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"Não há tempo para Bienal tradicional"
Para Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal, projeto que descarta exposição é "extremamente moderno"
Pires da Costa afirma, em coletiva, que "falta de tempo no fim foi positiva, pois vai permitir reflexão sobre o papel da Bienal"
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
O presidente da Fundação
Bienal de São Paulo, Manoel Pires da Costa, afirmou ontem
que não há tempo para a realização de um projeto para a Bienal Internacional de Artes de
2008 no modelo usado para
mostras anteriores. "Nosso
tempo não é escasso a ponto de
não podermos fazer uma Bienal, mas também não é suficiente para fazermos uma Bienal tradicional."
Segundo o presidente da fundação, esse foi um dos fatores
centrais para a decisão de escolher um projeto -assinado por
Ivo Mesquita, curador-chefe da
Pinacoteca do Estado- que
quebra uma tradição de mais
de 50 anos: desde 1951, a Bienal
se dedica a abrir espaço para artistas plásticos, nacionais e estrangeiros, das mais diferentes
vertentes; para 2008, a curadoria deixa esses artistas em segundo plano. O projeto prevê
um andar dedicado a uma espécie de arquivo histórico, com
documentos e livros, um andar
completamente vazio e o térreo
do pavilhão aberto para performances, exibições de vídeos ou
até mesmo festas. A programação ainda não foi definida.
Ao justificar sua escolha, Pires da Costa também se propôs
a discutir o papel da Bienal Internacional de Artes de São
Paulo, reafirmar sua função de
apontar novos rumos no meio
artístico. "Essa falta de tempo
no fim foi positiva, pois vai nos
permitir uma reflexão, não só
sobre o papel da Bienal, mas sobre o papel das 200 bienais espalhadas pelo mundo. Todas
elas estão procurando um caminho. Nós vamos fazer alguma coisa diferente. Considero o
projeto do Ivo [Mesquita] extremamente moderno", disse.
Sobre a falta de tempo hábil,
o presidente da fundação diz
que 2007 foi um ano atípico,
em que teve de responder várias denúncias relativas a sua
administração, principalmente
sobre a contratação de parentes para prestação de serviços à
fundação e de uma empresa da
qual é sócio, a editora TPT Comunicações, para produção de
produtos da Bienal. O Ministério Público considerou que negócios entre a empresa de Pires
da Costa, a TPT Comunicações,
e a Bienal não trouxeram prejuízos à fundação.
Sobre as dívidas da fundação
(cerca de R$ 3 milhões), Pires
da Costa prometeu quitá-las
até o fim do ano. A crise financeira também foi citada como
um dos motivos da escolha do
projeto, que, segundo o presidente da fundação, deve ter orçamento menor do que as mostras de anos anteriores.
"Cara a tapa"
Sentado a seu lado durante a
coletiva, Ivo Mesquita diz que
espera reações dos mais diversos tipos à sua idéia de curadoria. "Estou dando a cara a tapa",
diz. "Mas espero que as pessoas
se manifestem mesmo, espero
um grande debate sobre o trabalho. Estou propondo um vazio, um hiato que funcione como um tempo de reflexão. Ou
uma quarentena, por isso a Bienal vai ficar em cartaz por 42
dias." Em tom de brincadeira,
Pires da Costa disse esperar
uma divisão de opiniões no exterior. "Serão 20% contra a
proposta e 80% a favor".
Durante a coletiva, Ivo Mesquita também foi questionado
sobre uma possível rejeição do
meio artístico a uma parceria
assumida com uma administração que respondeu a tantas
denúncias e que ainda tem dívidas financeiras com artistas
chamados para a última Bienal.
"Espero que falem na minha
cara e não pelas costas. Sou um
profissional técnico. Posso responder apenas pelo meu projeto, que é propor um espaço para
reflexão", disse.
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