São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2000

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CINEMA/ESTRÉIAS
"TOLERÂNCIA"
Carlos Gerbase dirigiu e escreveu o drama de um casal liberal em crise que estréia nas regiões Sul e Sudeste
Diretor quer discutir noção de verdade

FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Escrita em 1995 pelo gaúcho Carlos Gerbase, a história do filme "Tolerância", que estréia hoje em salas das regiões Sul e Sudeste do país, sofreu alterações de roteiro até a sua finalização, em 1999.
Entraram no conto de Gerbase, 41 -que também é o diretor do filme-, Jorge Furtado, Giba Assis Brasil e Álvaro Teixeira, alguns dos sócios da Casa de Cinema de Porto Alegre, fundada em 1998.
"De 95 a 98, ficamos atrás de recursos e, nesse meio tempo, eu e o grupo aproveitamos para melhorar o roteiro, que manteve o tema original", disse Gerbase.
"Tolerância" conta a vida de um casal que confronta suas teorias sobre sexo e política com a realidade. Os personagens principais são Júlio, 40 -interpretado por Roberto Bomtempo-, editor de fotografia de uma revista masculina, e Márcia, 38 -Maitê Proença-, uma advogada criminalista.
Eles, que têm uma filha adolescente, Guida (Ana Maria Mainieri), pretendiam ter uma vida diferente da dos pais. O projeto incluía relações extraconjugais, desde que fossem reveladas.
O mundo desaba quando Márcia revela que teve um caso com Teodoro (Nelson Diniz), um cliente acusado de assassinato.
Júlio, por sua vez, conhece Anamaria (Maria Ribeiro), amiga da filha, com quem passa a manter uma relação amorosa. Ao contrário de Márcia, esconde o relacionamento.
É do desequilíbrio que se alimenta a história de ação e erotismo. Na trama, há ainda crimes e traições. Ao custo de R$ 2 milhões, "Tolerância" participou da 24ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para Gerbase, o filme discute "a noção de verdade". A seguir, trechos da entrevista com o diretor.

Folha - "Tolerância" é um filme erótico, policial ou político?
Carlos Gerbase -
Diretamente, não tem nada de política. Mistura vários temas, mas o que quer discutir é a noção de verdade entre duas pessoas que se amam. O Júlio não consegue contar a sua traição e tudo passa a dar errado.

Folha - Da primeira versão, escrita por você, até a última, onde foram agregados Jorge Furtado, Álvaro Teixeira e Giba Assis Brasil, mudou muita coisa?
Gerbase -
O tema é o mesmo, a história de um casal que teoricamente era livre, mas se confronta com a realidade. A primeira versão era mais intimista. Com os outros três roteiristas, virou um filme mais agitado, com mais ação. Acho que isso é o reflexo desse trabalho coletivo.

Folha - O filme tem algo de autobiográfico?
Gerbase -
Nada. Sou casado há 19 anos, tenho três filhas. Mas "Tolerância" é uma história comum de casais da minha geração. Tentar criar uma família diferente, livre, implica ter uma relação social e sexual diferenciada. No filme, a festa, o sonho, acaba em nome da família e tudo continua como antes, como os nossos pais.

Folha - O que isso significa?
Gerbase -
No filme, significa que Júlio e Márcia terminam juntos, mas nem um pouco felizes. Eles, que eram tão felizes, que tinham uma vida sexual criativa, acabam tolerantes e tolerados.

Folha - Aliás, você usa a música "Como os Nossos Pais", de Belchior, na voz de Nei Lisboa.
Gerbase -
Exatamente. Ela amarra tudo. As pessoas formaram uma família e, em função dela, acontecem coisas terríveis.

Folha - Quanto tempo demoraram as filmagens?
Gerbase -
Sete semanas. Antes, fizemos duas semanas de ensaios. Não dá para improvisar no set. Eu dividi meu tempo de uma maneira diferente, 70% com os atores e 30% com a câmera.


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