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Brasil busca um lugar em Cannes
Títulos nacionais disputam vaga na seleção oficial do mais importante festival de cinema do mundo
Hector Babenco, Paulo Morelli e José Padilha têm boas chances; produtora do cineasta Fernando Meirelles apresentou três títulos
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O norte-americano Martin
Scorsese (convidado de honra)
e o britânico Stephen Frears
(presidente do júri) são os únicos cineastas estrangeiros oficialmente confirmados até agora no 60º Festival de Cannes,
no próximo mês de maio.
Diversos diretores brasileiros tentam incluir seus nomes
na lista de competidores à Palma de Ouro, o grande prêmio
da mostra. Pelo menos três deles têm boas chances de ser selecionados -Paulo Morelli,
com "Cidade dos Homens"; José Padilha, com "Tropa de Elite", e Hector Babenco, com "O
Passado", todos inéditos. Mas,
pela lógica (geopolítica) da disputa, só deverá haver lugar para
um filme do Brasil. Se houver.
A seleção oficial sairá no próximo dia 19. Até lá, montanhas
de apostas e especulações serão
feitas. A revista "Variety", por
exemplo, dá como certa a presença dos norte-americanos
"Death Proof", de Quentin Tarantino, vencedor da Palma de
Ouro com "Pulp Fiction"
(1994) , e "13 Homens e um Novo Segredo", de Steven Soderbergh, ganhador com "Sexo,
Mentiras e Videotape" (1989).
Vantagens competitivas
A mostra tem, em geral, entre
20 e 22 competidores à Palma.
No caso dos aspirantes brasileiros, cada um tem vantagens
competitivas, além das qualidades intrínsecas dos filmes.
"Cidade dos Homens" está
sendo encarado como uma seqüência de "Cidade de Deus",
de Fernando Meirelles, com
quem Cannes tem uma "dívida". Em 2002, faltou coragem
ao diretor-geral do festival, Gilles Jacob, para escalar na disputa o filme de Meirelles, então
um cineasta desconhecido.
"Cidade de Deus" foi exibido
fora de competição, e Cannes
perdeu a chance de premiar o
filme que fez de Meirelles um
importante nome no mercado
internacional e um divisor de
águas em seu país.
Questionado se "Cidade dos
Homens" é a oportunidade para Jacob se redimir com ele,
Meirelles diz: "Não sei se a culpa do Jacob é suficiente para
aceitarem "Cidade dos Homens". O filme está muito bom.
Boto mais fé nesta razão".
A O2 Filmes, produtora de
Meirelles e Morelli, submeteu
ao festival mais dois filmes:
"Não Por Acaso", de Philippe
Barcinski, e "O Banheiro do Papa", de Cesar Charlone, rodado
no Uruguai.
"Não Por Acaso", uma história de amor e perdas, tem o hoje
astro internacional Rodrigo
Santoro no elenco. É o primeiro longa de Barcinski, que tem
o trunfo de haver participado
do festival em 2003, com o curta "A Janela Aberta".
Enquanto "Cidade dos Homens" tem na guerra do tráfico
no Rio de Janeiro um elemento
lateral de sua trama, centrada
nos dilemas que o tema da paternidade impõe aos personagens Laranjinha (Darlan Cunha) e Acerola (Douglas Silva),
"Tropa de Elite" aborda a questão por um ângulo inusual na
ficção brasileira -o da polícia,
mais especificamente, o do Bope, o Batalhão de Operações
Especiais especializado na repressão ao tráfico nas favelas.
Grife Weinstein
Autor de "Ônibus 174", Padilha é premiado internacionalmente como documentarista.
Em "Tropa de Elite", ele tem o
suporte, na distribuição, da grife Bob e Harvey Weinstein, os
irmãos que se tornaram lendários no mercado internacional
à frente do estúdio Miramax.
Hoje, os Weinstein comandam um selo próprio e voltaram ao estilo de produção e
marketing arrojados com o
projeto "Grindhouse", dirigido
por Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, com 195 minutos de duração, estreado no último fim de semana nos EUA.
"Death Proof", que é dado como certo em Cannes, seria uma
versão alongada do episódio de
Tarantino em "Grindhouse".
Hector Babenco já competiu
três vezes em Cannes, sendo a
mais recente com "Carandiru",
em 2003. Com "O Passado", ele
retorna às histórias de amor e à
Argentina, onde nasceu, num
drama romântico estrelado por
Gael García Bernal.
Essa combinação dá ao filme
um perfil interessante, por reunir a Argentina, país que se tornou coqueluche nos festivais de
cinema europeus, um cineasta
brasileiro (sim, Babenco é um
cineasta brasileiro) cuja trajetória inclui uma bem-sucedida
passagem por Hollywood e o
mais disputado jovem ator latino do momento, o mexicano
Bernal, revelado em Cannes
com "Amores Brutos".
Além de "Cidade dos Homens", "Tropa de Elite", "O
Passado" e "Não Por Acaso",
outros longas brasileiros estão
sendo submetidos por seus
produtores à seleção do Festival de Cannes. Mas, nesses casos, a ambição é menor. Tentam uma vaga nas mostras paralelas -Um Certo Olhar,
Quinzena dos Realizadores e
Semana da Crítica.
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