São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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Música pop brasileira vai ao cinema

Legião Urbana inspira dois longas de ficção; Raul Seixas e Herbert Vianna têm carreiras repassadas em documentários

Produtores e cineastas apontam bons resultados de "Cazuza" e "Vinicius" como razões para a onda de lançamentos sobre música

Divulgação
Paulo Vilhena em "O Magnata", com roteiro de Chorão, do Charlie Brown Jr.


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Graças a alguns sucessos recentes, a música pop brasileira ganhará um bom número de produções cinematográficas a partir deste ano. Se o assunto não tivesse sido praticamente ignorado pelo cinema, daria até para chamar de retomada...
Titãs, Mamonas Assassinas, Raul Seixas, Herbert Vianna e Charlie Brown Jr. são alguns dos artistas direta ou indiretamente relacionados a produções que serão exibidas na telona até 2009 (veja quadro nesta página).
Só a Legião Urbana está conectada a dois longas de ficção: "Faroeste Caboclo", baseado na música de mesmo nome; e "Religião Urbana", nome provisório de uma cinebiografia sobre a vida de Renato Russo entre os 17 e os 23 anos.
Além das aventuras estreladas por Roberto Carlos nos anos 60 ("A 300 Km por Hora", "Em Ritmo de Aventura"...), são parcas as contribuições do pop nacional para o cinema. Nos anos 80, houve um "miniboom", quando Lael Rodrigues (1951-89) dirigiu uma trilogia de filmes de temática assumidamente roqueira: "Bete Balanço" (84); "Rock Estrela" (86); e "Rádio Pirata" (87).
Ouvidos pela Folha, cineastas e produtores enumeram algumas razões para o investimento em iniciativas como "Herbert de Perto", documentário sobre Herbert Vianna dirigido por Roberto Berliner.
A mais citada é o sucesso de produções recentes, como "Cazuza: O Tempo Não Pára" e "Vinicius". O primeiro foi assistido por mais de 3 milhões de pessoas e acumulou R$ 21,23 milhões em bilheteria. O documentário de Vinicius de Moraes teve quase 272 mil espectadores, com renda de R$ 2,37 milhões.
"Três diretores já me convidaram para fazer um longa sobre o Raul. Depois do filme do Cazuza, dizem que está dando dinheiro", afirma Kika Seixas, viúva e diretora de documentário sobre Raul Seixas (1945-89), que deve estrear neste ano.
"Mas não quero ir nessa linha. Uma ficção iria trazer sucesso para o ator que interpretasse o Raul, e eu quero fortalecer a imagem do Raul. Ele tem muitos fãs de dez, 11 anos, gente que nem conhece direito a cara do Raul. Daqui a alguns anos, faremos uma ficção."
Alain Fresnot, produtor do filme sobre o eterno maluco beleza, diz que o momento é favorável ao cinema pop.
"Os investidores são muito sensíveis aos produtos de sucesso. Quando há um filme bem-sucedido de um gênero, ele dá filhotes. Isso aconteceu com filme de cangaceiro, com comédia erótica", lembra. "O cinema é uma arte meio vampira. Por ser um investimento grande, ele busca em outras artes referências para se alimentar: peça de teatro de sucesso, livro de sucesso. E, claro, vai buscar músicos de sucesso."

Medo do entretenimento
"O divisor de águas para os documentários talvez tenha sido o "Vinicius". Embora não me agrade esteticamente, vimos um potencial de público. E estimulou muita gente", opina Berliner, que, para fazer "Herbert de Perto", utilizará imagens do vocalista dos Paralamas captadas desde 1983, em show no Rio, até os dias atuais.
"É um nicho para a juventude que todo mundo tem medo de explorar", diz Johnny Araújo, diretor de "O Magnata", história de um cantor pop com roteiro de Chorão, do Charlie Brown Jr.
"No Brasil, faz-se muito cinema conceitual. Não sei se existe preconceito com o entretenimento. Pode ser medo de explorar essa temática, de achar que o jovem não vai ao cinema assistir a um filme nacional."
Para Bianca de Felippes, da Gávea Filmes, responsável por "Faroeste Caboclo", a música pop só agora está sendo contada em longas porque "até bem pouco tempo atrás, a qualidade do som do cinema brasileiro era precária. Hoje, há uma qualidade técnica semelhante à da indústria internacional".

Caro? Pula para DVD
Co-diretor de "Titãs: A Vida até Parece uma Festa", ao lado de Branco Mello, Oscar Rodrigues Alves ressalta que o alto custo da produção de cinema leva muita gente a lançar os filmes diretamente em DVD. "É muito caro fazer cinema. Para fazer um DVD, você monta em uma ilha de edição e lança de forma bem mais barata."
A temática pop leva os cineastas e produtores a apostarem em linguagem cinematográfica voltada para o jovem, assim como suas estratégias de marketing. O produtor Luiz Fernando Borges, por exemplo, pensa em fazer um concurso para escolher o ator que interpretará Renato Russo em "Religião Urbana", que terá direção de Antonio Carlos da Fontoura.
"Vamos fazer trabalho de marketing pela internet, com interatividade com sites de fãs. A linguagem será especial, inclusive com animação", conta Cláudio Kahns, produtor de "Mamonas Assassinas: O Filme", que deve estrear em 2008.


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