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Crítica
"O Exorcista" tem o mérito do mistério
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Deus e o diabo duelam por
nossas almas. Isso acontece
tanto nos romances de Georges
Bernanos como nos filmes de
Robert Bresson ou nos cultos
evangélicos.
Nesse último caso, as coisas
são bem simplificadas. Tudo
que vai mal é por conta do diabo. Quando tudo corre bem, sabemos que a intervenção é de
Deus. O sucesso recente desse
tipo de abordagem talvez se deva menos à simplificação do
que à dramaticidade que marca
esse conflito que o catolicismo
de certa forma abandonou.
"O Exorcista" (TCM, 1h20)
tem como principal mérito nos
colocar diante do mistério, daquilo que se apresenta incompreensível, maior do que nós. O
mérito se acentua quando pensamos que quando foi feito, no
começo dos anos 70, a fé em
Deus estava em baixa.
Ali existe uma menina tomada pelo demônio. Por que o demônio tomou conta dela? Isso
é secundário para o filme, e talvez seja esse o seu ponto fraco.
O ponto forte, todos sabemos, é
a sua capacidade de materializar a presença do demônio.
Rosto transfigurado, monstruoso, voz alterada, vômitos
em cores inusitadas, risos histéricos, camas que se erguem.
O demônio de "O Exorcista"
é um técnico de efeitos. O filme
não descarta a vulgaridade. Joga com o lado cafona da coisa.
Prefiro o William Friedkin
das aventuras, das grandes perseguições tipo "Operação
França" ou "Viver e Morrer em
Los Angeles". Talvez seja falta
de fé.
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