São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2001

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CINEMA

Thriller "R-Xmas", do ex-junkie Abel Ferrara, custou US$ 3 milhões e é exibido na mostra Um Certo Olhar

Cineasta marginal americano emplaca no Festival de Cannes

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Não é porque a indústria cinematográfica norte-americana movimenta mais de US$ 50 bilhões por ano e gera cerca de quatro vezes isso que o país não tem cineastas marginais. Está certo que são como os sem-teto de Nova York, que recebem um salário do governo para sobreviverem.
Ou seja, nossos sem-teto são mais sem-teto, assim como nossos cineastas marginais são mais marginais. Mas eis que ressurge em cena Abel Ferrara, o ex-junkie da Union Square, que emplacou seu thriller "R-Xmas" na mostra Um Certo Olhar, em Cannes.
O filme custou US$ 3 milhões (ou meio "Chatô"), só foi feito porque bancado pelo StudioCanal, francês, e brinca no título com "Merry Christmas" (Feliz Natal, em inglês) e a classificação de filme proibido para menores nos EUA ("rated" ou "R").
Trata-se mesmo de um Natal proibido para menores.
É o Natal de uma família aparentemente comum e bem-sucedida, ele dominicano (Lillo Brancato), ela porto-riquenha (Drea de Matteo), ambos no início do filme comemorando o Natal com a filhinha numa escola cara de Nova York e depois fazendo compras no Rockefeller Center.
À noite, porém, as coisas mudam. O casal controla feliz o tráfico de cocaína de uma região da cidade, até que um policial (Ice-T) começa a extorqui-los. Estamos em 1993, último ano do mandato do prefeito David Dinkins, como avisa um letreiro inicial. Dinkins foi um dos prefeitos mais corruptos da cidade, o último antes da era Giuliani.
No final, aparece o letreiro: "Em 1994, Rudolph Giuliani (na verdade, está escrito "Guiliani", um erro de digitação) tomou posse e virou o 107º prefeito de Nova York". Logo depois, o aviso: "Continua (to be continued)", como nos seriados.
Das duas, uma: ou Abel Ferrara vai se sair como o crítico feroz que é ou estava com medo da política de "tolerância zero" do atual prefeito. Se fizer uma sequência em que a família de traficantes se dá mal porque a polícia deu um jeito nas drogas, virou arrivista ou está de olho na verba cinematográfica da cidade.
Se a saga prosseguir com a família poderosa, continua o mesmo Ferrara de sempre. Nunca se vendeu tanta droga em Nova York e nunca a polícia teve tantos casos de corrupção, sim, mas principalmente de racismo.
Torça para que seja a segunda opção. E que tenha a ver com uma declaração recente do diretor de que conseguiu US$ 22 milhões de um mecenas para fazer a "continuação" de "O Rei de Nova York", na verdade a origem do clássico de 1990.
Aliás, será que "R-Xmas" não vai ter algo a ver com isso?


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