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CINEMA/ESTRÉIAS
"TOLERÂNCIA"
Carlos Gerbase dirigiu e escreveu o drama de um casal liberal em crise que estréia nas regiões Sul e Sudeste
Diretor quer discutir noção de verdade
FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL
Escrita em 1995 pelo gaúcho
Carlos Gerbase, a história do filme
"Tolerância", que estréia hoje em
salas das regiões Sul e Sudeste do
país, sofreu alterações de roteiro
até a sua finalização, em 1999.
Entraram no conto de Gerbase,
41 -que também é o diretor do
filme-, Jorge Furtado, Giba Assis Brasil e Álvaro Teixeira, alguns
dos sócios da Casa de Cinema de
Porto Alegre, fundada em 1998.
"De 95 a 98, ficamos atrás de recursos e, nesse meio tempo, eu e o
grupo aproveitamos para melhorar o roteiro, que manteve o tema
original", disse Gerbase.
"Tolerância" conta a vida de um
casal que confronta suas teorias
sobre sexo e política com a realidade. Os personagens principais
são Júlio, 40 -interpretado por
Roberto Bomtempo-, editor de
fotografia de uma revista masculina, e Márcia, 38 -Maitê Proença-, uma advogada criminalista.
Eles, que têm uma filha adolescente, Guida (Ana Maria Mainieri), pretendiam ter uma vida diferente da dos pais. O projeto incluía relações extraconjugais, desde que fossem reveladas.
O mundo desaba quando Márcia revela que teve um caso com
Teodoro (Nelson Diniz), um
cliente acusado de assassinato.
Júlio, por sua vez, conhece Anamaria (Maria Ribeiro), amiga da
filha, com quem passa a manter
uma relação amorosa. Ao contrário de Márcia, esconde o relacionamento.
É do desequilíbrio que se alimenta a história de ação e erotismo. Na trama, há ainda crimes e
traições. Ao custo de R$ 2 milhões, "Tolerância" participou da
24ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para Gerbase, o
filme discute "a noção de verdade". A seguir, trechos da entrevista com o diretor.
Folha - "Tolerância" é um filme
erótico, policial ou político?
Carlos Gerbase - Diretamente,
não tem nada de política. Mistura
vários temas, mas o que quer discutir é a noção de verdade entre
duas pessoas que se amam. O Júlio não consegue contar a sua traição e tudo passa a dar errado.
Folha - Da primeira versão, escrita por você, até a última, onde foram agregados Jorge Furtado, Álvaro Teixeira e Giba Assis Brasil,
mudou muita coisa?
Gerbase - O tema é o mesmo, a
história de um casal que teoricamente era livre, mas se confronta
com a realidade. A primeira versão era mais intimista. Com os
outros três roteiristas, virou um
filme mais agitado, com mais
ação. Acho que isso é o reflexo
desse trabalho coletivo.
Folha - O filme tem algo de autobiográfico?
Gerbase - Nada. Sou casado há
19 anos, tenho três filhas. Mas
"Tolerância" é uma história comum de casais da minha geração.
Tentar criar uma família diferente, livre, implica ter uma relação
social e sexual diferenciada. No
filme, a festa, o sonho, acaba em
nome da família e tudo continua
como antes, como os nossos pais.
Folha - O que isso significa?
Gerbase - No filme, significa que
Júlio e Márcia terminam juntos,
mas nem um pouco felizes. Eles,
que eram tão felizes, que tinham
uma vida sexual criativa, acabam
tolerantes e tolerados.
Folha - Aliás, você usa a música
"Como os Nossos Pais", de Belchior, na voz de Nei Lisboa.
Gerbase - Exatamente. Ela amarra tudo. As pessoas formaram
uma família e, em função dela,
acontecem coisas terríveis.
Folha - Quanto tempo demoraram as filmagens?
Gerbase - Sete semanas. Antes,
fizemos duas semanas de ensaios.
Não dá para improvisar no set. Eu
dividi meu tempo de uma maneira diferente, 70% com os atores e
30% com a câmera.
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