|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA
Bellocchio apresenta filme com pequenas histórias familiares
Com participação de seus filhos, diretor faz "laboratório de experiências" em "Sorelle Mai"
Trabalho do italiano, apresentado fora de competição anteontem, reúne seis episódios feitos durante seis anos
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA
Como os motivos de uma
sinfonia, os traços físicos e
um certo senso de humor se
deixam adivinhar, à medida
que se repetem, em cada
uma das cenas "Sorelle Mai".
O novo trabalho de Marco
Bellocchio, o grande nome
do cinema italiano hoje em
atividade, nos oferece uma
estranha sensação de familiaridade.
Conforme o filme se de
senrola, vamos nos sentindo
próximos de Bellocchio, de
seus filhos e irmãs, do fazer
cinematográfico e das pequenas histórias que só nos
parecem grandes quando
são nossas.
Bellocchio, que contara as
grandes histórias em "Bom
Dia, Noite" (2003) e "Vincere" (2009), resolveu, desta
vez, ficar em casa, em família. O trabalho apresentado
em Veneza, fora de competição, nasceu de um "laboratório de experiências".
O filme é a soma de seis
episódios que o diretor filmou, no decorrer de seis
anos, com seis diferentes
grupos de alunos de um curso de cinema.
À frente da câmera, vivendo as próprias histórias ou
aquelas inventadas, estão
seus filhos Pier Giorgio e Elena, suas irmãs Letizia e Maria
Luísa e mais alguns amigos e
atores próximos.
O perfil de Pier Giorgio,
idêntico ao do pai, a risada
inocente e provocadora de
Elena e o inexplicável "ar de
família" ressaltam, em "Sorelle Mai", o aspecto de trabalho pessoal.
Mas, artista maduro que é,
Bellocchio soube escapar de
toda e qualquer armadilha
que a volta à cidade natal,
Bobbio, e o entorno afetivo
pudessem armar.
"Quando comecei a filmar
essas histórias, não sabia
que iria transformá-las num
longa-metragem", disse o diretor, em conversa com a imprensa, em Veneza.
LEVEZA E SIMPLICIDADE
Sabia, porém, duas coisas:
"Trabalhar num estilo leve e
filmar algumas cenas de maneira simples não podia significar superficialidade.
Além disso, o afeto não podia
ser tratado com aquela nostalgia patética".
E é assim a emoção provocada por "Sorelle Mai". "Falo
das coisas que deixamos para trás e daquelas que permanecem conosco", define o cineasta, que sabe não serem
necessariamente boas aquelas que permanecem.
"Só consigo me lembrar
das coisas ruins", afirma o
personagem de Pier Giorgio,
ao voltar para Bobbio, cidade
de onde as tias solteiras nunca saíram. Segundo Bellocchio, suas irmãs representam, no filme, o seu verdadeiro destino.
Texto Anterior: Crítica/Drama: Ozon reinventa herança melodramática Próximo Texto: Venezianas Índice | Comunicar Erros
|