São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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CRÍTICA

"Cócegas" - A Missão; de cult, virou indústria

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

"E aí , foi todo mundo pra praia. Eu, a Laura, a Helena, a Dumbo, a Teti, a Titi, a Bi, a Su, a Rô e a Roberta Fragoso Pires de Melo. E de garoto tava o Flávio, o Pedro, o Tuca, o Daniel Lima, o Daniel Ferreira e o Paulinho. Simplesmente, TODO MUNDO!" Assim Tati começa uma conversa telefônica com, "tipo assim", sua melhor amiga.
É o esquete mais popular de "Cócegas". A simpatia é tanta, que a platéia rola de rir na simples enumeração dos nomes. Tati acha a sua mãe, de 35 anos, a "maior velha" e repete "caraca" e "fala sério" diversas vezes, na cena protagonizada por Heloísa Périssé e dirigida por Sura Berditchevsky, que ganhou versão no "Fantástico".
Por que se ri tanto dessa cena? Há empatia (identificação), o público se reconhece ou reconhece alguém da família? Muitas perguntas se fazem depois do sucesso de uma peça. Mas só há uma certeza: ele não é previsto.
"Cócegas" não pára de render. A proeza das duas atrizes cômicas, Ingrid Guimarães e Heloísa, autoras, produtoras e atrizes do espetáculo de uma seqüência de nove esquetes humorísticos, não tem precedentes no teatro brasileiro: lota quando quer, onde quiser, agrada da família Abravanel à Sandy.
Qual o segredo? Uma dica é a química entre as atrizes, que ensaiaram "Cócegas" na casa de Ingrid, rindo uma da outra, até uma vizinha perguntar do que tanto riam. Certa vez, criaram uma coreografia e ficaram três dias rindo. A dupla se conheceu na Oficina de Humor, promovida pela Globo, em que juntaram comediantes para temperar o programa de Chico Anysio. Tal encontro pode ter inspirado um dos esquetes, "Pinto e Pingüim", em que duas atrizes nos camarins de um programa infantil resolvem pelo celular problemas como a infiltração na casa de uma delas.
Outra explicação para o seu sucesso é a essência do espetáculo, que aponta comicamente as trapalhadas e esforços de mulheres modernas, que tentam ser dona-de-casa, mãe, provedor da grana e que ainda têm que se divertir. Tem da professora de ginástica, que costura a camisa do marido enquanto dá aulas, à antítese da mulher contemporânea, a miss Mossoró, Ph.D. em filosofia e física, mas que quer ser reconhecida apenas como uma mulher gostosa.
Dias antes da estréia, Ingrid andava pelos bares do Leblon insegura, consultando os amigos sobre seu projeto. De cult virou indústria.



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