São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2011

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Última Moda

VIVIAN WHITEMAN, em Paris - ultima.moda@grupofolha.com.br

O coração das trevas

SOMBRAS RONDAM A TEMPORADA INVERNO 2011 DA SEMANA DE MODA DE PARIS

As luzes estão apagadas em Paris. A moda da semana francesa anuncia um inverno gélido com os pés fincados na noite escura do mundo.
A sombra da maldade: Galliano, gravado em surto de ódio explícito e demitido da Dior; boatos sobre a internação de Christophe Decarnin, da Balmain, numa clínica psiquiátrica; o suicídio de Alexander McQueen ronda as conversas e a memória.
O clima pesado do desfile de Marc Jacobs, em Nova York, desembocou em Paris com o show de terror que ele criou para a Louis Vuitton.
Não que as roupas e as bolsas fossem feias ou malfeitas. Pelo contrário. Tudo magistralmente construído em couro, peles e vinílicos.
As modelos desciam de elevadores para um evento no "Hotel Vuitton". Ao que parece, dados os quepes e uniformes, se tratava de um encontro de fetichistas alucinadas pelo legado estético das duas Grandes Guerras.
Os looks jogam com formas de espartilho e clichês de sex shop. Os repertórios sadomasoquista e militar dão as mãos numa dança perversa. No meio de tudo, uma prisioneira de mortalha branca e algemas de ouro.
A veterana de guerra Naomi Campbell está na passarela, mas quem fecha o teatro é Kate Moss. Ela é um espectro do próprio Jacobs, fumando um cigarro, como quem acabou de encerrar um ato (encenação) sexual.
Já outros desfiles-chave jogaram com luz e escuridão.
A Hermès intriga com uma jornada de exploração. Nômades viajam pelo Oriente e pelo Brasil em looks étnico-luxuosos. De repente, há uma "invasão" de soldadinhas colonizadoras e a coleção desemboca no preto.
Stella McCartney abriu com casulos negros, seguidos de aflitivos vestidos colantes que revelavam pedaços de pele cobertos por bolotas (como Jacobs em NY).
A Givenchy mostrou panteras negras presas em jaulas e a Balenciaga falou de flores encarceradas.
Na Chanel, Karl Lagerfeld desenhou uma passarela branca em meio a pedras fumegantes, dignas do próprio inferno. Sobre ela, os clássicos Chanel, dos tweeds aos vestidos transparentes (com aspecto sujo e gótico), passavam ao som de "The Forest", da banda The Cure.
E assim Lagerfeld abre espaço à reflexão-chave desta temporada tenebrosa: para atravessar as trevas, não basta abraçá-las nem tampouco negar o espaço que ocupam no mundo e no próprio cerne do humano. É do embate consciente entre o homem e o que ele tem de terrível e incontrolável que pode surgir um novo caminho, inclusive nas estradas da moda.

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com PEDRO DINIZ


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