|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
São Paulo comercializa, Rio de Janeiro oferece arte pop
DA REPORTAGEM LOCAL
Tradicional reduto vanguardista, São Paulo inverte
os sinais neste momento em que
os conceitos de gravadora e Internet começam a se interpenetrar
para variar sem participação ativa
dos dinossauros da indústria.
A iniciativa paulista do Estilingue se divide em dois pesos, duas
medidas: por um lado, o banco de
dados de novos artistas que aí se
está criando é valioso e preenche
mais um dos inúmeros vácuos
que as grandes gravadoras tinham a obrigação de não deixar
existir. É iniciativa fundamental,
já passava da hora.
No segundo prato da balança,
estão as bandas paulistanas Raskafari e Mada Foca, as primeiras
bandas bancadas pelo selo Estilingue. A aposta é, exclusivamente,
no imediatamente vendável.
Pela amostra até agora oferecida, as duas bandas seguem a cartilha de clonar grupos de comunicação imediata como Raimundos, naquela fórmula rock + hormônios adolescentes + piadinhas.
Em pique outro, mas equivalente, a cantora pop-romântica-dançante Cidália Castro começa diluindo a obscura "Lábios de Mel"
(79), do repertório de Tim Maia,
com resultados ainda indefinidos.
Do outro lado da ponte aérea, a
Net Records investe em novos nomes qualificados pela proposta de
adicionar novos elementos ao
puído tecido da MPB.
Primeiro, há o já conhecido
Karnak, que ainda procura em
"Estamos Adorando Tokio"
equacionar as referências de pop
nacional e world music. Nota curiosa fica por conta da regravação
de "Nuvem Passageira", do brega-pop dos 70 Hermes Aquino.
Vulgue Tostoi se destaca dentro
de um formato de rock'n'roll contaminado por interferências
aprendidas na cultura eletrônica,
obtendo efeitos como "vocodizar" e desconstruir "Vapor Barato" (71), do repertório clássico de
Gal Costa, ou acelerar os beats da
balada climática "Deleta".
A dupla paulista Autoload se
destaca elaborando caldeira antropofágica de citação a Tom Zé e
Belchior, crítica à axé music ("você pensa que sou menos brasileiro/ porque odeio ouvir axé o ano
inteiro?") e fusão de dicções do
rap e do drum'n'bass. O resultado
é original, no mínimo.
A carioca Katia B, por sua vez,
contribui com seu consistente álbum lançado no ano passado, de
MPB de voz cândida e produção
eletronizada, que contou com a
presença do produtor iugoslavo-brasileiro Suba (1961-99). Katia
faz show único hoje, às 20h, em
São Paulo, no Sesc Vila Mariana.
Juntos, Katia, Vulgue e Autoload conformam contribuições
efetivas e promissoras ao prosseguimento do pop brasileiro como
algo além do mero mercado. Alô,
gravadoras-dinossauros, tchau e
boa-noite.
(PAS)
Texto Anterior: Alguns sites de MPB Próximo Texto: Comitiva do Guggenheim visita o Rio Índice
|