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Em Berlim, argentino debate identidade
Com exibição nesta terça no festival, longa de Ariel Rotter mostra a história "da relação de um
homem com seu corpo e seu tempo"
Na mostra oficial do evento alemão, filme concorre com o brasileiro "O Ano
em que meus Pais Saíram de Férias", dirigido por Cao Hamburger
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Há um rival argentino, chamado "El Otro" (o outro), no
caminho do concorrente brasileiro ao Urso de Ouro -"O Ano
em que meus Pais Saíram de
Férias", de Cao Hamburger. "El
Otro" será exibido nesta terça
no 57º Festival de Berlim.
Os adversários argentinos
não devem ser subestimados.
No ano passado, "O Guardião",
de Rodrigo Moreno, ganhou o
troféu Alfred Bauer, concedido
às obras que "expandem as
fronteiras do cinema". Troféu
idêntico havia sido dado a Lucrecia Martel, por "O Pântano".
"El Otro" é o segundo longa
de Ariel Rotter, que estreou
com "Sólo por Hoy" (2001), não
lançado comercialmente no
Brasil. Desta vez, Rotter escreveu a história "da relação de um
homem com seu corpo e seu
tempo" especialmente para ser
vivida pelo ator Julio Chavez (o
mesmo de "O Guardião").
O roteiro que Chavez aceitou
prontamente flagra um homem maduro numa banal viagem a trabalho. No percurso,
ele tem a chance de se fazer
passar por alguém que não é
-daí o título "O Outro"- e não
a desperdiça.
"Ele muda de identidade para se proteger num anonimato
e flertar com a idéia de como
seria sua vida se ele não fosse
quem é. Paradoxalmente,
quando é o outro ele está sendo
mais autêntico do que nunca",
esclarece Rotter.
"El Otro" vai na contramão
da maioria dos filmes escalados
para o Festival de Berlim, que
abordam períodos históricos
bem definidos ou personagens
célebres da vida real.
O filme de Rotter foi feito
com "deliberada atemporalidade e desvinculado da realidade
social e econômica que sempre
se espera da Argentina -a crise", afirma o diretor.
Rotter fez essa opção para
ressaltar que a história desse
homem "podia ter acontecido
em qualquer momento e acontece sempre".
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