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E-BOOK
Dois anos após ser apresentado como futuro na Bienal do Livro de SP, produto virtual depende do convencional
Livro de papel dá sustento ao eletrônico
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A 17ª Bienal do Livro de São
Paulo encerrou suas portas na semana passada comemorando um
aumento de 35% no público, em
relação à edição anterior, de 2000.
Em pesquisa realizada pela organização do evento, 69% desse público comprou livros e 74% dos
visitantes tinham computador.
Ora, se parece haver interesse
pela leitura e tecnologia à mão,
por que o livro eletrônico, vedete
da edição anterior do evento, é
visto com desconfiança por aqui?
Há basicamente três suportes
para ler um livro eletrônico: o
próprio computador, os aparelhos do tipo palm top e o leitor específico -o e-book (designação
que hoje é comumente usada para
designar também o texto eletrônico). Nos três casos, a forma de
aquisição do livro é a mesma: por
downloads da internet.
Segundo a I-editora (www.ieditora.com.br) -uma das três editoras "virtuais" presentes na Bienal de 2000-, a maioria dos cerca
de 20 mil downloads efetuados
em seu site neste ano foram originados por compradores que lêem
na tela do computador.
Em seguida vêm os usuários de
palm tops e os que têm o aparelho
leitor, que dispõe de "gadgets" para tornar a leitura eletrônica confortável, com ajuste da luminosidade da tela.
A empresa se apresenta como
"editora de serviços alternativos
ao mercado editorial". Isso porque não só comercializa os arquivos eletrônicos como também
dispõe de impressão sob demanda, que se presta a autores independentes que não encontrem
meios para publicar.
"Rapidamente apareceu a idéia
de que o e-book ia demorar para
pegar", diz o economista André
Cymbalista, 36, um dos sócios da
empresa, explicando a opção por
diversificar os serviços.
Boa parte dos títulos disponíveis para download no site são
justamente os assinados por esses
autores independentes -a empresa oferece pacote para publicar a versão em papel ou as duas.
Existências paralelas
O fato é que o livro eletrônico
ainda funciona atrelado ao livro
de papel. A I-editora, por exemplo, é associada à Nobel, que fornece outra parte dos títulos da casa. Esse é o caso também da outra
empresa nacional apresentada
em 2000 na Bienal -originalmente chamada Escreva, agora
está associada às editoras Campus
e Objetiva sob o nome de Foglio
(www.foglio.com.br).
Na opinião de Luciana Villas-Bôas, 45, da editora Record, a versão eletrônica é "uma mídia a
mais". Ela não acredita na substituição do livro convencional pelo
eletrônico. "Tem muito clássico
na internet e, ainda assim, se você
faz uma coleção de clássicos, vende muito. A convivência entre as
duas mídias vai existir por muito
tempo ainda. Como produto, o livro é quase perfeito", diz.
José Henrique Grossi, 49, diretor comercial da editora Summus
e vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro faz coro com ela.
Grossi acha que o livro virtual
vai encontrar um nicho de mercado, mas não acredita na sua rentabilidade como produto independente, substituindo o livro convencional. Como exemplo, lembra que "os EUA aplicaram muito
dinheiro em cima disso, mas hoje
não chega a 3% do mercado".
Elio Demier, 51, dono da Bom
Texto, lembra que no início de
2000 foi procurado por empresários franceses que queriam investir em e-book no Brasil. À época, a
maior vantagem apregoada por
eles era a capacidade de armazenamento: em um aparelhinho
que, então, custava US$ 800 e pesava algo como três livros, o leitor
podia dispor de 300 títulos.
Para Demier, no entanto, a chave do problema está em algo que
escapa aos avanços tecnológicos:
"O livro de papel tem forma, cheiro, manuseio, coisas que atraem e
prendem o leitor. O que terá o e-book para prender o leitor?".
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