SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Dois atores, dois cenários, 80 minutos cravados da imagem inicial ao fim dos créditos. "Incuráveis", primeiro longa-metragem dirigido por Gustavo Acioli, elege a concisão como força motriz de um exercício em torno de personagens cujas identidades permanecem o tempo todo envoltas em brumas.
Fernando Eiras (de "Filme de Amor") interpreta um homem engravatado que, no início, encontramos fumando, solitário, na mesa de um bar. Parece distante, algo entediado. Dira Paes (de "2 Filhos de Francisco") faz a mulher que se senta à mesa desse homem e sugere ser prostituta. Convencida de seu poder de sedução, dá a largada para um jogo de encenações que terá como palco seu apartamento, ou ao menos o espaço que ela diz ser seu. Palco é a palavra apropriada.
Baseado na peça "A Dama da Lapa", de Marcelo Pedreira (que assina com Acioli o roteiro), o filme busca tornar cinematográfico, com cuidadoso trabalho de câmera e cenografia, um argumento cuja essência, antes de ser teatral, é literária. Fala-se muito -sobre amor, sexo, morte e desejos.
Quanto mais falam os personagens, mais incertezas os rondam. E, embora um deles insista em se referir àquela noite como a "última", há indícios de que ela esteja fadada a se estender, talvez indefinidamente. A presença de Eiras torna ainda mais inevitável lembrar as semelhanças entre "Incuráveis" e "Filme de Amor" (em que um homem e duas mulheres se encerram em um apartamento) mas também as diferenças entre os longas. A principal delas talvez esteja ligada à qualidade duvidosa do que deveria contribuir para sustentar o interesse: o texto, que oscila entre o poético, o rústico e o banal sem que isso represente boa carpintaria dramática.

INCURÁVEIS   
Direção: Gustavo Acioli
Produção: Brasil, 2006
Com: Fernando Eiras e Dira Paes
Quando: hoje, no Unibanco Arteplex 4