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ANÁLISE
Composto por três volumes, lançamento traz cartas escritas e recebidas por líder comunista entre 1936 e 45
Livros compilam cartas de Prestes na prisão
Mário Magalhães/Folha Imagem
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Identificação de Olga Benario; à dir., ficha ao ser presa no Rio |
DA SUCURSAL DO RIO
Figura -síntese no Brasil de
uma ""era de guerras e revoluções", Luiz Carlos Prestes não
mereceu até hoje um relato biográfico à altura do recebido por
sua primeira mulher, Olga Benario (viúvo, ele se casou de novo).
Uma contribuição indispensável a quem se dispuser a encarar a
empreitada acaba de sair em três
volumes que, juntos, somam
1.840 páginas. Os livros reúnem
900 cartas que Prestes escreveu e
recebeu nos anos em que esteve
preso no Rio (1936-45).
O trabalho foi organizado pela
historiadora Anita Leocádia Prestes, 66, e sua tia Lygia Prestes, 89.
Professora de história do Brasil na
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Anita é filha de Olga e
Prestes, de quem Lygia era a irmã
caçula.
O título, ""Anos Tormentosos",
inspira-se numa frase da mãe de
Prestes, Leocádia, em carta em
1942: ""E assim vão se passando os
anos mais tormentosos de nossa
vida".
O primeiro volume foi lançado
há dois anos, pelo Arquivo do Estado do Rio. Os outros dois saem
agora, com nova edição do primeiro, numa associação da instituição fluminense com a editora
Paz e Terra.
O projeto foi concebido e implementado pelas parentes de Prestes e a historiadora Jessie Jane
Vieira de Souza, ex-diretora do
arquivo. Só foi possível porque
Lygia guardou com ela por mais
de 60 anos a correspondência do
irmão. Com a mãe, ela criava Anita no exterior desde que a menina
saiu da prisão na qual vivia com
Olga em Berlim. Lygia e Leocádia
intermediavam a troca de cartas
de Prestes com a mulher e outras
pessoas.
Na Alemanha, Olga só podia escrever e receber cartas em alemão.
A família Prestes providenciava
traduções e ficava com os originais ou cópias. A esmagadora
maioria nunca foi publicada.
Só de cartas entre Olga e Prestes
(de 1937 a 42) há 176 páginas, no
terceiro volume. São mensagens
de tristeza pela separação, felicidade pela filha e esperança de
reencontro. Conhecendo o epílogo, são páginas dolorosas.
Os textos expõem a ciclotimia
política de Prestes. Ultra-esquerdista em 1935, aliado de Getúlio
Vargas dez anos depois. Ele foi
isolado, longe do burburinho da
prisão narrado em ""Memórias do
Cárcere", de Graciliano Ramos,
no qual Olga é personagem.
Escreveu com a energia com
que, na Itália, o marxista Antonio
Gramsci (1891-1937) preenchera
entre o fim da década de 1920 e o
começo da de 30 três dezenas de
cadernos do cárcere, alicerçando
o pensamento que até hoje tem
certa influência. Prestes sabia-se
censurado pela polícia e estava a
anos-luz do repertório teórico
gramsciano. Mas suas mensagens
revelam interesses intelectuais
mais vastos e uma ternura maior
do que se costuma supor.
Ao ler suas cartas, é inescapável
a impressão de que algo se perde
com o fim da tradição epistolar.
Na era da correspondência eletrônica, os historiadores do futuro
terão mais dificuldades para contar o passado.
(MÁRIO MAGALHÃES)
ANOS TORMENTOSOS. Organização:
Anita Leocádia Prestes e Lygia Prestes.
Editora: Paz e Terra. Quanto: R$ 50 (cada
volume); 1º vol., 628 págs., 2º vol., 526
págs., 3º vol., 686 págs.
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