|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Quase Aurora"
Tunga surpreende e cria aquarelas delicadas em nova exposição em SP
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Escala monumental e
materialidade são algumas das características
recorrentes na obra de Tunga.
Pesadas tranças feitas com
metal, imensos caldeirões, tacapes repletos de pequenos
ímãs são alguns trabalhos conhecidos do artista, que usa a
força da gravidade como um
dos elementos fundamentais
de sua criação.
"Quase Aurora", nova mostra
de Tunga, em cartaz na galeria
Millan, aparentemente contradiz tudo o que se conhece do artista. A exposição é composta
basicamente por uma série de
quase 50 aquarelas, desenhos
etéreos, indefinidos, quase em
suspensão, no sentido inverso
dos objetos pesados que evidenciam sua obra.
Nas aquarelas observam-se
figuras evanescentes, como se
seus corpos se dilatassem em
gases que se expandem, às vezes transformando-se em palmeiras, às vezes misturando-se
com outros corpos, às vezes
simplesmente desaparecendo.
Alquimia
A sugestão de complexos
processos de mutação, contudo, é que esteve sempre em
suas obras, sempre marcadas
por forte sugestão alquímica.
É só se lembrar de "Laminadas Almas", performance realizada na galeria Millan, em
2004, e depois no Rio, em 2006,
onde a metamorfose era o tema
central. Na ação, tomavam parte milhares de moscas e rãs
reais junto com bailarinos e artistas, que incorporavam (simbolicamente, é claro), parte
desses animais.
Sem dúvida, a simplicidade
das aquarelas surpreende, mas
a quase invisibilidade de seus
desenhos também está presente nos campos energéticos de
ímãs que Tunga usa em muitos
de seus trabalhos, apontando aí
outra convergência entre obras
anteriores e a nova mostra.
Na produção contemporânea, há muita expectativa e
pressão pela renovação da criação, pois a repetição é muitas
vezes vista com desdém, e se espera que o artista consiga manter a capacidade de surpreender o tempo todo.
Em "Quase Aurora", no entanto, Tunga consegue reinventar sua própria obra, mas a
partir de desdobramentos de
sua linguagem, ampliando seu
vocabulário sem buscar o novo
pelo novo.
A surpresa, que de fato se
tem, é frente à sua coerência:
ele não precisou apelar a nada
externo ao que já vinha realizando para se renovar por completo.
QUASE AURORA - TUNGA
Quando: de seg. a sex., das 10h às 19h,
e sáb., das 11h às 17h; até 19/12
Onde: galeria Millan (r. Fradique Coutinho, 1.360, tel. 3031-6007); livre
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Periferia renova samba de São Paulo Próximo Texto: Crítica/"Seu Jorge Canta Michael Jackson": Seu Jorge soou como um amador num karaokê cantando Michael Jackson Índice
|