JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Num cinema como o brasileiro, em que predomina o chamado "cinema de autor", "Minha Vida em Suas Mãos" é um caso raro de "filme de produtor", ou seja, aquele em que um cineasta é contratado para dirigir um projeto alheio, já definido e formatado.
O cineasta, no caso, é José Antônio Garcia, que anteriormente dirigiu "Estrela Nua" e "O Corpo", entre outros. A produtora é a atriz Maria Zilda Bethlem.
O argumento lembra bastante a situação básica de "Ata-me". Antônio (Caco Ciocler), um engenheiro desempregado, resolve assaltar, num momento de desespero, uma professora solitária, Júlia (Maria Zilda), e a mantém refém durante três dias em seu (dela) apartamento. A partir de um misto de estupro e sedução, os dois acabam vivendo o que as capas de fitas de vídeo chamam de "um tórrido romance".
Com esse entrecho em suas mãos, Maria Zilda e Garcia tinham várias alternativas: um policial, um drama romântico, uma comédia, um libelo social. Acabaram fazendo um pouco de cada, com ênfase óbvia no melodrama.
Os primeiros dez ou 15 minutos do filme, dominados por Garcia, são estimulantes porque imprevisíveis: acompanham a trajetória trôpega do personagem por uma cidade que lhe é cada vez mais estranha e hostil.
Há um humor crispado, quase negro, que atinge seu auge num estabanado assalto a um restaurante de classe média.
Tudo desanda com o tal "tórrido romance". As próprias pretensas reviravoltas inesperadas passam a seguir um figurino de telenovela e cinema americano. A sucessão de clichês é tamanha que o espectador se pergunta se não está diante de uma grande gozação.
Exibido no último Festival de Brasília, "Minha Vida" teve uma recepção ruidosa, em que se misturavam os risos e os aplausos. Voluntariamente ou não, o filme diverte seu público.

Minha Vida em Suas Mãos
  
Direção: José Antônio Garcia
Produção: Brasil, 2000
Com: Maria Zilda Bethlem, Caco Ciocler
Quando: a partir de hoje nos cines ABC Plaza Shopping, Anália Franco, Interlagos, Tamboré e circuito