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CINEMA
"Sexo por Compaixão" traz mulher que passa a fazer sexo com vários homens após ser abandonada pelo marido
Diretora espanhola cria misto de santa e meretriz
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Num vilarejo mexicano perdido de Deus, Dolores, uma alma que de tão boa dá inveja ao padre, mantém a moribunda comunidade local de pé. Abandonada
pelo marido, enciumado pela generosidade sem limite da esposa,
e repudiada pelo padre, um fraco
de espírito, a quarentona Dolores
(interpretada por Elisabeth Margoni) decide que é chegada a hora
de aprender a pecar.
Tudo se passa, em "Sexo por
Compaixão", como se a comunidade local encontrasse, nessa predisposição da protagonista, o seu renascimento.
A anciã da comunidade, uma
velhota obcecada com a passagem do tempo e a extinção do seu
corpo (assim como a de seu povo), dando falta da companhia de
Dolores, logo deixa o seu leito de
morte para reencontrar (e fotografar) a vida nas ruas.
A filha da fofoqueira da cidade,
criança muda que vivia sob os
auspícios de Dolores, na ausência
da amiga, começa a gritar.
Deixando de fazer suas boas
ações cotidianas, Dolores produz
pequenos milagres, mas a transfiguração dessa alma caridosa em
santa só se completa quando ela
se mete de fato a pecar.
Uma santa que atende pelo (codi)nome de Lolita. Passando, sob
nova alcunha, a fazer sexo por
compaixão, Dolores, tal qual o anjo rimbaudiano vivido por Terence Stamp em "Teorema" (1968), começa a despertar, em todos
aqueles com quem se deita, potencialidades adormecidas.
É neste momento que ganha cores o filme em preto e branco da
espanhola Laura Mañá, tal como
acontecia no clássico de Pier Paolo Pasolini quando Stamp entrava
em cena.
A comparação, obviamente,
não favorece Mañá. Atriz de formação, a jovem diretora debutante tem, como comprovam as caracterizações de sua produção,
um gosto bem acentuado pelo pitoresco.
Nada contra o pitoresco: o problema é que Mañá se contenta
com o pitoresco pelo pitoresco, o
que, em se tratando de direção de
cinema, é quase sempre sinal de
imaturidade. E de uma imaturidade tanto temática quanto estilística. Mas Mañá está apenas começando e prova ao menos em
seu primeiro longa que tem fôlego
para crescer.
Dolores-Lolita, misto de santa e
de meretriz, espécie de grande
mãe capaz de atiçar o complexo
edipiano dos homens que seduz, é
também um rebento tardio, temporão, do cinema espanhol pós-franquista. Trata-se de um cinema da liberação, em boa parte dedicado à destruição dos dogmas
católicos da era franquista, a provocações sub-buñuelescas e a sátiras sacrílegas dos filmes de gênero pastoral e religioso do cinema
clássico espanhol.
Sexo por Compaixão
Sexo por Compasión
Produção: Espanha/México, 2000
Direção: Laura Mañá
Com: Elisabeth Margoni, Pilar Bardem,
Alex Ângulo
Quando: a partir de hoje nos cines
Lumière e Cinearte
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