São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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E-BOOK

Dois anos após ser apresentado como futuro na Bienal do Livro de SP, produto virtual depende do convencional

Livro de papel dá sustento ao eletrônico

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A 17ª Bienal do Livro de São Paulo encerrou suas portas na semana passada comemorando um aumento de 35% no público, em relação à edição anterior, de 2000. Em pesquisa realizada pela organização do evento, 69% desse público comprou livros e 74% dos visitantes tinham computador.
Ora, se parece haver interesse pela leitura e tecnologia à mão, por que o livro eletrônico, vedete da edição anterior do evento, é visto com desconfiança por aqui?
Há basicamente três suportes para ler um livro eletrônico: o próprio computador, os aparelhos do tipo palm top e o leitor específico -o e-book (designação que hoje é comumente usada para designar também o texto eletrônico). Nos três casos, a forma de aquisição do livro é a mesma: por downloads da internet.
Segundo a I-editora (www.ieditora.com.br) -uma das três editoras "virtuais" presentes na Bienal de 2000-, a maioria dos cerca de 20 mil downloads efetuados em seu site neste ano foram originados por compradores que lêem na tela do computador.
Em seguida vêm os usuários de palm tops e os que têm o aparelho leitor, que dispõe de "gadgets" para tornar a leitura eletrônica confortável, com ajuste da luminosidade da tela.
A empresa se apresenta como "editora de serviços alternativos ao mercado editorial". Isso porque não só comercializa os arquivos eletrônicos como também dispõe de impressão sob demanda, que se presta a autores independentes que não encontrem meios para publicar.
"Rapidamente apareceu a idéia de que o e-book ia demorar para pegar", diz o economista André Cymbalista, 36, um dos sócios da empresa, explicando a opção por diversificar os serviços.
Boa parte dos títulos disponíveis para download no site são justamente os assinados por esses autores independentes -a empresa oferece pacote para publicar a versão em papel ou as duas.

Existências paralelas
O fato é que o livro eletrônico ainda funciona atrelado ao livro de papel. A I-editora, por exemplo, é associada à Nobel, que fornece outra parte dos títulos da casa. Esse é o caso também da outra empresa nacional apresentada em 2000 na Bienal -originalmente chamada Escreva, agora está associada às editoras Campus e Objetiva sob o nome de Foglio (www.foglio.com.br).
Na opinião de Luciana Villas-Bôas, 45, da editora Record, a versão eletrônica é "uma mídia a mais". Ela não acredita na substituição do livro convencional pelo eletrônico. "Tem muito clássico na internet e, ainda assim, se você faz uma coleção de clássicos, vende muito. A convivência entre as duas mídias vai existir por muito tempo ainda. Como produto, o livro é quase perfeito", diz.
José Henrique Grossi, 49, diretor comercial da editora Summus e vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro faz coro com ela.
Grossi acha que o livro virtual vai encontrar um nicho de mercado, mas não acredita na sua rentabilidade como produto independente, substituindo o livro convencional. Como exemplo, lembra que "os EUA aplicaram muito dinheiro em cima disso, mas hoje não chega a 3% do mercado".
Elio Demier, 51, dono da Bom Texto, lembra que no início de 2000 foi procurado por empresários franceses que queriam investir em e-book no Brasil. À época, a maior vantagem apregoada por eles era a capacidade de armazenamento: em um aparelhinho que, então, custava US$ 800 e pesava algo como três livros, o leitor podia dispor de 300 títulos.
Para Demier, no entanto, a chave do problema está em algo que escapa aos avanços tecnológicos: "O livro de papel tem forma, cheiro, manuseio, coisas que atraem e prendem o leitor. O que terá o e-book para prender o leitor?".



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