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Crítica
"Terra dos Mortos" evoca "Metrópolis"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É necessário voltar à "Terra
dos Mortos" (Telecine Premium, 18h10), porque existe
certa injustiça em nomear
George A. Romero como mestre do terror em vez daquilo
que é: mestre do cinema moderno, simplesmente.
E fazer filmes de gênero, de
um gênero, aliás, não o diminui. As questões que levanta
são análogas às de um David
Lynch, de um David Cronenberg, de um Kiarostami. Dizem
respeito à representação e sua
verdade, por exemplo, ou a passar do falso ao verdadeiro, do
convencional ao real.
Romero não é um intuitivo.
"Terra dos Mortos" é clara evocação do "Metrópolis", de Fritz
Lang. Os zumbis do filme correspondem, em comportamento, aos operários lobotomizados do filme de Lang. O grande
edifício onde os ricos se abrigam vem diretamente do jardim das delícias em que viviam
os ricos de "Metrópolis".
E há ainda o ricaço que foge
com dinheiro, como em "O
Tempo das Diligências", de
John Ford, e a amizade entre
dois homens, sendo que um deles faz, ao atirar, o mesmo gesto
de Gary Cooper em "Sargento
York".
Tantas evocações de justiça
não são por acaso neste mundo
dividido em classes sociais, onde não será difícil divisar o
ideário neoliberal em ação.
Mas são os zumbis que mais
nos aproximam da questão do
controle social, já que eles são
controlados por fogos de artifício. E o que são? Um espetáculo. Isso é o que os hipnotiza.
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