São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

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Crise põe em risco produção de filmes

Com corte de recursos de empresas privadas, mesmo "O Bem-Amado" e produtora de "Se Eu Fosse Você 2" enfrentam dificuldades

Produtores que tiveram verba para filmagens não conseguem finalizar longas; atrasos no cronograma podem passar de seis meses

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A crise chegou aos sets de filmagem dos longas-metragens em produção no Brasil. Como se não bastasse a ausência de patrocínio da Petrobras durante 2008 -R$ 20 milhões a menos no setor-, produtores ainda enfrentam o corte de incentivos das empresas privadas.
Nem mesmo o BNDES, um dos principais agentes da política anticíclica (de medidas para reduzir o impacto da crise), tem reservado boas notícias ao setor. A seleção de projetos a serem financiados em 2009 ainda não tem data para acontecer. O último edital saiu em março do ano passado, e os recursos, R$ 12 milhões, foram liberados no segundo semestre.
Antes financiados quase exclusivamente pelo setor público, produtores se acostumaram, nos últimos quatro anos, a ser bem recebidos nas empresas privadas. Antes da crise, o crescimento da economia motivava cada vez mais empresas a patrocinar filmes via leis do Audiovisual e Rouanet, que permitem deduzir do Imposto de Renda o dinheiro destinado às produções audiovisuais.
A crise reduziu as perspectivas de lucros e, consequentemente, os recursos para filmes. "O "não" voltou a ser resposta-padrão", queixa-se Paula Lavigne, que acaba de rodar "O Bem-Amado". "Mesmo que o dinheiro seja ressarcido lá na frente, ninguém quer tirá-lo do caixa agora", diz Iafa Britz, que rodou o campeão de bilheteria "Se Eu Fosse Você 2" e está às voltas com quatro produções.

Recursos próprios
Duas grandes investidoras, a operadora ferroviária MRS Logística e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), já avisaram ao setor que não liberarão recursos neste semestre. Segundo a Ancine, antes da crise, 30% dos recursos do setor vinham de fora das estatais. Não há dados disponíveis sobre a queda nos patrocínios privados, mas, pelo que dizem os produtores, a proporção cairá.
Ao iniciar as filmagens de "O Bem-Amado", com Marco Nanini, em 2007, Lavigne estava certa de que teria facilidade em levantar dinheiro com empresas privadas -a história de Odorico Paraguaçu foi sucesso na Globo nos anos 70 e 80. O dinheiro captado antes da crise veio fácil e foi usado na filmagem, recém-encerrada. Lavigne agora tem dificuldade para levantar R$ 2,5 milhões para edição e pós-produção. "Um executivo disse que não tem como me dar dinheiro enquanto faz demissões. Em outros tempos, teria encerrado a captação. Vou usar recursos próprios."
Duas empresas que se comprometeram com Joaquim Vaz a dar R$ 700 mil para finalizar "Salve Geral" acabam de desistir. "A crise vai atrasar os cronogramas do cinema em ao menos seis meses. Haverá uma entressafra", diz o produtor. Mesmo Luiz Carlos Barreto, que conseguiu, com recursos privados, R$ 16 milhões para "Lula, o Filho do Brasil" (sinal de que o tema político pode ter ajudado na captação), diz sentir a crise nas conversas para novos projetos. "É um horror. As captações privadas caíram 70%."


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