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CINEMA
Responsáveis pela programação e agenda do festival norte-americano chegam a assistir cerca de mil títulos por ano
Filmes de Sundance passam por "máquina" de seleção
JOHN CLARK
DO "NEW YORK TIMES"
Era novembro de 2005, e John
Cooper estava em seu escritório
em Beverly Hills, contemplando
um quadro de avisos. Ao longo
das semanas seguintes, o quadro,
coberto de cartões organizados
segundo um código de cores e
portando o nome de filmes, ganharia forma definitiva como
agenda de programação do Sundance Film Festival de 2006.
Mesmo nos estágios finais do
processo, a programação ainda
estava longe de definida. "Quando chegarmos à semana que vem,
talvez metade desses títulos tenham sido excluídos", disse Cooper, diretor de programação, com
ar de exaustão. Trabalhos que
nem mesmo haviam entrado em
consideração poderiam se tornar
parte da lista. Mas ele sabia que,
de um modo ou de outro, o total
de cartões teria de ser reduzido a
120, a lista final de filmes, em tempo para a divulgação oficial.
Cooper não estava trabalhando
sozinho, evidentemente. Ele conta com a colaboração de Geoffrey
Gilmore, diretor do festival há 16
anos, e com uma equipe de três
programadores, Trevor Groth,
Shari Frilot e Caroline Libresco.
Neste ano, organizadores tiveram
de considerar uma lista de 1.004
longa-metragens norte-americanos e 936 internacionais, além de
760 documentários norte-americanos e 448 internacionais. Havia
ainda os curta-metragens, 4.311
no total. Conseguir assistir a todos já representa uma façanha.
Cooper conta que, no dia anterior, havia assistido a sete filmes.
Groth está assistindo a 14 horas
diárias de cinema, nos últimos
dois meses. Gilmore diz que no
curso de um ano costuma assistir
a entre 800 e mil filmes.
O festival se tornou tão famoso
que seu nome é sinônimo de cinema independente. Sob o comando de Gilmore, 54, Sundance,
criado por Robert Redford, virou
uma instituição internacional.
"Suponho que afirmar que a integridade é parte essencial do sucesso do Sundance possa me fazer
parecer pomposo", disse Gilmore. "Mas se nós não tivéssemos integridade, se não incluíssemos na
programação os filmes em que
acreditamos, e não aqueles que as
pessoas tentam nos convencer a
programar, nós não nos teríamos
tornado o festival em que nos
transformamos. Porque todo
mundo está tentando nos influenciar, todo mundo pede um favorzinho, todo mundo tenta dizer
que, caso não incluamos um determinado filme na programação,
eles serão levados à falência."
As inscrições se encerram oficialmente em 30 de setembro,
ainda que não seja incomum que
se arrastem, informalmente, até o
início de novembro. O festival
acontece entre 19 e 29 de janeiro
em Park City, Utah.
"Muita gente acredita que um
bom programador seja uma pessoa de gosto estreito e refinado,
alguém que ocupa uma espécie de
pico de compreensão estética. Enquanto na minha opinião um
bom programador é uma pessoa
receptiva a muitas coisas diferentes", disse Gilmore.
O que conduz o processo é algo
que Cooper gosta de designar como "a máquina". Todos os filmes
são assistidos na íntegra por pelo
menos uma pessoa, e freqüentemente mais.Gilmore diz que tenta
explicar aos selecionadores como
distinguir "o esquisito do ruim".
Gilmore diz que não procura
por consenso, mas por dedicação
apaixonada de seus programadores. Se um filme anima muito a algum deles, talvez mereça consideração mesmo que os demais integrantes da equipe discordem.
Os debates não se encerram
com a seleção. Há também a
questão da distribuição de filmes
entre as diversas mostras que
compõem o festival. As categorias
ambicionadas são as mostras
competitivas, que têm grande audiência. Ocasionalmente, um filme é excluído da competição porque a produção é grande demais.
Por exemplo, na categoria drama, "Friends with Money" [amigos com dinheiro], de Nicole Holofcener, que Gilmore descreveu
como "um dos melhores filmes
independentes", está sendo exibido como atração da noite de abertura, e não na mostra competitiva.
Isso se deve ao fato de que Holofcener é uma cineasta conhecida, e
o filme conta com estrelas como
Jennifer Aniston.
Mais perto das notícias, o festival este ano se viu inundado de filmes sobre o Iraque. Os programadores escolheram um para a mostra internacional, "Short Life of
José Antonio Gutierrez" [breve
biografia de José Antonio Gutierrez]. Para contrabalançar os documentários sérios, eles selecionaram "Wordplay", de Patrick
Creadon, sobre as palavras cruzadas do "New York Times" para a
mostra competitiva.
Tradução Paulo Migliacci
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