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IMPÉRIO DOS SENTIDOS
CCBB-SP abre na quarta "Erotica", que reúne desde obras de artistas do século 19 até contemporâneos
Exposição examina camadas do erotismo
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
No centro do cofre, dois trabalhos de Rosângela Rennó, da série
"Afinidades Eletivas", marcam o
percurso que a exposição "Erotica" pretende abordar. Nos trabalhos, dois casais heterossexuais
têm seus papéis sexuais alterados,
conforme se olha para as imagens. Irônica, a obra trata não só
de desejos e fantasias mas também de condicionamentos sociais. A arte, aí, busca questionar
tais limites.
"Erotica", emprestada do termo
inglês, e por isso sem acento, significa uma reunião de imagens
eróticas. A mostra que será inaugurada na próxima quarta no
Centro Cultural Banco do Brasil,
em São Paulo, aborda várias leituras que artistas fizeram do erotismo, do século 19 até o presente,
com curadoria de Tadeu Chiarelli.
"Como sou historiador da arte,
uso como ponto de partida o surrealismo, que foi o movimento
que mais tratou da sexualidade. A
partir daí, aplico uma visão alargada do automatismo psíquico
usado pelos surrealistas, trato do
interesse pelo vulgar, o pornográfico, além de explorar a beleza
convulsiva, isto é, a idéia de Bretton que vê a realidade como representação", conta Chiarelli.
Assim, ao redor do cofre, no
subsolo do CCBB, Chiarelli apresenta uma série de trabalhos que
tratam de relações sexuais, em
suas várias possibilidades, heterossexual ou homossexual, tendo
como destaque o brasileiro Ismael Nery (1900-1934), ao lado de
surrealistas, como Andre Masson,
Francis Picabia e Paul Eluard.
"Sempre quis apresentar Nery
com a turma dele, ele está no mesmo nível dos surrealistas", conta
Chiarelli. Traços urgentes e orgânicos são características comuns
desses artistas, marca do automatismo surrealista.
Também nessa seção, uma série
de nomes contemporâneas ganha
espaço, do jovem artista de Goiânia Pitágoras à megastar da fotografia, Nan Goldin, presente em
apenas uma imagem. Como em
toda coletiva, certos artistas tornam-se apenas ilustração de teses,
quando sua obra em conjunto
não é exibida.
Corpo decomposto
Já no segundo andar do centro
cultural, Chiarelli apresenta "o interesse fetichista na decomposição do corpo humano", como ele
mesmo afirma, em obras que, na
maior parte dos casos, representam falos, vulvas ou nádegas, para
usar os termos politicamente corretos dos órgão genitais.
Uma licença poética é usada
nessa seção, em que o curador
apresenta objetos com caráter arqueológico e cerâmicas peruanas
pré-colombianas. Tais objetos,
possivelmente dedicados a ritos
de fertilidade, portanto sem um
caráter erótico, ganham, agora,
ares pornográficos: "Elas tinham
uma função nas tribos que eu, deliberadamente, não estou vendo",
conta o curador.
Nesse módulo, os destaques ficam por conta das fotografias de
Thomas Ruff e Hans Bellmer
-este influenciou os trabalhos
com bonecas de Cindy Sherman e
abriu caminhos para a compreensão da obra de Robert Mapplethorpe-, além das imagens de
terços que se estruturam como falos, de Márcia X.
Numa subseção do módulo,
Chiarelli apresenta obras que tratam do voyeurismo, desde o acadêmico Eliseu Visconti, até o mais
voyeuristas dos brasileiros, o fotógrafo Alair Gomes, com suas
imagens de garotos em Copacabana. Há aí ainda trabalhos de
Anita Malfatti e aquarelas recentes do norte-americano Eric
Fischl.
Finalmente, o curador dedica o
espaço no terceiro andar para o
"auto-erotismo", em fotografias
de Duane Michaels, sobre o mito
de Narciso, e em um vídeo de Tomas Glassford, beijando-se num
espelho, entre outros.
No conjunto, "Erotica", apesar
do nome, é mostra bem comportada. "Optei por lidar com o menos óbvio. O importante desses
trabalhos que estão aí, é que eles
instigam o olhar. Acho que até a
Sheila Mello está aqui, mas melhor do que nas bancas de revista", diz o curador.
Palavras e imagens
A exposição conta ainda com
dois ciclos paralelos, um de conferências e outro de filmes, sem
programação divulgada. As conferências ocorrem nos dias 18, 20
e 21 de outubro, às 19h30, e nos
dias 6, 8 e 9 de dezembro, no mesmo horário, abordando sempre
temas relacionados ao erotismo, a
começar pela arte e passando pelos temas história, civilização e
cultura brasileira, entre outros.
Como conferencistas, participam pensadores como Nicolau
Sevcenko e José Miguel Wisnik,
além do próprio curador da exposição. A entrada é gratuita mediante retirada de senha, distribuída meia hora antes do início
da palestra.
Depois de janeiro, a mostra segue para os CCBBs do Rio e de
Brasília, onde também serão elaborados ciclos de palestras. "Em
cada um desses locais, os temas
serão diferentes, para que no final
da mostra, possamos editar um livro com todas as conferências",
conta Chiarelli.
Erotica - Os Sentidos na Arte
Quando: abertura na quarta-feira, dia 12, às 15h; de ter. a dom., das 10h às 21h; até 8 de janeiro
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, centro, SP, tel. 0/ xx/11/3113-3651)
Quanto: entrada franca
Patrocínio: BB Seguros - Companhia de Seguros Aliança do Brasil
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