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CRÍTICA
Banda troca simplicidade por messianismo
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das mais sucintas definições sobre a última parte da
saga "Star Wars" veio de alguém
da Redação: é um dos poucos filmes em que ninguém bebe, ninguém fuma, ninguém faz sexo,
ninguém tem vícios. Este "X&Y",
terceiro álbum do Coldplay, é o
"Star Wars" do pop: não arrisca,
não agride, não ofende... e deve
arrecadar milhões.
"Star Wars", pelo menos, vem
com Darth Vader. "X&Y" vem
com Chris Martin, sujeito que não
bebe, não fuma, não come carne,
é casado com Gwyneth Paltrow,
tem uma filha chamada Apple e
era virgem até os 22 anos.
Nada contra o vegetarianismo,
o celibato ou o bom-mocismo do
Coldplay, mas após a maciça repercussão de "Parachutes" (2000)
e "A Rush of Blood to the Head"
(2002), esperava-se mais da banda. Martin chegou a dizer, meses
atrás, que, com o novo álbum, eles
"reinventariam a roda". Mas
"X&Y" é um disco quadrado.
Enquanto "Parachutes" esbanjava simplicidade, leveza, um lirismo que desarmava qualquer
um de tão sincero (em músicas
como "Yellow", "Shiver", "Everything's Not Lost", "Sparks"...),
"X&Y" é pomposo, "grandioso",
repetitivo, pobre liricamente.
O primeiro single, "Speed of
Sound", é claramente baseado em
"Clocks", bonita balada ao piano
que se sobressaía em "A Rush of
Blood..." É, até por isso, um dos
momentos menos chatos do CD.
Uma boa idéia está em "Talk",
em que o Coldplay empresta a
melodia de "Computer Love", do
Kraftwerk, e a transforma em riff
de guitarra. Já "X&Y", a música,
lembra o Coldplay de "Parachutes", doce, sutil ("Você e eu, estamos sendo levados para o espaço"); e refresco em meio ao atual
messianismo que tomou conta de
Martin e da banda.
"Você apenas quer alguém escutando o que você diz/ Não importa quem você seja", canta, ou
confessa, Martin em "Square
One", que abre o álbum. Quando
você é o líder de uma das mais
idolatradas bandas do planeta,
sim, importa quem você seja, e espera-se coisa melhor do que "Você é parte da raça humana/ E todas as estrelas e o universo..." (em
"White Shadows").
"What If" parece uma balada de
Simon & Garfunkel -chata, chorosa. Como "A Message".
"Low", em que Martin diz que
"vê o mundo em branco e preto,
sem cores, sem luzes", começa
bem, com uma guitarra que parece levar a algum lugar; mas é longa, termina com um arranjo que
parece um sub-Radiohead.
Nada que indique que o disco
será um fracasso. Pelo contrário,
"X&Y", até pelo enorme esquema
marqueteiro que tem por trás, deve vender horrores, tem baladas
convencionais para serem entoadas em estádios, como "Fix You"
e "The Hardest Part", mas está
longe de oferecer algo que entusiasme ou que chegue próximo ao
que o próprio Coldplay já fez.
X&Y
Artista: Coldplay
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 35, em média
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