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PATRIMÔNIO
USP quer idéias de uso para casa tombada
da Redação
Sebastiana era órfã de uma família rica. Sebastiana ficou louca,
ao que parece, aos 31 anos, em
1918. Sebastiana, por sua loucura,
ficou confinada até morrer, em
1961, à casa do Bexiga (região central de São Paulo) onde vivia.
Sebastiana de Mello Freire, a
Dona Yayá, como era conhecida,
teve, assim, um manicômio particular em sua casa. Quando morreu, não tinha herdeiros diretos.
Após alguma disputa com os responsáveis pela então velha senhora, sua herança -da qual a casa
era só parte- foi parar nas mãos
da Universidade de São Paulo (até
a Constituição de 1988, heranças
vacantes iam para universidades
públicas).
Agora, a Comissão de Patrimônio Cultural da USP abriu um
concurso de propostas para uso
qualificado da antiga residência.
As inscrições estão abertas até
31 de março. Os projetos devem
manter as características atuais,
incluindo as reformas que foram
feitas para o confinamento de Yayá -o que, aliás, está determinado no edital de tombamento do
imóvel, de 1998.
O Condephaat considerou a casa uma "representação de uma
das formas da sociedade tratar a
loucura no início do século 20".
Levando em conta este fator, a
CPC dará preferência a projetos
que lidem com a exclusão.
"Mas de maneira abrangente:
não só econômica, mas também
cultural", explica o professor
Adilson Avansi de Abreu, pró-reitor de Cultura e Extensão da USP.
O projeto resultante também deve estar ligado a alguma atividade
acadêmica e ao bairro do Bexiga.
Durante todos esses anos, a casa
foi objeto de estudos e passou por
obras emergenciais, para mantê-la de pé.
Sorte
"Foi sorte. Se ela não tivesse vivido tanto, se tivesse herdeiros diretos, talvez a casa não existisse
mais", diz o professor Abreu.
E a "sorte" é maior do que apenas a de ter salvo uma casa que, se
acreditava, fora feita em 1902, segundo indicação do medalhão na
fachada.
A "arqueologia arquitetônica",
como Abreu chama o processo,
revelou que o núcleo original da
residência era um chalé de tijolos
-de fato uma das primeiras
construções em São Paulo a usar
o material, no final do século 19,
numa época em que a maior parte
das construções da cidade ainda
era de taipa (técnica de construção com barro).
A partir do tal chalé, de apenas
quatro cômodos, a casa se expandiu. A primeira ampliação, feita
pelo segundo proprietário do
imóvel, Afonso Augusto Milliet,
deu à casa decorações e o medalhão com a data que, até pouco
tempo, era considerada a de construção do imóvel. O dono seguinte, João Guerra, que ocupou a casa entre 1902 e 1919, redecorou as
paredes e deu à fachada características neoclássicas.
Dona Yayá se mudaria para a
residência em 1921, depois, portanto, de diagnosticado seu estado mental. Nos 40 anos em que a
ocupou, a casa sofreu muitas
adaptações, chegando ao aspecto
atual. A mais flagrante delas é a
adição de um solário: mesmo
contando com um grande jardim,
sua área ao ar livre se limitava a
um espaço gradeado.
(FA)
CPC: tel. 0/xx/11/818-3252, e-mail:
uspcpc@edu.usp.br
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