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"Faço as pessoas jovens", diz Dave
Ex-vocalista do Van Halen fala em português fluente, cita Belchior, declara-se fã de Carlinhos Brown e dá conselho a Axl
De fora desde 1985 da banda que o projetou, cantor segue carreira solo após atuar em TV e rádio e fazer bico em hospital de NY
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Na era de ouro do Van Halen,
que durou até meados de 1985,
Dave Lee Roth colecionou adjetivos como extravagante, circense, showman, espalhafatoso. Aos 56 anos, a voz de clássicos como "Jump" e "Panama" é
headliner do Live'n'Louder,
evento metálico deste sábado,
dia 14, na Arena Skol Anhembi,
e segue surpreendente.
"Faz bastante tempo que não
vou ao Brasil, uns 20 anos", responde o cantor, em português
fluente, à Folha. Na verdade,
são 23 anos: foi em 1983 que a
banda do exímio guitarrista
Eddie van Halen esteve no país,
em dois shows históricos.
E esse português, Dave? "Em
Pasadena [Califórnia], onde estudei, tinha uma comunidade
de portugueses, e eu tinha contato com eles", diz ele, natural
de Bloomington, Indiana.
No Exército americano, mais
português. "Dependendo do
lugar onde você queria servir,
você podia escolher entre francês, espanhol e português. Como gostava da América Latina,
escolhi português", afirma ele,
que não deverá ter problemas
para falar com os fãs nacionais
de hard rock. A não ser por certas preferências musicais.
"Sou fã de Carlinhos Brown.
Adoro a batida, o groove, é muito diferente", afirma Dave.
Desde sua saída do Van Halen, em 1985, Dave não pôde reclamar de falta do que fazer.
Carreira solo oscilante, aparições em séries de TV, anfitrião
em talk-shows de rádio e, recentemente, um bico no pronto-socorro de Nova York.
"Na minha família, um dia
você acaba usando um uniforme de médico, e eu sempre tive
o sonho de pilotar ambulâncias", afirma Dave, sem um
pingo de bom-mocismo voluntário. Para completar, o filho de
oftalmologista cita Belchior no
original: "Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos
pais". Sem errar uma sílaba.
"Trabalhava no South Bronx,
no East Brooklyn, todos esses
lugares do hip hop. Eu ia lá, às
vezes buscava uma velhinha de
90 anos para sua visita periódica ao hospital, e ninguém me
reconhecia. Era fantástico."
Na música, atualmente, Dave
promove nos Estados Unidos
"Strummin" with the Devil",
um tributo ao Van Halen em
versões bluegrass -vertente do
country dos EUA. Mas tranqüiliza os fãs brasileiros: "Vou tocar as versões originais".
Artes marciais
E o que esperar de sua performance? Aos 56 anos, dar saltos acrobáticos e cambalhotas
fica um pouco mais difícil? A
resposta de Dave vem prenhe
de seu conhecimento de artes
marciais. É sério.
"Você já viu um lutador de
kendô [mistura de luta com esgrima, que usa espadas de bambu]? Os mais jovens treinam
para dar 110 golpes por minuto.
Um mestre, porém, parece uma
árvore, já é idoso. Como é que
ele sempre vence?" Ele mesmo
responde. "Não desperdiço
movimento, mas ainda faço o
suficiente para fazer você se
sentir jovem, magro e bonito.
Minha música lembra a garota
que você beijou, o carro que
roubou, essas coisas."
O que torna Dave Lee Roth a
pessoa mais apropriada para
dar um conselho a Axl Rose,
que anuncia a volta recauchutada do Guns'n'Roses para este
ano, sem membros originais
como Slash e Duff McKagan.
"Meu conselho é: verdade
nos anúncios. Não dá para cobrar o mesmo preço de ingresso do Guns original."
É com esse mesmo desdém
que fala de revivals descarados
do hard rock, como o Darkness.
"É fácil ser bobo. Difícil é imprimir uma marca pessoal num
estilo musical, qualquer que seja ele", declara. Como duvidar?
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