São Paulo, sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Novos projetos terão cúpulas e esferas
Oscar Niemeyer tem pelo menos sete obras agora em andamento, quase todas com calotas que lembram a Oca

Entre os novos projetos estão um museu nos Açores, um teatro em Rosario, uma biblioteca em Argel e uma vinícola

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Oscar Niemeyer não para. Ou sua equipe não para. Pelo menos sete projetos, de uma torre de televisão a uma vinícola no sul da França, estão sendo tocados agora pela firma do arquiteto centenário.
De uma forma ou de outra, todos parecem exacerbar e repetir recursos de um repertório já conhecido por quem convive com suas construções ou pelo menos já viu Brasília, o Ibirapuera ou o Memorial da América Latina.
Niemeyer está mais obcecado do que nunca pelas formas esféricas, calotas e cúpulas como a Oca, talvez a mais célebre de todas elas, erguida no meio do gramado do maior parque paulistano.
Esses domos aparecem em versão menor, como frutas numa árvore, na torre de televisão digital, que ainda está em construção em Brasília.
Também há uma esfera em grande formato no centro cultural que acaba de abrir em Avilés, na Espanha, mesmo elemento central usado num auditório que será erguido em Rosario, na sede da Fundação Oscar Niemeyer, projetada para Niterói, no Rio, e num museu de Açores.
Desde sempre, Niemeyer buscou dotar de curvas o movimento de ângulos retos que era o primeiro modernismo.
Sua modernidade, associada às curvas da mulher, dobrou até mesmo Le Corbusier à noção de um modernismo tropical. Agora são formas clássicas num vocabulário que se replica em projetos saídos da prancheta do arquiteto como se fabricados numa linha de montagem.
Qualquer semelhança não parece ser coincidência. Seu desenho para um museu de arte contemporânea em Ponta Delgada, nos Açores, inverte o traçado que fez em Avilés, de um lado a cúpula e do outro uma construção cilíndrica, formando entre eles uma grande esplanada.
Essa é uma fórmula parecida com a disposição do parque Dona Lindu, que deve ser inaugurado em Recife em março do ano que vem, com a diferença que o projeto pernambucano não tem uma cúpula e sim dois cilindros, um de cada lado da praça.

FATOR SURPRESA
"É claro que as semelhanças entre esses projetos podem ser identificadas", disse Niemeyer em entrevista por e-mail. "São semelhanças que se observam menos nas soluções encontradas do que num elemento que tem diferenciado a minha arquitetura: a busca da forma nova, capaz de provocar surpresa."
Niemeyer, apostando nessa espécie de fator surpresa garantido, admite que tem repetido o esquema que criou para o Auditório Ibirapuera, em São Paulo, em que o palco abre para fora, criando espetáculos simultâneos para plateias dos dois lados.
Teatros conversíveis como o Ibirapuera estão também em Avilés, Recife e, mais adiante, em Rosario. Na cidade argentina, o Puerto de la Música deve fundir esses dois traços mais presentes na obra recente do arquiteto: grandes cúpulas e aberturas.
No caso, é como se fossem duas esferas, uma dentro de outra, sendo que a que está do lado de fora parece recuada para revelar a interior. Também ali, o teatro deve se abrir ao gramado no entorno.
Nas palavras do arquiteto, o modelo é um "sucesso absoluto". Mesmo sem visitar seu teatro desse tipo em Avilés, que já recebeu até Brad Pitt, Niemeyer antecipa o impacto da obra. "Imagino o palco do auditório aberto para a praça por mim concebida e o povo a acompanhar com vivo entusiasmo o espetáculo de música ou balé."
Em seu balé de formas, Niemeyer também prevê o fluxo de visitantes pelo caminho sinuoso que quer construir em torno de mais uma cúpula, aspecto central da Fundação Oscar Niemeyer, que deve ser erguida em Niterói, perto de seu museu em formato de disco voador.
Linhas tortas também servem de base para outros projetos: um pavilhão para visitantes numa vinícola do sul da França e uma construção em onda, que lembra o Copan, em São Paulo, que deverá abrigar a Biblioteca do Mundo Árabe, em Argel.


Texto Anterior: Trecho: Samba
Próximo Texto: Belenzinho abriga "pot-pourri" do teatro da década
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.