São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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Romaria lota show "intelectual"

Sem violência, espetáculo de anteontem reuniu gerações e teve gramado lotado de fãs de todo o país

Espectadores reclamaram da distância do gramado ao palco, separado pelas áreas VIP e Premium; entrada única para a pista foi tumultuada

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Sábio, um dos chefes da segurança pontificava para seus subordinados: "Esse é um show mais intelectual. Se fosse outro, o pau já estava comendo".
Realmente, não era muito confortável estar no meio de 25 mil pessoas num espaço onde costumam ficar 22 -além do árbitro. Mas, apesar da tumultuada entrada única para o gramado (uma falha evitável de desorganização), não foi possível constatar cenas de maior violência no Maracanã durante o show do Police, anteontem. A polícia -literal, do Rio- não registrou ocorrências graves.
Um momento tenso foi quando, no início do show, cerca de 50 pessoas ocuparam o platô da TV Globo após ele ser esvaziado de câmeras e repórteres. Queriam ficar um degrau acima dos mortais, mas foram persuadidos por copos e latas.
Por "intelectual", também pode-se entender o evento como "família", "para todas as idades" e outros clichês. Gente da geração de Sting, como o casal Luiz Henrique, 48, e Maria Amélia Teixeira, 43, pongava (pulava à larga) ao lado da filha Gabriela, 13. O capixaba Jasson Moscon Junior, 36, chegou às 8h ao portão de acesso ao gramado para garantir um bom lugar para ele e o filho, o guitarrista Jasson Neto, 15.
Também de Vitória veio Mariana Duarte, que nasceu no ano em que o Police tocou aqui pela primeira vez, 1982. "Eu gosto de rock anos 80, mas o show superou todas as minhas expectativas. A melhor foi "Wrapped Around Your Finger'", escolheu, nada óbvia.
Por ser a única parada da turnê no Brasil, o Maracanã virou estuário de romeiros roqueiros de todo o país. O universitário Carlos Maestre, 22, corpo cor-de-groselha de tanto suar, saiu de Muriaé (MG) para se encostar no portão de entrada sete horas antes de ele abrir.
O publicitário Jean Cláudio dos Santos, 29, integrava um grupo de 20 curitibanos que prepararam camisetas especialmente para o show: "The Police - RJ 08.12.07" na frente, repertório atrás e listras horizontais, lembrando roupa de presidiário de quadrinhos.
De Manaus havia dois grupos, um de camisa preta, outro de branco. "É para a gente não se perder", explicou Adriana Marques, 34. Só lamentaram vir de tão longe (de avião) e, por causa das áreas VIP e Premium, não ficarem tão próximos do palco quanto sonhavam.
Pior fez o garçom uruguaio Jesus Perez, 35, que encarou um calvário de 2.448 quilômetros e 36 horas de ônibus para ver seus ídolos.

Rock na calçada
E melhor fez o Figurótico, pseudônimo de Edson Flávio, 32, líder da banda que leva seu nome e tocou por duas horas em frente à Maracagelo, distribuidora de bebidas que cedeu sua calçada para a apresentação. O trio de Barra Mansa (sul fluminense) vendeu 40 CDs a R$ 10, foi filmado pela equipe do making of do Police e ainda viu o show. Enviaram um SOS para o mundo e foram ouvidos.


Com JOÃO PEQUENO , colaboração para a Folha , no Rio


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