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TRILHAS
Nos dez anos de sua morte, músico é relembrado com quatro álbuns
CDs relembram climas do "pantera" Henry Mancini
RONALDO EVANGELISTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Houve um tempo em que as trilhas sonoras das principais produções cinematográficas americanas eram mais do que coletâneas oportunas dos sucessos adolescentes do momento ou compilações espertinhas de velhos hits
esquecidos tornados "cult". Eram
todas feitas de composições originais e tinham papel ainda mais
importante do que simplesmente
acompanhar a história vista na tela a 24 quadros por segundo: representavam os filmes nas rádios
e nas vitrolas.
E Henry Mancini foi o homem
que definiu o que de mais cool poderia haver em termos de trilhas
sonoras. O compositor e arranjador americano acaba de ganhar
quatro novos discos em homenagem aos 80 anos de seu nascimento, dez de sua morte e 40 de sua
trilha mais famosa, a da Pantera
Cor-de-Rosa, todas as datas comemoradas em 2004.
O objetivo de toda boa trilha
sempre foi pontuar o filme para o
qual foi composta, acentuando as
emoções e explicitando as intenções mostradas na tela, sem necessariamente desviar as atenções
para si. Mas Mancini surgiu para
mostrar que as trilhas tinham
também o potencial de ser formadas por grandes músicas que poderiam (e deveriam) ser ouvidas
independentemente dos filmes.
O compositor não só era íntimo
de todos os truques dos semitons
e bemóis para construir uma
emocionante música incidental
como conhecia todos os segredos
para fazer uma grande canção popular. E, ainda mais impressionante, os dois ao mesmo tempo.
Numa comparação simples,
Mancini era um compositor com
talento similar ao de Bernard
Herrmann (o autor das melhores
trilhas de Alfred Hitchcock) para
a criação de climaxes sonoros
ideais para as imagens, mas com
sensibilidade similar à de Burt Bacharach para as canções pop.
Nascido em 1924, o jovem Mancini estreou nos anos 40 como
pianista na orquestra de Glenn
Miller e pouco depois começou a
escrever para o cinema e a TV.
Sua primeira obra maior foi para
"A Marca da Maldade", clássico
de Orson Welles de 1958, e, no
ano seguinte, surgiria seu primeiro grande sucesso: a trilha da série
televisiva "Peter Gunn". Com sonoridades jazzísticas criando o
clima para as aventuras noir do
detetive que dava nome à série, o
disco com a canção-tema vendeu
mais de um milhão de cópias.
Parceria
A série havia sido criada pelo diretor (e ex-ator) Blake Edwards,
com quem Mancini manteria frutífera parceria pelos 35 anos seguintes, até sua morte. Algumas
de suas mais inesquecíveis trilhas
foram para filmes de Edwards, como "Bonequinha de Luxo" (61),
"Vício Maldito" (62) e "Um Convidado Bem Trapalhão" (68).
Para "Bonequinha de Luxo", filme com o qual foi indicado pela
terceira vez ao Oscar e ganhou a
primeira estatueta (ganharia ainda outras três), escreveu a perene
"Moon River", já gravada centenas de vezes por artistas tão diversos quanto Frank Sinatra e REM.
Para "Vício Maldito" e "Charada"
criou canções-tema com os títulos
originais dos filmes ("Days of Wine and Roses" e "Charade"),
igualmente inesquecíveis e presentes até hoje em qualquer lista
que se preze de grandes canções
americanas do século 20.
Em 1964, a dupla diretor-compositor chegou ao seu auge de popularidade com "A Pantera Cor-de-Rosa", primeiro filme protagonizado pelo infame Inspetor
Closeau, encarnado pelo legendário Peter Sellers. Quem não seria
capaz de reconhecer e cantarolar
o inconfundível solo de sax tenor
da música tema da Pantera logo
nos primeiros segundos de audição? E olhe que até sua morte, em
14 de junho de 1994, aos 71 anos,
Mancini ainda teria pela frente 30
anos e incontáveis trilhas -nenhuma menos do que boa.
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