São Paulo, sábado, 11 de junho de 2005

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CRÍTICA

Banda troca simplicidade por messianismo

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das mais sucintas definições sobre a última parte da saga "Star Wars" veio de alguém da Redação: é um dos poucos filmes em que ninguém bebe, ninguém fuma, ninguém faz sexo, ninguém tem vícios. Este "X&Y", terceiro álbum do Coldplay, é o "Star Wars" do pop: não arrisca, não agride, não ofende... e deve arrecadar milhões.
"Star Wars", pelo menos, vem com Darth Vader. "X&Y" vem com Chris Martin, sujeito que não bebe, não fuma, não come carne, é casado com Gwyneth Paltrow, tem uma filha chamada Apple e era virgem até os 22 anos.
Nada contra o vegetarianismo, o celibato ou o bom-mocismo do Coldplay, mas após a maciça repercussão de "Parachutes" (2000) e "A Rush of Blood to the Head" (2002), esperava-se mais da banda. Martin chegou a dizer, meses atrás, que, com o novo álbum, eles "reinventariam a roda". Mas "X&Y" é um disco quadrado.
Enquanto "Parachutes" esbanjava simplicidade, leveza, um lirismo que desarmava qualquer um de tão sincero (em músicas como "Yellow", "Shiver", "Everything's Not Lost", "Sparks"...), "X&Y" é pomposo, "grandioso", repetitivo, pobre liricamente.
O primeiro single, "Speed of Sound", é claramente baseado em "Clocks", bonita balada ao piano que se sobressaía em "A Rush of Blood..." É, até por isso, um dos momentos menos chatos do CD.
Uma boa idéia está em "Talk", em que o Coldplay empresta a melodia de "Computer Love", do Kraftwerk, e a transforma em riff de guitarra. Já "X&Y", a música, lembra o Coldplay de "Parachutes", doce, sutil ("Você e eu, estamos sendo levados para o espaço"); e refresco em meio ao atual messianismo que tomou conta de Martin e da banda.
"Você apenas quer alguém escutando o que você diz/ Não importa quem você seja", canta, ou confessa, Martin em "Square One", que abre o álbum. Quando você é o líder de uma das mais idolatradas bandas do planeta, sim, importa quem você seja, e espera-se coisa melhor do que "Você é parte da raça humana/ E todas as estrelas e o universo..." (em "White Shadows").
"What If" parece uma balada de Simon & Garfunkel -chata, chorosa. Como "A Message".
"Low", em que Martin diz que "vê o mundo em branco e preto, sem cores, sem luzes", começa bem, com uma guitarra que parece levar a algum lugar; mas é longa, termina com um arranjo que parece um sub-Radiohead.
Nada que indique que o disco será um fracasso. Pelo contrário, "X&Y", até pelo enorme esquema marqueteiro que tem por trás, deve vender horrores, tem baladas convencionais para serem entoadas em estádios, como "Fix You" e "The Hardest Part", mas está longe de oferecer algo que entusiasme ou que chegue próximo ao que o próprio Coldplay já fez.


X&Y
  
Artista: Coldplay
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 35, em média


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