São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição "O Olhar Modernista de JK" abre amanhã ao público no Palácio Itamaraty, em Brasília

Mostra exibe Tarsila rara e obra polêmica de Candido Portinari

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A abertura da exposição "O Olhar Modernista de JK" em Brasília marca um encontro histórico com uma irmã 60 anos mais velha. A mostra, que abre hoje para convidados e amanhã ao público no Palácio Itamaraty, é uma remontagem da 1ª Exposição de Arte Moderna, realizada em Belo Horizonte em 1944 a partir do ideal do então prefeito Juscelino Kubitschek e que levou à cidade artistas como Candido Portinari, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Iberê Camargo.
A exposição de 1944 foi um dos três marcos da modernidade brasileira -de representatividade artística, polêmica e tamanho comparáveis à Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, e ao Salão Revolucionário de 1932, no Rio de Janeiro.
O evento de 1944, além das obras e artistas, levou a Minas Gerais escritores, músicos e pensadores afinados com o modernismo. O esforço de Kubitschek em promover a arte era também o de mostrar sua mais recente obra, a Pampulha, aos artistas.
Sob a curadoria de Alberto da Veiga Guignard, que se mudara havia pouco para Belo Horizonte, a exposição levou à capital mineira os nomes que esculpiram a arte moderna brasileira e aqueles que iriam iniciar o movimento artístico contemporâneo.
Passados 60 anos, a exposição ganha uma remontagem de estatura semelhante. A curadora, Denise Mattar, dividiu a mostra em quatro módulos.

O "Galo"
Em sua primeira parte, a remontagem traz 80 obras dos 46 artistas que participaram da exposição original. Pelo menos 40 quadros são os mesmos apresentados em Belo Horizonte. Entre eles, o polêmico "Galo", de Portinari -que dividiu opiniões e causou repúdio por trazer o animal em uma posição irreal- e "Terra", obra de Tarsila que não é exposta desde 1944.
O módulo apresenta os primeiros modernistas, como Di Cavalcanti, Mafaltti e Lasar Segall, os núcleos do segundo modernismo, que trazem a arte para o cotidiano, como o grupo Santa Helena de Alfredo Volpi, os precursores do movimento contemporâneo, como Carlos Scliar, e gravuras de nomes como Poti Lazzarotto e Iberê Camargo.
Essa ala revela ainda raridades, como "Os Mendigos", de Santa Rosa. O quadro foi uma das oito obras cortadas com gilete durante a exposição que tomou o edifício Mariana, no centro da cidade. O ataque foi uma demonstração da contrariedade causada pela exposição modernista.
"Os Mendigos", única obra cortada que não desapareceu, foi recuperada -e ainda ostenta a marca da gilete- e mantida pela família de JK, a quem o quadro havia sido presenteado antes da exposição.

Homenagem
O amor de JK às artes é o tema do segundo módulo da exposição. "JK e as Artes" conta a contribuição artística do Kubitschek político, desde a prefeitura até a Presidência da República, passando pelo governo de Minas Gerais.
São fotos de JK com celebridades como Kim Novak, Marlene Dietrich, Louis Armstrong, Marlon Brando e Jean-Paul Sartre ou com personalidades do mundo das artes do Brasil, como Yolanda Penteado. O módulo termina com fotos das obras arquitetônicas modernistas de JK e Oscar Niemeyer: Pampulha e Brasília.
A ala seguinte da exposição é, ao mesmo tempo, uma homenagem e uma revelação. Na sala Martha Loutsch estão expostas 35 obras da artista alemã radicada no Brasil na segunda metade da década de 30. Loutsch foi a única artista residente em Minas Gerais a expor na mostra de 1944.
Por último, "O Olhar Modernista de JK" relembra o otimismo da época com uma exposição de anúncios publicitários e adereços dos anos 40 e 50. De sabonetes a aspiradores de pó, os recortes deixam transparecer a atitude positiva de uma sociedade que se percebia moderna e também em franca expansão.


O OLHAR MODERNISTA DE JK. Onde: Palácio Itamaraty (Esplanada dos Ministérios, em Brasília). Quando: abertura hoje, a partir das 19h; de segunda a sexta, das 14h às 16h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 15h30; até 12/12. Quanto: entrada franca.


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