São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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TV Cultura estava "descontrolada", diz Sayad

Secretário estadual defende pacote que vincula investimentos na Fundação Padre Anchieta a cumprimento de metas

Emissora também acabará com publicidade em programas infantis, segundo o presidente da FPA, Paulo Markun


CATIA SEABRA
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário da Cultura de São Paulo, João Sayad, defendeu ontem a adoção de mecanismos de controle dos gastos da Fundação Padre Anchieta, administradora da TV Cultura e da Rádio Cultura.
Ao justificar o "contrato de parceria" firmado anteontem entre a FPA e o Estado, Sayad admitiu que o governo estava insatisfeito com o modelo de gestão da fundação.
Diante do presidente da fundação, Paulo Markun, com quem almoçava ontem, Sayad reconheceu que o Estado exige maior controle das despesas.
"[A fundação] estava descontrolada. Agora, está meio controlada", afirmou Sayad, em tom de brincadeira, durante almoço presenciado pela Folha.
Ainda que um pouco desconfortável, Markun, que descrevera as dificuldades de organização das despesas da fundação, concordou: "É verdade".
Como a Folha antecipou ontem, a FPA e o governo assinaram um acordo segundo o qual a fundação assume uma série de compromissos de gestão, como a ampliação da captação de recursos próprios e a redução de espaço da publicidade comercial. Do contrário, será punida com o corte de verbas transferidas pelo Estado.
Sayad defendeu a medida: "Isso formaliza o relacionamento da fundação com o Estado", argumentou.
O acordo estabelece metas de corte para que a fundação tenha direito a repasse de verbas. Pelo contrato, o volume de recursos repassado também será reduzido a cada ano: dos R$ 78,6 milhões programados para 2008 até R$ 56,8 milhões em 2013. As regras se aplicam tanto à rádio como à TV.

Publicidade polêmica
Além disso, a TV Cultura vai acabar com a publicidade em programas infantis a partir de janeiro, segundo Markun.
Com 12 horas diárias de conteúdo voltado à criança, terá só anúncios institucionais e patrocínios nessa faixa horária.
Se as propagandas de produtos já são objeto de polêmica até na programação adulta da TV Cultura -que é pública e, teoricamente, tem uma proposta editorial diferente das redes comerciais-, nos programas infantis era duramente criticada até pela cúpula da TV Cultura, além de membros do conselho curador.
"Será uma mudança de eixo", disse Markun, explicando que a idéia é reduzir a publicidade comercial a 1% do tempo de programação da TV.
A abertura a comerciais foi gradual e, hoje, o intervalo da Cultura é igual ao de canais privados. No canal infantil pago da TV Rá-Tim-Bum, um intervalo de elogiados programas educativos como o "Cocoricó" e o "Castelo Rá-Tim-Bum" já foi preenchido, por exemplo, com anúncios de bonecas da "Rebelde", novela "trash" do SBT, que explora a sexualidade de suas protagonistas adolescentes.
Segundo Markun, a decisão foi da própria fundação e está fora do acordo firmado com o governo. Apesar disso, interlocutores de Serra também fizeram pressão para que a FPA assumisse esse compromisso.
Markun afirma que o faturamento anual com a publicidade comercial nos programas infantis é de R$ 4 milhões. "Agora, vamos buscar outras fontes de receita", disse.
Recentemente, a Cultura passou a cobrar de outras emissoras públicas e educativas pela veiculação de seus programas. Segundo Markun, essa é uma nova forma de arrecadar receitas. Só com a venda de quatro programas para a TV Brasil, a fundação deverá arrecadar R$ 3 milhões em 2009.


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