São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

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CRÍTICA ROCK

Pirotecnia quase estraga espetáculo

Repertório salva os irlandeses do U2 de se tornarem vítimas do próprio parque temático

Alexandre Carvalho/Fotoarena
Imagem do palco durante o show de sábado

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA

No histórico concerto nas Red Rocks (Colorado, 1983), o U2 tocou para jovens atraídos pelo vigor daquela banda que começava a despontar na cena do pós-punk. Era a turnê do enérgico disco "War", e o público era composto por roqueiros. Muito mudou desde então.
No último sábado, baladeiros de diversas idades e sotaques do Brasil, não necessariamente amantes do rock, encontraram-se para receber o grupo em sua terceira turnê no país. E foi uma verdadeira "balada", palavra usada até por Bono (em português mesmo) para definir o encontro.
Na pista, as pessoas fotografavam o palco como se estivessem pisando pela primeira vez na Disney, enquanto via-se gente usando camisetas e faixas com os dizeres "U2, eu fui" ou seguindo guias com plaquinhas que indicavam o caminho de confortáveis camarotes.
Nada mais fora do espírito rock and roll.
Se o público da banda mudou muito, deve-se dizer, é porque a própria banda se transformou também.
A superexposição e o apego à mídia fizeram do U2 um refém da própria grandiosidade. É como se não soubesse mais compor ou cantar sem exagerar nos momentos de clímax, esperando desde logo que um coro acompanhe Bono cegamente.
O show mostrou o U2 mais como presa do imenso aracnídeo que compõe palco, telão e luzes do que como uma legítima banda de rock em pleno voo, que quer experimentar, surpreender e, por que não, incomodar.

REPERTÓRIO FORTE
O segredo do grupo, porém, é que quando mais se espera que os ouvintes estejam comovidos com a ladainha política, vidrados pela pirotecnia ou cantando como quem ora, aí é que eles se impõem pela força de um repertório hoje único no cenário.
Construído ao longo de mais de 30 anos, por um grupo cujos integrantes nunca mudaram, e fiel a conceitos -apesar da abertura pop de "Achtung Baby", 1991, e "Pop", 1997-, o cancioneiro do U2 foi sempre o do rock de arena, de certa inspiração religiosa, e muito melodioso.
O que se nota é que as músicas que melhor têm sobrevivido são aquelas em que a guitarra de Edge é não só determinante para seu encaminhamento melódico como para dar-lhes contorno final. Caso de "Until the End of the World", "Walk On", "Vertigo" e, sim, "Sunday Bloody Sunday".
Aliás, o guitarrista encanta também quando faz a segunda voz, como em "Stuck in a Moment You Can't Get Out Of". Mil vezes Edge em vocal secundário do que Bono atacando de Pavarotti, como faz em "Miss Sarajevo".
As faixas do essencial "The Joshua Tree" (1987), que marcou a conquista definitiva dos EUA pelos irlandeses, saíram preguiçosas, com a banda simplesmente entregando para o público cantar.
Já as do (bom) disco recente ("No Line on the Horizon", 2009) foram subutilizadas. "Magnificent" entusiasma no início, mas "Get on Your Boots" teve versão acelerada demais e "I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight" é avacalhada por um Larry Mullen Jr. que puxa uma batucada no meio do público.
Quando "Moment of Surrender", a melhor delas, surge, o público já começa a deixar o local, pois o andamento da canção é lento e já se sabe que será a última da noite.

U2 360º TOUR

AVALIAÇÃO regular


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