São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2008

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"Quis fazer comédia de humor negro"

Marcos Jorge, que estréia em longas com "Estômago", diz que sua comédia "flerta com o grotesco e com a obscenidade"

Título foi rodado em Curitiba e tem como atores mais conhecidos o protagonista João Miguel e o "titã" Paulo Miklos

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Sob a aparência de uma comédia, eu queria fazer um filme mais profundo", diz o diretor Marcos Jorge a respeito de "Estômago", seu primeiro longa-metragem, que estréia hoje nos cinemas.
O viés cômico do filme é dado pelos embaraços em que se mete o protagonista Raimundo Nonato (João Miguel), ao tentar se adaptar a uma região (o sudeste e o sul do país), a um trabalho (o de chef) e a um estilo de vida (o das grandes cidades) que não são originalmente os seus. Trata-se de um personagem "ingênuo e ignorante, mas inteligente", na definição do diretor do título.
Sem nada no bolso e uma modesta mala nas mãos, Nonato sai do Nordeste, em busca de uma nova perspectiva de vida. Do primeiro emprego -como o sujeito que frita coxinhas num boteco de nulas credenciais gastronômicas-, Nonato consegue pular para a cozinha de um restaurante italiano (o país europeu é co-produtor do filme), onde aprende as manhas da profissão.
A aparente ascensão de Nonato é interrompida por uma decepção a que ele responde com um primitivo e criminoso ato de vingança, indo parar na prisão. Na cadeia, o agora gourmet busca novamente uma escalada "social", a partir de sua habilidade na cozinha.
O caráter "profundo" que Jorge quis dar a essa história reside num "ensaio sobre a alma humana em relação ao poder". Metaforizado na digestão, que começa com o prazer do gosto e termina em excremento, o poder, em "Estômago", decompõe (o humano).
Por isso, "o filme começa com a boca e termina com a bunda", aponta Jorge, ciente de que nem todos os espectadores se dão conta de sua intenção ao descrever esse percurso.
A quem o perceba, o cineasta está "consciente do risco" de desagradar, não exatamente pelo discurso, mas pela forma que o filme assume. "Sei que flertei de maneira perigosa com o grotesco e a obscenidade, mas eu queria fazer um filme visceral, uma comédia de humor negro", afirma ele.

Curitiba
"Estômago" foi filmado em Curitiba, onde Jorge vive e de onde saiu também boa parte do elenco que contracena com João Miguel. Exceções são as presenças do carioca Babu Santana e do "titã" Paulo Miklos, ambos interpretando chefões do crime.
"A presença de Miklos em "Estômago" é obviamente uma homenagem minha ao filme do Beto Brant ["O Invasor", em que o ator interpreta o papel-título]", diz o cineasta.
Outros diretores que influenciaram Jorge e a quem ele procurou prestar tributo em seu primeiro filme são "o Peter Greenaway da primeira fase, em que fez "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante", um ótimo filme de cozinha, e o mestre Sergio Leone".
Jorge chegou a conhecer Leone, quando foi estudar cinema na Itália, onde morou por mais de uma década. Em 2001, o diretor percebeu que "dava para fazer cinema de novo no Brasil", após o colapso da produção enfrentado nos anos 90, e retornou ao país. "Ou voltava naquele momento, ou não voltava mais."


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