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Dias mostra arte, política e ironia na Pinacoteca
Exposição reúne meia centena de trabalhos das décadas de 1960 e 70
Artista participou da exposição "Opinião 65", no MAM do Rio, antes de mudar-se para Europa, onde fez sua carreira
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Um dos mais sólidos artistas contemporâneos brasileiros, Antonio Dias mostra a
partir de amanhã, na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, meia centena de obras
realizadas nas décadas de
1960 e 1970.
São desenhos, pinturas,
vídeos e instalações de um
período em que arte e política
caminharam de braços dados. "É uma oportunidade
para ter uma visão mais ampla de trabalhos que raramente são exibidos em conjunto, mesmo porque há
poucos deles em museus brasileiros", diz o artista.
A idéia de reuni-los veio de
Hans-Michael Herzog, curador da coleção Daros, fundação suíça que possui uma seção de obras latino-americanas, com sede no Rio.
Juntamente com a curadora Katrin Steffen, Herzog organizou a exposição, inaugurada em Zurich, em setembro do ano passado, com o título "Anywhere Is My Land"
-o mesmo de uma pintura
do artista realizada em 1968.
Nascido em Campina Grande, Paraíba, em 1944, Dias
participou das experimentações estéticas da década de
60. Foi um dos artistas presentes na lendária "Opinião
65", mostra realizada no Museu de Arte Moderna do Rio,
que marcou uma data na arte
contemporânea do país.
Organizada pelo galerista
Jean Boghici e pela jornalista
e marchand Ceres Franco, a
exposição reuniu brasileiros
e europeus -e terminou uma
referência da versão nacional da "nova figuração", com
nomes como Carlos Vergara,
Rubens Gerchman e Roberto
Magalhães.
Dois trabalhos que participaram da "Opinião 65" poderão ser vistos na Pinacoteca
-"Acidente no Jogo" (1964) e
"Nota Sobre a Morte Imprevista" (1965).
Para Dias, as obras daquele período preservam uma
certa "naievety" -"uma inocência de quem ainda não sabia dos jogos de mercado e
coisas assim".
São trabalhos marcadamente gráficos, que refletem
situações pessoais, eróticas,
críticas -e discutem temas
artísticos da época, como a
idéia de "sair do quadro".
Um ano depois da mostra
do MAM carioca, Dias trocou
o Brasil por Paris, ponto inicial de uma trajetória que se
desenvolveu, desde então,
em países europeus, notadamente Itália e Alemanha.
A mudança de lugar refletiu-se na obra. Ao visitante
da Pinacoteca não escapará a
passagem. As cores fortes e
as figuras desaparecem, dando lugar à palavra, com influência da poesia visual e
concreta, e a um novo tipo de
padrão gráfico.
"Houve naquele momento
a perda da ingenuidade e do
romantismo", avalia Dias,
que vê nas suas criações da
década de 70, das quais fazem parte a série "The Illustration of Art", uma atitude
mais cética e irônica.
E é com uma ponta de ironia que ele se refere à "arte
política" que se anuncia como um dos traços da próxima
Bienal Internacional de São
Paulo: "Se tiver um pouco de
arte já será muito bom; e se
não tiver política, não vai fazer falta nenhuma".
ANTONIO DIAS
ONDE Pinacoteca (pça. da Luz, 2;
tel 0/xx/11/3324-1000)
QUANDO de 11/9 a 7/11
QUANTO R$ 6
CLASSIFICAÇÃO não informada
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