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CRÍTICA
Detetive vira justiceiro em versão maniqueísta
TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quentin Tarantino continua
lançando moda. "Jackie
Brown" pode não ter estourado
nas bilheterias, mas foi responsável pelo revival dos chamados filmes "blaxploitation", gênero dos
anos 70 que deu origem a Shaft, o
personagem-fetiche do policial
negro bom de briga e bom de cama criado por Ernest Tidyman.
Mas, se Shaft está de volta, não é
por puro modismo. Ele chega para preencher a lacuna do justiceiro negro de um país cujo Judiciário privilegia brancos e ricos.
Samuel L. Jackson, sempre cool,
mas imprevisível, é o Shaft de
uma América em que negros conquistaram mais espaço. Mais respeitado porque é mais violento.
É a América de John Singleton.
Aqui, ele não se poupa de maniqueísmos: há um branco racista e
assassino (Christian Bale, o eterno "Psicopata Americano") e há
uma simpática vítima negra. Há
um policial negro com olhos de
lince, ginga "funky" e senso de
justiça, Shaft, e um delegado
branco e azedo que quer derrubá-lo. Há um juiz branco condescendente com um criminoso rico de
sua cor e uma comunidade negra
nem tão condescendente com os
de sua cor. Depois, surge um momento em que todos se misturam,
mas só para formar uma nova ordem ainda mais maniqueísta: o
mal são os criminosos brancos ou
negros e os policiais corruptos (ao
matar dois deles, Shaft grita: "Estamos na era de Giuliani", referindo-se ao prefeito nova-iorquino
que "limpou" a cidade), e o bem
são os bons policiais e cidadãos.
Mas continua a haver a lei da comunidade por aqui. E ela permite,
em "Shaft", a justiça pelas próprias mãos, tal como nos piores
filmes racistas.
Shaft
Shaft
Direção: John Singleton
Produção: EUA, 2000
Com: Samuel L. Jackson, Vanessa
Williams, Jeffrey Wright, Christian Bale
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Ipiranga e circuito
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