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CINEMA
Thriller "R-Xmas", do ex-junkie Abel Ferrara, custou US$ 3 milhões e é exibido na mostra Um Certo Olhar
Cineasta marginal americano emplaca no Festival de Cannes
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Não é porque a indústria cinematográfica norte-americana
movimenta mais de US$ 50 bilhões por ano e gera cerca de quatro vezes isso que o país não tem
cineastas marginais. Está certo
que são como os sem-teto de Nova York, que recebem um salário
do governo para sobreviverem.
Ou seja, nossos sem-teto são
mais sem-teto, assim como nossos cineastas marginais são mais
marginais. Mas eis que ressurge
em cena Abel Ferrara, o ex-junkie
da Union Square, que emplacou
seu thriller "R-Xmas" na mostra
Um Certo Olhar, em Cannes.
O filme custou US$ 3 milhões
(ou meio "Chatô"), só foi feito
porque bancado pelo StudioCanal, francês, e brinca no título
com "Merry Christmas" (Feliz
Natal, em inglês) e a classificação
de filme proibido para menores
nos EUA ("rated" ou "R").
Trata-se mesmo de um Natal
proibido para menores.
É o Natal de uma família aparentemente comum e bem-sucedida, ele dominicano (Lillo Brancato), ela porto-riquenha (Drea
de Matteo), ambos no início do
filme comemorando o Natal com
a filhinha numa escola cara de
Nova York e depois fazendo compras no Rockefeller Center.
À noite, porém, as coisas mudam. O casal controla feliz o tráfico de cocaína de uma região da cidade, até que um policial (Ice-T)
começa a extorqui-los. Estamos
em 1993, último ano do mandato
do prefeito David Dinkins, como
avisa um letreiro inicial. Dinkins
foi um dos prefeitos mais corruptos da cidade, o último antes da
era Giuliani.
No final, aparece o letreiro: "Em
1994, Rudolph Giuliani (na verdade, está escrito "Guiliani", um erro de digitação) tomou posse e virou o 107º prefeito de Nova York".
Logo depois, o aviso: "Continua
(to be continued)", como nos seriados.
Das duas, uma: ou Abel Ferrara
vai se sair como o crítico feroz que
é ou estava com medo da política
de "tolerância zero" do atual prefeito. Se fizer uma sequência em
que a família de traficantes se dá
mal porque a polícia deu um jeito
nas drogas, virou arrivista ou está
de olho na verba cinematográfica
da cidade.
Se a saga prosseguir com a família poderosa, continua o mesmo
Ferrara de sempre. Nunca se vendeu tanta droga em Nova York e
nunca a polícia teve tantos casos
de corrupção, sim, mas principalmente de racismo.
Torça para que seja a segunda
opção. E que tenha a ver com uma
declaração recente do diretor de
que conseguiu US$ 22 milhões de
um mecenas para fazer a "continuação" de "O Rei de Nova
York", na verdade a origem do
clássico de 1990.
Aliás, será que "R-Xmas" não
vai ter algo a ver com isso?
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