São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2007

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Crítica

"O Exorcista" tem o mérito do mistério

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Deus e o diabo duelam por nossas almas. Isso acontece tanto nos romances de Georges Bernanos como nos filmes de Robert Bresson ou nos cultos evangélicos.
Nesse último caso, as coisas são bem simplificadas. Tudo que vai mal é por conta do diabo. Quando tudo corre bem, sabemos que a intervenção é de Deus. O sucesso recente desse tipo de abordagem talvez se deva menos à simplificação do que à dramaticidade que marca esse conflito que o catolicismo de certa forma abandonou.
"O Exorcista" (TCM, 1h20) tem como principal mérito nos colocar diante do mistério, daquilo que se apresenta incompreensível, maior do que nós. O mérito se acentua quando pensamos que quando foi feito, no começo dos anos 70, a fé em Deus estava em baixa.
Ali existe uma menina tomada pelo demônio. Por que o demônio tomou conta dela? Isso é secundário para o filme, e talvez seja esse o seu ponto fraco. O ponto forte, todos sabemos, é a sua capacidade de materializar a presença do demônio. Rosto transfigurado, monstruoso, voz alterada, vômitos em cores inusitadas, risos histéricos, camas que se erguem.
O demônio de "O Exorcista" é um técnico de efeitos. O filme não descarta a vulgaridade. Joga com o lado cafona da coisa.
Prefiro o William Friedkin das aventuras, das grandes perseguições tipo "Operação França" ou "Viver e Morrer em Los Angeles". Talvez seja falta de fé.


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