São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

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Será que ele é?

Parece que sim: reportagem do "New York Times" diz que JT LeRoy é uma mulher chamada Savannah; vinda do autor a SP deixou dúvidas

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma reportagem publicada anteontem pelo jornal americano "The New York Times" acrescenta mais um capítulo à novela que envolve a identidade do escritor americano JT LeRoy. O repórter Warren St. John afirma que LeRoy é na verdade uma mulher, de nome Savannah Knoop.
A evidência de que St. John dispõe são fotos da tal moça, encontradas na internet (nos sites nisasf.com e www.monkeyview.net). Ela teria sido identificada tanto como LeRoy -por pessoas como seu agente literário, Ira Silverberg- quanto como Savannah, modelo e amiga de Umay Mohammed, dona de um loja de roupas em São Francisco.
Ainda de acordo com St. John, a tal Savannah seria meia-irmã de Geoffrey Knoop, marido de Laura Albert. Segundo a biografia "oficial" de LeRoy, 25, o casal teria tirado LeRoy das ruas de San Francisco, quando ele ainda vivia como michê, viciado em heroína. No novo "lar", LeRoy teria iniciado tratamento com um psicólogo, que o estimulara a espantar pela escrita seus fantasmas da infância -a saber, a vida como prostituto, ao lado da mãe, em paradas para caminhoneiros no interior dos Estados Unidos.
No dia 4 de janeiro, o jornal inglês "The Guardian" também colocou lenha na polêmica: a repórter Laura Barton se encontrou com LeRoy em Los Angeles para uma entrevista. Intrigada não só com a feminilidade do escritor mas também com a discrepância entre seu discurso inseguro e a articulação inteligente que apresentava em conversas anteriores por telefone, a repórter levanta a hipótese de que LeRoy seria uma criação coletiva, encabeçada por Laura Albert. Dois roqueiros inexpressivos, ela e Knoop teriam criado o personagem para obter notoriedade.
No Google, há 16 ocorrências para "Savannah Knoop". A primeira da lista fala de uma menina de 19 anos, lutadora de capoeira no Abadá-Capoeira San Francisco. Curiosamente, quando esteve em São Paulo, em julho do ano passado, LeRoy, que vive em San Francisco, fez questão de participar de uma aula de capoeira.
"Naquela época ele disse que seu apelido na capoeira era Pavão. E na internet, o apelido de Savannah também é Pavão", conta a brasileira Lidia Luther, intérprete de LeRoy quando ele esteve no Brasil, para o lançamento de "Sarah", pela Geração Editorial.
Quem também esteve com LeRoy em São Paulo na época foi o escritor Santiago Nazarian, que assistiu a uma sessão de "Maldito Coração" ("The Heart is Deceitful Above All Things"), quando o americano assumiu que tomava hormônios femininos.
"Num jantar, sentei ao lado da figura e bati altos papos com ele (a), que estava sem peruca e sem óculos. Basicamente falamos sobre punk rock e ele me contou de algumas viagens que fez para lançar o livro. Pareceu-me um garoto adolescente, mas poderia ser uma menina também. Enfim, uma figura bem parecida com a do livro", diz o brasileiro.
Nazarian acaba de terminar a tradução do livro "The Heart...", que se chamará "Coração Traiçoeiro" no Brasil e cujo lançamento está previsto para março, na Bienal do Livro de São Paulo. Numa troca de e-mails para esclarecer dúvidas da tradução, Nazarian encontrou uma contradição entre a conversa que havia tido no restaurante e as mensagens.
"No restaurante, eu comentei sobre o livro "Running with Scissors", do Augusten Burroughs, que tem algumas semelhanças com o dele. Ele disse que não conhecia. Logo em seguida, por e-mail, mandei o nome do livro para que ele pudesse procurar. Ele me respondeu que já tinha lido fazia um tempo."
A vinda de LeRoy ao Brasil teve outro lance misterioso: convidado pela Geração Editorial, o escritor preferiu comprar as passagens nos Estados Unidos e ser reembolsado no Brasil. O bilhete eletrônico enviado à editora continha o nome Jeremy LeRoy, mas foi encaminhado por ele mesmo, por e-mail. Procurado por e-mail pela Folha, LeRoy não respondeu até a conclusão desta edição.


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