São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010

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Festival de Curitiba faz edição mais abrangente

Maratona começa na terça, com 27 peças na seleção oficial e 358 no Fringe

Mostra paralela continua recebendo qualquer inscrito, mas ganha espaços com curadoria e agora é dividida por gêneros

Divulgação
Renata Sorrah e Daniel Dants em "Macbeth"

GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Vai ter grupo Galpão, Ópera Seca e Sutil Companhia de Teatro representando os grupos estáveis do país. Listaram também "Oui, Oui... A França É Aqui" e a dupla Cláudio Botelho e Charles Moeller, da turma dos musicais. E o cardápio traz ainda Renata Sorrah com Daniel Dantas em "Macbeth", além de Beth Goulart interpretando Clarice Lispector; então, pode ticar aí o tópico "atores célebres em grandes papéis".
A 19a Edição do Festival de Teatro de Curitiba -que começa no dia 16 e vai até o dia 28- parece ter se reaproximado de seu próprio lema: ser uma espécie de "vitrine" do teatro brasileiro -ou, ao menos, do teatro produzido nas regiões Sul e Sudeste do país. Como em outros anos, ainda faltam na programação da Mostra Oficial do evento opções de espetáculos do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Para compensar a edição passada, em que nem mesmo Rio ou São Paulo foram bem representados, este ano o festival de Curitiba apresenta uma seleção robusta, que abre o leque para linguagens variadas. "Está bem diversificado. Sinto que os organizadores se empenharam nesta edição para corrigir os erros do ano passado, que reuniu produções comerciais e fez escolhas pouco ousadas", diz o dramaturgo Sérgio Roveri.
Segundo o diretor geral do festival, Leandro Knopfholz, "as restrições" da programação anterior foram reflexo da crise econômica mundial. "Não pudemos trazer todos os espetáculos que realmente gostaríamos porque os produtores não estavam conseguindo cumprir seus calendários; muita montagem acabou sendo adiada por conta da crise", explica.
O festival não paga produção de espetáculos, apenas cachês para montagens alheias. Seu orçamento este ano fechou em R$ 3,2 milhões -contra R$ 2,4 milhões do ano passado.
A Mostra Oficial está trazendo 26 espetáculos nacionais e um internacional. "Dulcinea's Lament", que vem do Canadá, é uma espécie de exercício cênico multimídia, com a musa de Don Quixote, personagem de Miguel de Cervantes, no centro de uma narrativa imagética. Coloca a cereja no bolo de uma outra aposta curatorial que embalou esta edição: espetáculos com cenários impactantes.
Entre eles, a produção carioca "Um Navio no Espaço ou Ana Cristina César" faz também incursão digital com vídeo. A cenografia de Fernando Mello da Costa trabalha projeções sobre uma espécie de coleção de livros. Quem dirige o espetáculo, sobre obra da poetiza Ana Cristina César, que se matou aos 31 anos, é Paulo José.

Farsas e bufões
Seis espetáculos fazem suas estreias durante o evento, a exemplo de "Música para Ninar Dinossauros", de Mário Bortolotto, e "Travesties", da Companhia de Ópera Seca, que retorna ao festival depois da problemática participação no ano 2000. Naquele ano, Gerald Thomas, diretor da companhia, parou a apresentação do espetáculo "Tragédia Rave" para fazer um discurso contra a (des)organização do evento.
A companhia, de qualquer forma, vai ao evento encabeçada não por Thomas, mas por um de seus parceiros de longa data, o diretor e iluminador Caetano Vilela. A linguagem do grupo permanece na esfera dos beckettianos, tecendo imagens num terreno do absurdo, para repaginar texto do britânico Tom Stoppard.
Para o produtor Roberto Malta, esta edição ainda traz um outro recorte curatorial que considera "surpreendente". "Fizeram escolhas populares, mas sem vulgaridades", diz. "Notei a presença de farsas, que fazem rir, mas também levam o espectador a uma reflexão." O produtor cita como exemplo a "Farsa da Boa Preguiça", de Ariano Suassuna. Também chama atenção para os musicais e revistas, gêneros que ganharam força no Rio.
A curadora Tânia Brandão distingue o teatro carioca como "mais irreverente" e "menos experimental" do que o paulista. Também avalia a mostra como representação de um cenário inflado por políticas culturais. "O teatro brasileiro está mais profissional, ainda que não tenha perdido as boas características do artesanato."
As produções menores, por tradição, ficam no Fringe, que este ano divide sua programação de 358 espetáculos por gêneros, em espaços diferentes. A mostra paralela ganha ainda, pela primeira vez, dois espaços com seleção de curadores.


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