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"O ROCOCÓ RELIGIOSO NO BRASIL E SEUS ANTECEDENTES EUROPEUS"
Autora busca dinâmica particular do estilo no país
TIAGO MESQUITA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O livro "O Rococó Religioso
no Brasil e seus Antecedentes Europeus", da historiadora
Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, expressa a necessidade de
refazer constantemente as definições conceituais em torno da arte
colonial no país. Trabalhando
com muita finura no desenvolvimento do rococó no país, a autora
tenta buscar a dinâmica particular desse estilo no país.
Desvincula esse desenvolvimento plástico de definições mais
abrangentes, como o "barroco
mineiro", e acha a especificidade
da arte colonial brasileira em relação com o rococó religioso no
mundo. Portanto, trata-se de entender o curto capítulo do rococó
no Brasil como uma contribuição
à teoria internacional desse estilo.
A autonomização recente do rococó como objeto de estudo exige
esforço. A historiadora trata da faceta sacra do rococó. Ele surge laico, na França, entre o século 17 e
18. Por ser um estilo pouco dogmático, adapta seu sentido mais
secular e decorativo, de acréscimo
de sofisticação do gosto da aristocracia à vida religiosa, se expandindo por uma área considerável.
A autora interessa-se por esses
itinerários desse estilo maleável.
Sua sacralização converte as formas de prazer e comodidade do
primeiro rococó civil francês em
um modo de amainar a recusa ao
mundo da contra-reforma.
Quando o estilo aporta na América do Sul, chega sacralizado.
Vem às colônias portuguesas que
formariam o Brasil por meio de
gravuras de imagens alemãs ou
francesas e da experiência dos
mestres de obras portugueses. Representa também o fluxo constante de continuidade entre a arquitetura de Portugal e do Brasil.
No entanto, o rococó desembarca aqui em um ambiente dominado pela religiosidade arraigada do barroco, privilegiando
certa dramaticidade. A presença
de leigos na construção de igrejas,
patrocinada por irmandades religiosas ou até mesmo por construtores particulares, beneficiou a
entrada desse tipo de obra.
Dessa forma o rococó acabava
por significar certo "aggiornamento" da cultura brasileira, inclusive numa certa disputa entre
as irmandades. No entanto, a interpretação, ao enfocar a maleabilidade do estilo, revela um aspecto
mais amplo de sua penetração e
sua diferenciação no Brasil.
Somente um estilo pouco ortodoxo propiciava a articulação de
certo gosto nascido na metrópole
com uma religiosidade distinta do
que era preponderante nas sociedades com um maior grau de vida
civil, bem como a articulação de
técnicas tão distintas. Como frisa
a autora, por ser um estilo eminentemente decorativo, o rococó
propiciava o vínculo entre diferentes instâncias da produção.
Essa liberdade de incorporação
de diferentes tipologias arquitetônicas, de materiais locais e de se
adaptar a diferentes exigências,
dará diversidade ao estilo no Brasil. O desenvolvimento particular
do rococó por aqui não seria fruto
de um acúmulo local, mas por
uma certa capacidade de adaptação do estilo. Que possibilitaria a
incorporação de técnicas e desenvolvimentos regionalizados. A regionalização, para Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, aparece
como mais um capítulo da expansão internacional do rococó.
O Rococó Religioso no Brasil
Autora: Myriam A. Ribeiro de Oliveira
Editora: Cosac & Naify
Preço: R$ 76 (552 págs.)
Tiago Mesquita é crítico de arte
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