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CRÍTICA/EXPOSIÇÃO
Oportunismo e demagogia marcam mostra de Mourão
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em momentos de crise social
ou política, a arte costuma
criar as imagens que melhor representam tais situações. "Guernica" (1937), de Pablo Picasso
(1881-1973), por exemplo, tornou-se a imagem mais contundente do bombardeio à cidade
basca que matou 1.654 pessoas.
Sem tal obra, o ocorrido em
"Guernica" talvez fosse uma citação em livros de história.
Entretanto a permanência desta
obra de Picasso não ocorre por ser
a mera ilustração de uma desgraça, mas porque a obra em si representa de fato um dos marcos na
carreira do pintor espanhol. O
imenso painel concentra algumas
das principais características do
cubismo de Picasso, além de conter novos experimentos que iriam
se desdobrar em suas próximas
obras, como defende Meyer Schapiro no texto "Guernica: Fontes,
Mudanças".
No Brasil, em um de seus períodos mais agudos, a ditadura militar iniciada em 1964 também levou artistas plásticos a criarem
imagens que vão muito além de
ilustrações. Antonio Dias, Rubens
Gerchman e Cláudio Tozzi, entre
outros, apropriaram-se da estética pop para abordar temas como
tortura e censura. Também Cildo
Meireles, com "Zero Dólar", por
exemplo, tratou da precariedade
do circuito e da dependência dos
Estados Unidos.
"Luladepelúcia", obra do artista
carioca Raul Mourão, anseia ser a
imagem do momento atual, mas
se transformou mais em um trabalho com forte apelo midiático
do que em uma obra que consegue reunir reflexão artística e crítica social, como um "Guernica"
ou um "Zero Dólar".
Criado, segundo o próprio artista, antes mesmo da crise, o trabalho visava abordar o caráter "paz
e amor" utilizado na campanha
eleitoral e foi visto pela primeira
vez como uma ampliação fotográfica de um boneco de Lula em
pelúcia na fachada da galeria Vermelho, em outubro de 2005, no
auge da crise provocada por Roberto Jefferson.
Durante essa primeira exposição, e por conta da crise, a obra se
tornou a metáfora de um presidente manietado, sem ação, um
boneco entre denúncias de corrupção. Aí, o "Luladepelúcia" alcançava um caráter irônico, satírico. Poderia ter ficado aí.
A partir de então, contudo,
Mourão utilizou-se do apelo midiático da obra, criando múltiplos
bonecos, expostos no Rio de Janeiro, que chegaram a São Paulo,
na galeria Oeste, presos em caixas,
"Caixa 1", "Caixa 2" e "Caixa 10",
e em novas imagens, como um
pingüim de geladeira, com o nariz
que parece de Pinóquio, ou um
anão de jardim, referência banal à
CPI dos Anões. Com isso, a nova
série radicalizou o caráter de ilustração da crise abandonando desdobramentos artísticos.
Uma outra série, também exibida na mostra, é constituída por
imagens virtuais de tais facetas de
Lula, que Mourão enviou para
outros artistas, pedindo que façam intervenções. Marco Gianotti, por exemplo, pinta uma faca no
pescoço do boneco. A arte, em
"Luladepelúcia e Outras Coisas",
está no mesmo nível da política
nacional. O oportunismo e a demagogia são suas principais características .
Luladepelúcia e Outras Coisas
Quando: de ter. a sex., das 12h às 20h;
sáb., das 10h às 15h; até 3/6
Onde: galeria Oeste (r. Mateus Grou,
618, SP, tel. 0/xx/11/3815-9889)
Quanto: entrada franca
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