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CURTA-METRAGEM
Cardoso desvenda doçura de Oiticica
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira definição de arte que
o cineasta Ivan Cardoso ouviu de
Hélio Oiticica (1937-80) era um
convite à transgressão.
Durante a ditadura militar dos
60, Oiticica fez palestra no colégio
em que Cardoso estudava e disse
que pichar retratos de "milicos"
com spray era uma obra de arte.
A partir daí, Cardoso não parou
mais de ouvir Oiticica. E de filmá-lo com a câmera que comprou
pouco depois, abraçando o ofício
de cineasta, no lugar das aulas.
Os curtas "Heliorama" e "HO",
que o Canal Brasil exibe hoje, às
14h30, são uma homenagem a Oiticica, na forma de um apanhado
de imagens (eventualmente as
mesmas nos dois filmes) e de áudios, em que o artista fala sobre
arte em geral e sobre a sua obra
em particular.
Oiticica cita a "desprivilegiação
do visual" como traço da arte moderna, que alça as "coisas que se
pode pegar e tocar" ao status de
obra; avalia que "não há possibilidade nem razão para uma volta à
pintura e à escultura" e expõe seu
desagrado com o fato de que "a
simples produção do objeto de arte tornou-se commodities".
Na galeria das imagens raras e
belas, vê-se (em preto-e-branco)
Oiticica dançando com Lygia
Clark (1920-88), num penetrável
criado por ele. Ela, de pés descalços sob a água e cigarro na mão.
No local, avistam-se também
Caetano Veloso, Waly Salomão
(1943-2003), entre outros.
Em "Heliorama", Cardoso embala o "pas-des-deux" na voz de
Gal Costa cantando "Sebastiana"
(Jackson do Pandeiro).
Em "HO", o artista dança sob a
moldura acústica de "A Voz do
Morro" (Caetano Veloso).
O trânsito de Oiticica entre a alta intelectualidade e a Mangueira
é lembrado por Haroldo de Campos, que resume a personalidade
do criador de parangolés, essa
"asa-delta para o êxtase", como
"um misto de doçura e agressividade". "HO" e "Heliorama" ficam
só com a doçura. Já é bastante.
Curtas Clássicos - "Heliorama" (2004) e "HO" (1979), de Ivan Cardoso
Quando: hoje, às 14h30, no Canal Brasil
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