São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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Coisa de Playboy

Caixa com seis livros recupera história ilustrada da revista "Playboy", com reprodução de fotografias e reportagens, além de textos e imagens inéditas com os bastidores da publicação entre 1953 e 1979

Fotos Divulgação
Foto de ensaio da "Playboy" dos anos 60, que integra caixa
com a história da revista


IVAN FINOTTI
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Em 27 de maio de 1949, Norma Jeane Baker, uma atriz de segunda com cabelos pintados de amarelo, posou nua para um calendário do fotógrafo Tom Kelley. Ela exigiu que a esposa de Kelley estivesse presente.
Três anos depois, Marilyn Monroe estampava a capa da "Time" como a nova sensação de Hollywood e, após um escândalo nacional, admitia que, sim, era ela nas paredes das borracharias da nação.
No ano seguinte, o editor Hugh Hefner republicou as fotos e começou a ficar rico. Uma dessas fotos foi o pôster central da primeira "Playboy" e Hefner é tão grato que comprou a sepultura vizinha à dela num cemitério de Los Angeles. Aos 83, pai de quatro filhos -dois do primeiro casamento (1949-1959) e dois do segundo (1989-1998)-, o criador da "Playboy" lança hoje pela editora Taschen (www.taschen.com) a história ilustrada da revista que ajudou a mudar o mundo. Curiosamente, ele nunca conheceu Marilyn (1926-1962) pessoalmente, conforme contou à Folha por telefone.

 

FOLHA - No Brasil, usamos a palavra "playboy" para nos referirmos a alguém bem nascido, com dinheiro e boa vida. Exatamente como a imagem que o senhor construiu para si. Também é assim nos EUA?
HUGH HEFNER
- Quando comecei a revista, a palavra "playboy" estava um pouco fora de moda, evocava algo dos anos 20. E também implicava um tipo de cara que se divertia muito mas não trabalhava. Tentamos redefinir a palavra como alguém que celebra a vida e acho que tivemos sucesso nisso.

FOLHA - Inicialmente estava ligada a algo como "The Great Gatsby"?
HEFNER
- Sim, o livro de Scott Fitzgerald teve um enorme impacto em mim.

FOLHA - Outra coisa que teve grande impacto no senhor foi a infidelidade de sua primeira mulher.
HEFNER
- A descoberta, logo antes do meu casamento, de que ela tinha um caso e fazia sexo, foi a experiência mais devastadora de minha vida.

FOLHA - E por culpa disso tivemos a "Playboy"?
HEFNER
- Estranho como as coisas acontecem. Difícil imaginar como a vida seria se isso não tivesse acontecido, um casamento feliz por todos esses anos. Mas, do meu ponto de vista, o que aconteceu acabou sendo melhor para mim.

FOLHA - Uma lenda diz que a primeira edição, de 1953, foi lançada com um investimento inicial de US$ 600 dólares.
HEFNER
- Esses US$ 600 vieram na forma de um empréstimo, em que penhorei os móveis de casa como garantia. Além disso, meus parentes e amigos me ajudaram com o que podiam. O investimento total do primeiro número foi de US$ 8.000.

FOLHA - E quanto às fotos de Marilyn Monroe, não eram caras?
HEFNER
- Em 1953, fui conversar com meu pai para ver se ele me emprestaria algo, mas ele, além de conservador, era contador e recusou-se. Minha mãe me chamou de lado e disse que tinha um dinheiro dela. Ela fez um cheque de US$ 1.000.

FOLHA - Que compreensiva!
HEFNER
- Sim. E foi com esse dinheiro que comprei os direitos da foto do pôster de Marilyn Monroe. Essa foto custou-me US$ 500. Foi um grande dia.

FOLHA - É verdade que comprou uma sepultura ao lado da dela?
HEFNER
- Sim, comprei há uns dez ou 12 anos. É num cemitério próximo à mansão Playboy, em Los Angeles. Muitos amigos queridos estão enterrados lá.

FOLHA - E o senhor a namorou?
HEFNER
- Na verdade, não. Nunca a conheci pessoalmente. A "Playboy" começou em Chicago e, quando me mudei para Los Angeles, ela tinha morrido.

FOLHA - O senhor diria que a "Playboy" exerceu que papel na revolução sexual dos anos 60?
HEFNER
- Acho que desempenhou um papel de enorme importância na mudança de alguns valores da sociedade americana. A revista começou em 1953 e essa foi uma década muito conservadora nos Estados Unidos, social, sexual e politicamente falando. "Playboy" caminhava em outro ritmo e se destacou porque trazia apelo aos mais jovens.

FOLHA - Em 1974, o senhor mudou de Chicago para Los Angeles. Isso afetou a revista?
HEFNER
- Nos anos 50 e 60 eu era "workaholic". Em 1966, fui para Londres para a abertura do cassino Playboy. A minissaia tinha acabado de chegar e eu vi o futuro. Voei de volta para Chicago, parei de trabalhar tanto e passei a viver a vida.

FOLHA - Culpa da minissaia?
HEFNER
- Sim, passei a me cuidar melhor, renovei meu armário e comprei o Coelhão, o DC-9 [avião de US$ 9 milhões com o logotipo da revista].

FOLHA - A caixa de livros vai de 1953 a 1979, os primeiros 26 anos da revista. Devemos entender que são os melhores anos da "Playboy"?
HEFNER
- Certamente são os anos em que teve mais impacto. E também os anos de maior sucesso em termos financeiros. Depois houve um retrocesso... A segunda metade dos anos 60 foi quando a revolução sexual realmente aconteceu. Os 70 foram anos de celebração e excesso. Depois houve um movimento conservador, começando nos anos 80, que teve impacto em, toda a sociedade e, significativamente, na "Playboy".

FOLHA - Houve a Aids.
HEFNER
- Sim. E Ronald Reagan foi eleito presidente. Ele estabeleceu no departamento de Justiça uma comissão que atacou revistas com nudez ou conteúdo sexual. Em decorrência disso, perdemos nossas licenças de cassino na Inglaterra e em Atlantic City, que eram uma enorme fonte de rendimento.

FOLHA - Tendo algumas das mulheres mais bonitas do mundo à sua disposição, o sexo fica chato em algum momento?
HEFNER
- Não, não mesmo.

FOLHA - E o senhor já fez sexo com uma mulher feia?
HEFNER
- Acho que sim...

FOLHA - E foi bom?
HEFNER
- Eu não me lembro (risos). No último meio século, todas elas eram lindas.


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