São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CURTA-METRAGEM

Cardoso desvenda doçura de Oiticica

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira definição de arte que o cineasta Ivan Cardoso ouviu de Hélio Oiticica (1937-80) era um convite à transgressão.
Durante a ditadura militar dos 60, Oiticica fez palestra no colégio em que Cardoso estudava e disse que pichar retratos de "milicos" com spray era uma obra de arte.
A partir daí, Cardoso não parou mais de ouvir Oiticica. E de filmá-lo com a câmera que comprou pouco depois, abraçando o ofício de cineasta, no lugar das aulas.
Os curtas "Heliorama" e "HO", que o Canal Brasil exibe hoje, às 14h30, são uma homenagem a Oiticica, na forma de um apanhado de imagens (eventualmente as mesmas nos dois filmes) e de áudios, em que o artista fala sobre arte em geral e sobre a sua obra em particular.
Oiticica cita a "desprivilegiação do visual" como traço da arte moderna, que alça as "coisas que se pode pegar e tocar" ao status de obra; avalia que "não há possibilidade nem razão para uma volta à pintura e à escultura" e expõe seu desagrado com o fato de que "a simples produção do objeto de arte tornou-se commodities".
Na galeria das imagens raras e belas, vê-se (em preto-e-branco) Oiticica dançando com Lygia Clark (1920-88), num penetrável criado por ele. Ela, de pés descalços sob a água e cigarro na mão. No local, avistam-se também Caetano Veloso, Waly Salomão (1943-2003), entre outros.
Em "Heliorama", Cardoso embala o "pas-des-deux" na voz de Gal Costa cantando "Sebastiana" (Jackson do Pandeiro).
Em "HO", o artista dança sob a moldura acústica de "A Voz do Morro" (Caetano Veloso).
O trânsito de Oiticica entre a alta intelectualidade e a Mangueira é lembrado por Haroldo de Campos, que resume a personalidade do criador de parangolés, essa "asa-delta para o êxtase", como "um misto de doçura e agressividade". "HO" e "Heliorama" ficam só com a doçura. Já é bastante.


Curtas Clássicos - "Heliorama" (2004) e "HO" (1979), de Ivan Cardoso
Quando:
hoje, às 14h30, no Canal Brasil


Texto Anterior: Crítica: "O Anjo do Pavilhão Cinco" tece o brutal com delicadeza
Próximo Texto: Resumo das novelas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.