São Paulo, sábado, 11 de março de 2000


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ARQUITETURA
Cavaletes do Masp são adotados nos EUA

FRANCESCA ANGIOLILLO
da Redação

O que a atual gestão do Masp abandonou, um museu de Chicago vai adotar em um mês. A partir de 8 de abril, cavaletes de vidro iguais aos do Museu de Arte de São Paulo poderão ser vistos no Crown Hall, principal espaço de exposições do Illinois Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Illinois, o IIT).
Os cavaletes farão sua entrada contando aos americanos a história do próprio Masp. Uma mostra de 200 desenhos originais da arquiteta Lina Bo Bardi para o projeto do museu paulistano ficará por um mês no prédio projetado por Mies van der Rohe (mestre alemão da arquitetura do aço).
"O que o Brasil abandona está sendo revisto no exterior", diz Marcelo Ferraz, diretor do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, que deu autorização e cedeu o projeto para a reprodução dos cavaletes, além de montar a mostra.

A querela
Os cavaletes, que hoje estão na reserva técnica (espaço onde se guarda o que não está exposto no museu), foram tirados de circulação em 96, com a exposição "Arte Italiana em Coleções Brasileiras".
"O que é legal do espaço da Lina é que permite qualquer tipo de exposição", diz o arquiteto Júlio Neves, presidente do Masp desde 94. Mas depois diz: "Com aquele sistema (dos cavaletes), não posso dar aula, nem ter visita monitorada, porque eles ficam muito próximos." Os cavaletes, segundo Neves, têm 1,30m entre eles.
"Tudo isso foi feito para ter um museu didático, mas se amanhã quisermos, tiramos tudo, é só pôr um "jacaré" (máquina como um macaco de automóvel) e mover os painéis", prossegue, referindo-se aos painéis (projetados por seu escritório) que estão lá hoje.
"Ele (Neves) até está fazendo coisas legais. Mas a questão dos cavaletes é fundamental, é a cara do museu", explica Ferraz.
Na ocasião da abertura da exposição em homenagem ao centenário de Pietro Maria Bardi, atualmente em cartaz, Neves disse à imprensa que os cavaletes não eram viáveis para o acervo atual. Segundo ele, cada obra do acervo original tem um cavalete específico, que precisaria ser adaptado para revezar obras variadas.
"Bobagem", contesta Ferraz. "O que varia é só a furação no vidro. Disse a ele que, em meia hora, como arquitetos, resolvíamos isso. Basta pôr um suporte atrás ou fazer várias furações."
A idéia dos cavaletes "não veio do nada", continua Ferraz. Lina tinha a visão modernista de museologia que trouxe da Itália.
"Mas ela foi além, porque fez museu e pinacoteca, enquanto que lá (na Itália) eles se limitaram a adaptar edifícios antigos", diz, referindo-se, por exemplo, ao castelo Sforzesco, em Milão.
Ferraz conta que pediu o tombamento do museu e do espaço expositivo junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. E conclui, em defesa: "Você via uma grande "família" de pintores, um Picasso ao lado de um Goya, compartilhando o mesmo espaço. Lina dizia que só no Brasil isso seria possível".


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