São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Crítica/"Quase Aurora"

Tunga surpreende e cria aquarelas delicadas em nova exposição em SP

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Escala monumental e materialidade são algumas das características recorrentes na obra de Tunga. Pesadas tranças feitas com metal, imensos caldeirões, tacapes repletos de pequenos ímãs são alguns trabalhos conhecidos do artista, que usa a força da gravidade como um dos elementos fundamentais de sua criação. "Quase Aurora", nova mostra de Tunga, em cartaz na galeria Millan, aparentemente contradiz tudo o que se conhece do artista. A exposição é composta basicamente por uma série de quase 50 aquarelas, desenhos etéreos, indefinidos, quase em suspensão, no sentido inverso dos objetos pesados que evidenciam sua obra. Nas aquarelas observam-se figuras evanescentes, como se seus corpos se dilatassem em gases que se expandem, às vezes transformando-se em palmeiras, às vezes misturando-se com outros corpos, às vezes simplesmente desaparecendo.
Alquimia
A sugestão de complexos processos de mutação, contudo, é que esteve sempre em suas obras, sempre marcadas por forte sugestão alquímica.
É só se lembrar de "Laminadas Almas", performance realizada na galeria Millan, em 2004, e depois no Rio, em 2006, onde a metamorfose era o tema central. Na ação, tomavam parte milhares de moscas e rãs reais junto com bailarinos e artistas, que incorporavam (simbolicamente, é claro), parte desses animais.
Sem dúvida, a simplicidade das aquarelas surpreende, mas a quase invisibilidade de seus desenhos também está presente nos campos energéticos de ímãs que Tunga usa em muitos de seus trabalhos, apontando aí outra convergência entre obras anteriores e a nova mostra.
Na produção contemporânea, há muita expectativa e pressão pela renovação da criação, pois a repetição é muitas vezes vista com desdém, e se espera que o artista consiga manter a capacidade de surpreender o tempo todo.
Em "Quase Aurora", no entanto, Tunga consegue reinventar sua própria obra, mas a partir de desdobramentos de sua linguagem, ampliando seu vocabulário sem buscar o novo pelo novo.
A surpresa, que de fato se tem, é frente à sua coerência: ele não precisou apelar a nada externo ao que já vinha realizando para se renovar por completo.


QUASE AURORA - TUNGA

Quando: de seg. a sex., das 10h às 19h, e sáb., das 11h às 17h; até 19/12
Onde: galeria Millan (r. Fradique Coutinho, 1.360, tel. 3031-6007); livre
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo




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