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Da Vila Penteado ao Salão Caramelo
Fundada em 1948, a
Faculdade de
Arquitetura e
Urbanismo da USP
comemora 50 anos com
aula inaugural de
Paulo Mendes da Rocha
MARA GAMA
Gerente de Criação do Universo Online
"A Cidade" é o tema da aula
inaugural que o arquiteto Paulo
Mendes da Rocha vai dar hoje, a
partir das 10h, como parte das comemorações dos 50 anos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo.
Arquiteto formado pelo Mackenzie, seu mais recente projeto
foi a recuperação e a reforma da
Pinacoteca do Estado, no parque
da Luz. O preferido, o ginásio de
esportes do Clube Atlético Paulistano, de 1957. Professor cassado
em 1969, junto com o mestre Vilanova Artigas (1915-1985) e Jon
Maitrejean, e reintegrado à universidade nos anos 80, Mendes da
Rocha, 69, recebeu a Folha em seu
escritório, no centro da cidade.
Folha - Qual o papel da FAU na
universidade e na arquitetura brasileiras?
Paulo Mendes da Rocha - O fato
de a FAU de São Paulo ter-se originado -enquanto a maioria das
outras escolas vieram das belas artes- de dentro da engenharia para nós tem uma importância muito grande. A Escola Politécnica é
mãe de uma série de empreendimentos notáveis: estradas de ferro,
recomposição de territórios, saneamento, aterros ganhados do
mar, fundações de portos, as hidrelétricas em São Paulo. Uma escola de arquitetura fundada nesse
meio é uma escola muito interessante para a América e para o Brasil, e ela serviu de paradigma para
quase todas as escolas. Fundamentalmente deve-se isso ao professor
Vilanova Artigas, que teve uma visão clara e uma consciência crítica
sobre o estado da sociedade, das
artes, do homem no mundo. Tudo
isso na FAU brilhou muito. Estabeleceu-se para os departamentos
de história, por exemplo, uma exigência crítica. Como se dissesse: a
história não há. A história é o que
nós quisermos que ela seja. Essas
são as perspectivas que animaram
a fundação da FAU.
Folha - Uma faculdade de arquitetura da importância da FAU não
deveria estar mais presente na
gestão da cidade?
Mendes da Rocha - A ditadura
militar invadiu o universo do pensamento, das idéias, da universidade para destruí-lo. Houve grandes prejuízos, coerção, censura.
Isso alterou muito no plano interno, no Brasil, o peso da universidade, a sua influência, enquanto
opinião, capaz de avançar no plano político como algo que se deve
ouvir. Eu tenho a impressão que
uma voz que saia daqui, uma experiência da América é muito interessante hoje na interlocução internacional, sobretudo, o que faz
também com que apareçam esperanças de sermos mais ouvidos.
Folha - Como foi a aula do professor Artigas quando voltou à faculdade, nos anos 80?
Mendes da Rocha - Artigas fez
uma aula memorável. Ele discorreu sobre a idéia de vontade e desejo para as ações humanas associadas à questão linguística, que era
uma das suas paixões. Ele mostrava como a palavra desenho, na sua
origem, na nossa língua, significa
desígnio, uma designação prévia
para a movimentação, para a vida
ativa. Uma vida que é organizada
em projeto para um trabalho. O
que é talvez a essência da condição
humana: a premeditação, a experiência.
Folha - Como será sua aula?
Mendes da Rocha - Vou centrar
a aula na palavra cidade. A arquitetura tem uma imagem no âmbito
do senso comum de produzir maravilhas para serem contempladas
como instrumento de beleza supérfluos. E basta. Na verdade, ela
também se destina a evitar desastres. A cidade é o lugar do homem
contemporâneo, não há outra hipótese sobre uma imagem de habitat. O grande desafio da arquitetura é organizar o arcabouço técnico, estratégico, formal, capaz de
amparar aquilo que é fundamental, as águas, a qualidade do espaço
para nem promover nem amparar, mas simplesmente deixar à
disposição a imprevisibilidade da
vida de cada um. É um desafio,
mas ao mesmo tempo um fator de
entusiasmo.
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