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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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"O ROCOCÓ RELIGIOSO NO BRASIL E SEUS ANTECEDENTES EUROPEUS"

Autora busca dinâmica particular do estilo no país

TIAGO MESQUITA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O livro "O Rococó Religioso no Brasil e seus Antecedentes Europeus", da historiadora Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, expressa a necessidade de refazer constantemente as definições conceituais em torno da arte colonial no país. Trabalhando com muita finura no desenvolvimento do rococó no país, a autora tenta buscar a dinâmica particular desse estilo no país.
Desvincula esse desenvolvimento plástico de definições mais abrangentes, como o "barroco mineiro", e acha a especificidade da arte colonial brasileira em relação com o rococó religioso no mundo. Portanto, trata-se de entender o curto capítulo do rococó no Brasil como uma contribuição à teoria internacional desse estilo.
A autonomização recente do rococó como objeto de estudo exige esforço. A historiadora trata da faceta sacra do rococó. Ele surge laico, na França, entre o século 17 e 18. Por ser um estilo pouco dogmático, adapta seu sentido mais secular e decorativo, de acréscimo de sofisticação do gosto da aristocracia à vida religiosa, se expandindo por uma área considerável.
A autora interessa-se por esses itinerários desse estilo maleável. Sua sacralização converte as formas de prazer e comodidade do primeiro rococó civil francês em um modo de amainar a recusa ao mundo da contra-reforma.
Quando o estilo aporta na América do Sul, chega sacralizado. Vem às colônias portuguesas que formariam o Brasil por meio de gravuras de imagens alemãs ou francesas e da experiência dos mestres de obras portugueses. Representa também o fluxo constante de continuidade entre a arquitetura de Portugal e do Brasil.
No entanto, o rococó desembarca aqui em um ambiente dominado pela religiosidade arraigada do barroco, privilegiando certa dramaticidade. A presença de leigos na construção de igrejas, patrocinada por irmandades religiosas ou até mesmo por construtores particulares, beneficiou a entrada desse tipo de obra.
Dessa forma o rococó acabava por significar certo "aggiornamento" da cultura brasileira, inclusive numa certa disputa entre as irmandades. No entanto, a interpretação, ao enfocar a maleabilidade do estilo, revela um aspecto mais amplo de sua penetração e sua diferenciação no Brasil.
Somente um estilo pouco ortodoxo propiciava a articulação de certo gosto nascido na metrópole com uma religiosidade distinta do que era preponderante nas sociedades com um maior grau de vida civil, bem como a articulação de técnicas tão distintas. Como frisa a autora, por ser um estilo eminentemente decorativo, o rococó propiciava o vínculo entre diferentes instâncias da produção.
Essa liberdade de incorporação de diferentes tipologias arquitetônicas, de materiais locais e de se adaptar a diferentes exigências, dará diversidade ao estilo no Brasil. O desenvolvimento particular do rococó por aqui não seria fruto de um acúmulo local, mas por uma certa capacidade de adaptação do estilo. Que possibilitaria a incorporação de técnicas e desenvolvimentos regionalizados. A regionalização, para Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, aparece como mais um capítulo da expansão internacional do rococó.


O Rococó Religioso no Brasil
    
Autora: Myriam A. Ribeiro de Oliveira
Editora: Cosac & Naify
Preço: R$ 76 (552 págs.)



Tiago Mesquita é crítico de arte


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