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Crítica/"Maysa - Quando Fala o Coração"
Maysa é a nossa versão de Amy Winehouse
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Intensa, irreverente, contraditória, autodestrutiva,
mas antes de tudo uma
grande cantora. Assim era
Maysa (1936-1977), nossa eterna diva da fossa e da dor de cotovelo, cuja história pessoal e,
naturalmente, sua música, inspiraram a minissérie da Globo.
Dirigida por Jayme Monjardim, filho da cantora, "Maysa
-Quando Fala o Coração" mostrou em seus primeiros capítulos um eficiente elenco, esmero
na produção dos cenários e figurinos, além da bela fotografia
de Affonso Beato, num padrão
raro na TV brasileira.
A série revelou também a talentosa atriz gaúcha Larissa
Maciel, que personifica a cantora de maneira bem convincente. Ainda que falte um pouco de intensidade em sua interpretação, justamente nas cenas
em que dubla Maysa cantando,
seus grandes e expressivos
olhos verdes são capazes de
hipnotizar o espectador.
Talvez a opção de Manoel
Carlos, autor da série, por uma
narrativa não-cronológica possa incomodar os espectadores
acostumados ao formato mais
convencional de grande parte
das novelas e minisséries da
emissora. Mas esse recurso
permite equilibrar, por meio de
flashbacks, as passagens mais
pesadas e melodramáticas da
história com outras mais descontraídas, incluindo os esperados números musicais.
Especialmente saborosa é a
cena em que Maysa interpreta
o samba-canção "Ouça" (de sua
autoria), um de seus maiores
sucessos. Com o rosto em primeiro plano, enquadrado pela
tela de um aparelho de TV, a
cantora mandou um irônico recado para o ex-marido, o milionário André Matarazzo. E que
outra cantora teria, como a impulsiva Maysa, a coragem de tirar o sapato e atirá-lo sobre espectadores desrespeitosos, que
insistiam em falar alto durante
uma de suas apresentações?
Cafajeste
Já as aparições do jornalista e
compositor Ronaldo Bôscoli
(bem interpretado pelo ator
Mateus Solano) garantiram os
momentos mais leves e divertidos. "Pela bossa nova, eu namoraria até o Trio Iraquitã", dispara o autor da clássica "Lobo Bobo", no melhor estilo cafajeste,
antes de lançar seu charme sobre a cantora.
Ironicamente, outra cena
exibida na última quarta nos
remeteu a um fenômeno cultural bem característico dos dias
de hoje: a indústria que se alimenta da vida pessoal dos artistas e celebridades. Flagrada por
um paparazzo ao se despir para
um banho de cachoeira com
um grupo de amigos, Maysa viu
sua intimidade exposta na capa
de um tabloide bem semelhante aos atuais.
Quem sabe, se conhecesse o
trágico final de Maysa, a cantora inglesa Amy Winehouse, que
parece ser tão intensa e autodestrutiva quanto a diva brasileira da fossa, tivesse um insight sobre o que a próxima
noite de excessos pode lhe reservar.
MAYSA - QUANDO FALA O CORAÇÃO
Quando: ter. e qui., às 23h05; sex., às
23h50, na Rede Globo
Classificação: não indicada a menores
de 12 anos
Avaliação: bom
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