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TELEVISÃO
Miguel Reale Jr. afirma ser a favor da portaria de classificação de programas, barrada pelas redes na Justiça
Novo ministro quer impor horário às TVs
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo ministro da Justiça, Miguel Reale Jr., afirmou ser a favor
da imposição de horários para
programas da TV pelo governo.
Essa é a essência da portaria 796,
assinada em setembro de 2000 pelo então ministro da Justiça, José
Gregori. Polêmica, a lei foi chamada de censura pelas redes de
televisão, que conseguiram anular seu efeito por meio de liminar.
Um mês antes de deixar o ministério, em novembro do ano
passado, Gregori afirmou à Folha
não acreditar mais que a programação pudesse melhorar por
meio do controle impositivo. Para
ele, o caminho seria uma ação
conjunta entre os ministérios da
Justiça, da Cultura e da Educação
para fazer com que o telespectador fosse mais exigente.
Mas Reale, que assumiu a pasta
no dia 3 de abril, disse anteontem
à Folha que as emissoras devem
ter a liberdade preservada, mas
sob algum tipo de controle. "Sendo uma concessão pública, deve
haver uma imposição [do governo". É como a imprensa, que tem
liberdade, mas segue algumas regras", afirmou o ministro.
Ele disse ainda que determinará
ao departamento jurídico do ministério que dê prosseguimento
na tentativa de recuperar o efeito
da portaria 796, suspensa em caráter provisório pela Justiça.
Pela lei, os programas de TV devem ser classificados por faixa
etária pelo Ministério da Justiça (o
que já é previsto pela Constituição
de 88), e as emissoras são obrigadas a exibi-lo no horário determinado pelo governo. Atualmente, a
imposição está suspensa e a classificação é apenas uma sugestão
do ministério às emissoras.
Além da portaria, Reale acredita
também que, para melhorar a
programação, cada emissora deve
adotar um ombudsman.
"É perfeitamente possível a convivência de um ombudsman com
a classificação do ministério. São
coisas paralelas, que podem funcionar juntas. Esse profissional,
escolhido pela própria emissora,
não seria um fiscal dos horários,
mas da qualidade da programação", disse Reale.
"Tem de ser alguém com independência e garantia de estabilidade no cargo num determinado
tempo, como acontece na Folha,
por exemplo", afirmou Reale.
O ministro sugeriu a adoção de
um ombudsman a Paulo Machado de Carvalho Neto, presidente
da Abert (Associação Brasileira
de Emissoras de Rádio e Televisão), em reunião realizada na última quarta-feira, em Brasília.
"Essa é só uma sugestão, não
uma exigência. Pretendemos adotá-la também nas emissoras educativas. O ombudsman seria só o
primeiro passo [para melhorar a
qualidade da programação", mas
não se pode abrir mão de uma regulamentação e de um debate."
A idéia do ombudsman foi bem
recebida pelo presidente da
Abert, sempre defensora da auto-regulamentação das TVs.
Apesar disso, a Globo, única das
grandes redes que ainda faz parte
da entidade, não irá acatar a sugestão. "Já temos a Central Globo
de Qualidade, com a função de
melhorar a programação e atender ao telespectador. Adotar um
ombudsman não é garantia de
mudança. Pode perfeitamente
funcionar para as TVs como marketing. O que resolve é o mecanismo, e não o instrumento", afirmou Luís Erlanger, diretor da
Central Globo de Comunicação.
Ele criticou também a idéia de
Reale de retomar a imposição de
horários à televisão. "A opinião
da Globo é de que a portaria 796
tenta instituir a censura, uma atitude inconstitucional. O próprio
governo já havia chegado a essa
conclusão", disse Erlanger.
A Record -que formou com a
Band e o SBT a UneTV (União
Nacional de Emissoras e Redes de
Televisão)- também criticou a
adoção do ombudsman e a possível volta da portaria. "Já temos
um canal aberto com o telespectador e o ombudsman não iria funcionar. A portaria, como sempre
dissemos, é inconstitucional."
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