São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2000

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CRÍTICA
Detetive vira justiceiro em versão maniqueísta

TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quentin Tarantino continua lançando moda. "Jackie Brown" pode não ter estourado nas bilheterias, mas foi responsável pelo revival dos chamados filmes "blaxploitation", gênero dos anos 70 que deu origem a Shaft, o personagem-fetiche do policial negro bom de briga e bom de cama criado por Ernest Tidyman.
Mas, se Shaft está de volta, não é por puro modismo. Ele chega para preencher a lacuna do justiceiro negro de um país cujo Judiciário privilegia brancos e ricos.
Samuel L. Jackson, sempre cool, mas imprevisível, é o Shaft de uma América em que negros conquistaram mais espaço. Mais respeitado porque é mais violento.
É a América de John Singleton. Aqui, ele não se poupa de maniqueísmos: há um branco racista e assassino (Christian Bale, o eterno "Psicopata Americano") e há uma simpática vítima negra. Há um policial negro com olhos de lince, ginga "funky" e senso de justiça, Shaft, e um delegado branco e azedo que quer derrubá-lo. Há um juiz branco condescendente com um criminoso rico de sua cor e uma comunidade negra nem tão condescendente com os de sua cor. Depois, surge um momento em que todos se misturam, mas só para formar uma nova ordem ainda mais maniqueísta: o mal são os criminosos brancos ou negros e os policiais corruptos (ao matar dois deles, Shaft grita: "Estamos na era de Giuliani", referindo-se ao prefeito nova-iorquino que "limpou" a cidade), e o bem são os bons policiais e cidadãos.
Mas continua a haver a lei da comunidade por aqui. E ela permite, em "Shaft", a justiça pelas próprias mãos, tal como nos piores filmes racistas.


Shaft
Shaft
   Direção: John Singleton Produção: EUA, 2000 Com: Samuel L. Jackson, Vanessa Williams, Jeffrey Wright, Christian Bale Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Ipiranga e circuito




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