São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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PERSONALIDADE

Artista, que combateu fascismo na Itália e participou da fundação do PT, morreu de embolia pulmonar

Morre aos 93 anos a atriz Lélia Abramo

DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 93 anos, a atriz, escritora e militante de esquerda Lélia Abramo morreu anteontem, às 20h30, em São Paulo, em conseqüência de uma embolia pulmonar.
Fundadora do Partido dos Trabalhadores, sua última aparição foi em 31 de março, aniversário dos 40 anos do golpe militar.
Por sua luta contra a ditadura, recebeu uma homenagem no Fórum Mundial de Educação, no Anhembi, onde cantou, emocionada, o hino da Internacional Socialista. Nesse dia, já sentia dores em razão de uma queda sofrida em casa, na qual quebrou a bacia, segundo o ator e diretor teatral Tadeu Di Pyetro, seu amigo.
Dois dias depois, foi internada no Hospital Modelo, na Liberdade. Na última quinta, foi transferida para a UTI, com problemas pulmonares. Mesmo doente, contou Di Pyetro, estava feliz em razão da homenagem que recebeu, na última terça, do Prêmio Shell.
Lélia foi velada ontem no salão nobre do Teatro Municipal. O enterro seria às 17h no cemitério Getsemani, no Morumbi, em SP.
A atriz está na lista dos dez primeiros a assinar a ata da reunião que deu origem ao PT (1980). Participava do grupo de intelectuais como Mário Pedrosa, Sérgio Buarque de Holanda e Antonio Candido. Lélia estreou como atriz aos 47 anos, na peça "Eles Não Usam Black-tie". "Fui abençoado. Duvido que haja uma atriz que faça esse papel da mesma maneira. Foi a perfeição", lembra o ator, diretor e dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri, autor do texto.
"Foi o maior desempenho de Lélia. Ela tinha uma grande energia e autoridade em cena. A personagem estava dentro de seu espírito combativo", avalia o crítico teatral Sábato Magaldi, que assistiu ao espetáculo.
Para o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, ela era uma das maiores atrizes do país. "Teve uma carreira muito sólida no teatro, no cinema e na solidariedade política. Quando voltei do exílio, em 1978, foi a única pessoa da classe teatral a me receber no aeroporto e me acompanhou no depoimento à Polícia Federal."
O cineasta Cacá Diegues dirigiu Lélia no filme "Joana Francesa", em 1973. "Foi um prazer trabalhar com ela. Era uma grande atriz, uma grande intelectual. Uma pessoa séria e culta", afirmou.
A atriz tinha seis irmãos, entre eles o jornalista Cláudio Abramo (1923-1987) e o artista plástico Lívio Abramo (1903-1992).
No velório, Cláudio Weber Abramo, seu sobrinho, afirmou que Lélia tinha na família uma personalidade tão forte quanto na política e na profissão. "Ela teve uma importância afetiva muito grande para todos nós."


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