|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Greve é exemplo para o mundo todo"
Para Michael Winship, do sindicato dos autores, "exigências dizem respeito à economia do século 21, e não só à do entretenimento'
Presidente de divisão da WGA imagina que movimento sirva de referência a diretores; acordo celebrado por David Letterman é "simbólico"
CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK
A programação da TV dos
EUA se tornou curiosa vitrine
do que significa o mundo do entretenimento sem roteiristas.
Suspensos desde o início da
greve, em novembro, os principais talk-shows retornaram à
ativa em condições distintas.
Enquanto David Letterman
celebrou acordo independente
com seus roteiristas, que voltaram ao trabalho, Jay Leno e
Jon Stewart estão por conta só
deles mesmos e de seus produtores. A diferença de qualidade
a favor do primeiro é sensível,
reforçando a idéia -martelada
pelo WGA, o sindicato dos roteiristas- de que os autênticos
criadores dos programas são os
profissionais que os escrevem.
Michael Winship, presidente
da divisão Leste do WGA, crê
que acordos isolados como os
celebrados por Letterman e pela United Artists apontam para
o fim do impasse, pois atendem
as exigências feitas à AMPTP, a
aliança dos produtores.
"Os parâmetros desses acordos são idênticos aos que tentamos estabelecer inicialmente
nas negociações", diz Winship.
"O entendimento com a United
Artists, onde estão Tom Cruise
e Paula Wagner, é especialmente simbólico. Foi numa situação como essa, de confronto
entre artistas e produtores, que
Charles Chaplin, Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D.W.
Griffith fundaram o estúdio."
Satisfeito com a solidariedade dos atores, que decidiram
boicotar a cerimônia do Globo
de Ouro, Winship lembra que o
Directors Guild of América
(DGA), o sindicato dos diretores, poderá viver impasse similar ao dos roteiristas nas negociações com os produtores. "O
dissídio coletivo dos diretores
termina em 30 de junho, e a primeira rodada de negociações,
marcada para iniciar na última
segunda, foi adiada. Espero que
o nosso movimento sirva como
referência para o que pode
ocorrer se não houver diálogo."
Segundo a "Variety", o mais
prestigioso veículo de cobertura da indústria norte-americana do entretenimento, há uma
"grande distância" entre o DGA
e a AMPTP em relação a pontos-chave do dissídio, o que inviabilizaria ainda a realização
de um primeiro encontro.
Entre as prioridades dos diretores, também estaria um aumento na remuneração pelas
vendas em novas mídias. Eventual entendimento do DGA
com a AMPTP sobre esse tópico poderia orientar contratos
subseqüentes com o WGA e
com o Screen Actors Guild
(SGA), o sindicato dos atores,
cujo acordo com os produtores
também se encerra em 30/6.
"Interesse universal"
"O que acontece aqui é de interesse universal", diz Winship,
para quem a greve é exemplo
para roteiristas do mundo todo.
"Nossas exigências dizem respeito à economia do século 21, e
não só à do entretenimento.
Cerca de 26% dos americanos
assistiram a filmes ou programas pela internet em 2007."
Para ele, é "território inexplorado, com muito a crescer".
"Se os produtores fazem dinheiro com isso, queremos
nossa parte." A convicção não
gera otimismo. "Não tenho previsão de quando a greve terminará. Gostaria que tivesse terminado ontem, porque é difícil
para muita gente. Espero que
os produtores percebam os danos que causam aos roteiristas,
ao público e a eles mesmos."
Enquanto um acordo não
vem, as demissões já rondam os
estúdios. Nesta semana, a Warner anúnciou que fará neste
mês mil dispensas temporárias
-sem roteiros, seus funcionários estão ociosos.
(SÉRGIO RIZZO)
Texto Anterior: O poder dos roteiristas Próximo Texto: Entrevista: "Eles fazem de tudo para não dividir lucros" Índice
|