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Crise põe em risco produção de filmes
Com corte de recursos de empresas privadas, mesmo "O Bem-Amado" e produtora de "Se Eu Fosse Você 2" enfrentam dificuldades
Produtores que tiveram
verba para filmagens não
conseguem finalizar longas;
atrasos no cronograma
podem passar de seis meses
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A crise chegou aos sets de filmagem dos longas-metragens
em produção no Brasil. Como
se não bastasse a ausência de
patrocínio da Petrobras durante 2008 -R$ 20 milhões a menos no setor-, produtores ainda enfrentam o corte de incentivos das empresas privadas.
Nem mesmo o BNDES, um
dos principais agentes da política anticíclica (de medidas para reduzir o impacto da crise),
tem reservado boas notícias ao
setor. A seleção de projetos a
serem financiados em 2009
ainda não tem data para acontecer. O último edital saiu em
março do ano passado, e os recursos, R$ 12 milhões, foram liberados no segundo semestre.
Antes financiados quase exclusivamente pelo setor público, produtores se acostumaram, nos últimos quatro anos, a
ser bem recebidos nas empresas privadas. Antes da crise, o
crescimento da economia motivava cada vez mais empresas
a patrocinar filmes via leis do
Audiovisual e Rouanet, que
permitem deduzir do Imposto
de Renda o dinheiro destinado
às produções audiovisuais.
A crise reduziu as perspectivas de lucros e, consequentemente, os recursos para filmes.
"O "não" voltou a ser resposta-padrão", queixa-se Paula Lavigne, que acaba de rodar "O Bem-Amado". "Mesmo que o dinheiro seja ressarcido lá na frente,
ninguém quer tirá-lo do caixa
agora", diz Iafa Britz, que rodou
o campeão de bilheteria "Se Eu
Fosse Você 2" e está às voltas
com quatro produções.
Recursos próprios
Duas grandes investidoras, a
operadora ferroviária MRS Logística e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), já avisaram ao setor que não liberarão
recursos neste semestre. Segundo a Ancine, antes da crise,
30% dos recursos do setor vinham de fora das estatais. Não
há dados disponíveis sobre a
queda nos patrocínios privados, mas, pelo que dizem os
produtores, a proporção cairá.
Ao iniciar as filmagens de "O
Bem-Amado", com Marco Nanini, em 2007, Lavigne estava
certa de que teria facilidade em
levantar dinheiro com empresas privadas -a história de
Odorico Paraguaçu foi sucesso
na Globo nos anos 70 e 80. O dinheiro captado antes da crise
veio fácil e foi usado na filmagem, recém-encerrada. Lavigne agora tem dificuldade para
levantar R$ 2,5 milhões para
edição e pós-produção. "Um
executivo disse que não tem como me dar dinheiro enquanto
faz demissões. Em outros tempos, teria encerrado a captação.
Vou usar recursos próprios."
Duas empresas que se comprometeram com Joaquim Vaz
a dar R$ 700 mil para finalizar
"Salve Geral" acabam de desistir. "A crise vai atrasar os cronogramas do cinema em ao menos seis meses. Haverá uma entressafra", diz o produtor. Mesmo Luiz Carlos Barreto, que
conseguiu, com recursos privados, R$ 16 milhões para "Lula, o
Filho do Brasil" (sinal de que o
tema político pode ter ajudado
na captação), diz sentir a crise
nas conversas para novos projetos. "É um horror. As captações privadas caíram 70%."
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