São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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TRILHAS

Nos dez anos de sua morte, músico é relembrado com quatro álbuns

CDs relembram climas do "pantera" Henry Mancini

RONALDO EVANGELISTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Houve um tempo em que as trilhas sonoras das principais produções cinematográficas americanas eram mais do que coletâneas oportunas dos sucessos adolescentes do momento ou compilações espertinhas de velhos hits esquecidos tornados "cult". Eram todas feitas de composições originais e tinham papel ainda mais importante do que simplesmente acompanhar a história vista na tela a 24 quadros por segundo: representavam os filmes nas rádios e nas vitrolas.
E Henry Mancini foi o homem que definiu o que de mais cool poderia haver em termos de trilhas sonoras. O compositor e arranjador americano acaba de ganhar quatro novos discos em homenagem aos 80 anos de seu nascimento, dez de sua morte e 40 de sua trilha mais famosa, a da Pantera Cor-de-Rosa, todas as datas comemoradas em 2004.
O objetivo de toda boa trilha sempre foi pontuar o filme para o qual foi composta, acentuando as emoções e explicitando as intenções mostradas na tela, sem necessariamente desviar as atenções para si. Mas Mancini surgiu para mostrar que as trilhas tinham também o potencial de ser formadas por grandes músicas que poderiam (e deveriam) ser ouvidas independentemente dos filmes.
O compositor não só era íntimo de todos os truques dos semitons e bemóis para construir uma emocionante música incidental como conhecia todos os segredos para fazer uma grande canção popular. E, ainda mais impressionante, os dois ao mesmo tempo. Numa comparação simples, Mancini era um compositor com talento similar ao de Bernard Herrmann (o autor das melhores trilhas de Alfred Hitchcock) para a criação de climaxes sonoros ideais para as imagens, mas com sensibilidade similar à de Burt Bacharach para as canções pop.
Nascido em 1924, o jovem Mancini estreou nos anos 40 como pianista na orquestra de Glenn Miller e pouco depois começou a escrever para o cinema e a TV. Sua primeira obra maior foi para "A Marca da Maldade", clássico de Orson Welles de 1958, e, no ano seguinte, surgiria seu primeiro grande sucesso: a trilha da série televisiva "Peter Gunn". Com sonoridades jazzísticas criando o clima para as aventuras noir do detetive que dava nome à série, o disco com a canção-tema vendeu mais de um milhão de cópias.

Parceria
A série havia sido criada pelo diretor (e ex-ator) Blake Edwards, com quem Mancini manteria frutífera parceria pelos 35 anos seguintes, até sua morte. Algumas de suas mais inesquecíveis trilhas foram para filmes de Edwards, como "Bonequinha de Luxo" (61), "Vício Maldito" (62) e "Um Convidado Bem Trapalhão" (68).
Para "Bonequinha de Luxo", filme com o qual foi indicado pela terceira vez ao Oscar e ganhou a primeira estatueta (ganharia ainda outras três), escreveu a perene "Moon River", já gravada centenas de vezes por artistas tão diversos quanto Frank Sinatra e REM. Para "Vício Maldito" e "Charada" criou canções-tema com os títulos originais dos filmes ("Days of Wine and Roses" e "Charade"), igualmente inesquecíveis e presentes até hoje em qualquer lista que se preze de grandes canções americanas do século 20.
Em 1964, a dupla diretor-compositor chegou ao seu auge de popularidade com "A Pantera Cor-de-Rosa", primeiro filme protagonizado pelo infame Inspetor Closeau, encarnado pelo legendário Peter Sellers. Quem não seria capaz de reconhecer e cantarolar o inconfundível solo de sax tenor da música tema da Pantera logo nos primeiros segundos de audição? E olhe que até sua morte, em 14 de junho de 1994, aos 71 anos, Mancini ainda teria pela frente 30 anos e incontáveis trilhas -nenhuma menos do que boa.



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