São Paulo, sábado, 11 de março de 2000


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PATRIMÔNIO
USP quer idéias de uso para casa tombada

da Redação

Sebastiana era órfã de uma família rica. Sebastiana ficou louca, ao que parece, aos 31 anos, em 1918. Sebastiana, por sua loucura, ficou confinada até morrer, em 1961, à casa do Bexiga (região central de São Paulo) onde vivia.
Sebastiana de Mello Freire, a Dona Yayá, como era conhecida, teve, assim, um manicômio particular em sua casa. Quando morreu, não tinha herdeiros diretos. Após alguma disputa com os responsáveis pela então velha senhora, sua herança -da qual a casa era só parte- foi parar nas mãos da Universidade de São Paulo (até a Constituição de 1988, heranças vacantes iam para universidades públicas).
Agora, a Comissão de Patrimônio Cultural da USP abriu um concurso de propostas para uso qualificado da antiga residência.
As inscrições estão abertas até 31 de março. Os projetos devem manter as características atuais, incluindo as reformas que foram feitas para o confinamento de Yayá -o que, aliás, está determinado no edital de tombamento do imóvel, de 1998.
O Condephaat considerou a casa uma "representação de uma das formas da sociedade tratar a loucura no início do século 20". Levando em conta este fator, a CPC dará preferência a projetos que lidem com a exclusão.
"Mas de maneira abrangente: não só econômica, mas também cultural", explica o professor Adilson Avansi de Abreu, pró-reitor de Cultura e Extensão da USP. O projeto resultante também deve estar ligado a alguma atividade acadêmica e ao bairro do Bexiga.
Durante todos esses anos, a casa foi objeto de estudos e passou por obras emergenciais, para mantê-la de pé.

Sorte
"Foi sorte. Se ela não tivesse vivido tanto, se tivesse herdeiros diretos, talvez a casa não existisse mais", diz o professor Abreu.
E a "sorte" é maior do que apenas a de ter salvo uma casa que, se acreditava, fora feita em 1902, segundo indicação do medalhão na fachada.
A "arqueologia arquitetônica", como Abreu chama o processo, revelou que o núcleo original da residência era um chalé de tijolos -de fato uma das primeiras construções em São Paulo a usar o material, no final do século 19, numa época em que a maior parte das construções da cidade ainda era de taipa (técnica de construção com barro).
A partir do tal chalé, de apenas quatro cômodos, a casa se expandiu. A primeira ampliação, feita pelo segundo proprietário do imóvel, Afonso Augusto Milliet, deu à casa decorações e o medalhão com a data que, até pouco tempo, era considerada a de construção do imóvel. O dono seguinte, João Guerra, que ocupou a casa entre 1902 e 1919, redecorou as paredes e deu à fachada características neoclássicas.
Dona Yayá se mudaria para a residência em 1921, depois, portanto, de diagnosticado seu estado mental. Nos 40 anos em que a ocupou, a casa sofreu muitas adaptações, chegando ao aspecto atual. A mais flagrante delas é a adição de um solário: mesmo contando com um grande jardim, sua área ao ar livre se limitava a um espaço gradeado. (FA)

CPC: tel. 0/xx/11/818-3252, e-mail: uspcpc@edu.usp.br


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