" (2003) e "Vincere" (2009), resolveu, desta vez, ficar em casa, em família. O trabalho apresentado em Veneza, fora de competição, nasceu de um "laboratório de experiências".
O filme é a soma de seis episódios que o diretor filmou, no decorrer de seis anos, com seis diferentes grupos de alunos de um curso de cinema.
À frente da câmera, vivendo as próprias histórias ou aquelas inventadas, estão seus filhos Pier Giorgio e Elena, suas irmãs Letizia e Maria Luísa e mais alguns amigos e atores próximos.
O perfil de Pier Giorgio, idêntico ao do pai, a risada inocente e provocadora de Elena e o inexplicável "ar de família" ressaltam, em "Sorelle Mai", o aspecto de trabalho pessoal.
Mas, artista maduro que é, Bellocchio soube escapar de toda e qualquer armadilha que a volta à cidade natal, Bobbio, e o entorno afetivo pudessem armar.
"Quando comecei a filmar essas histórias, não sabia que iria transformá-las num longa-metragem", disse o diretor, em conversa com a imprensa, em Veneza.

LEVEZA E SIMPLICIDADE
Sabia, porém, duas coisas: "Trabalhar num estilo leve e filmar algumas cenas de maneira simples não podia significar superficialidade. Além disso, o afeto não podia ser tratado com aquela nostalgia patética".
E é assim a emoção provocada por "Sorelle Mai". "Falo das coisas que deixamos para trás e daquelas que permanecem conosco", define o cineasta, que sabe não serem necessariamente boas aquelas que permanecem.
"Só consigo me lembrar das coisas ruins", afirma o personagem de Pier Giorgio, ao voltar para Bobbio, cidade de onde as tias solteiras nunca saíram. Segundo Bellocchio, suas irmãs representam, no filme, o seu verdadeiro destino.


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