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o dono do mundo
Antonio Fagundes, 40 anos de carreira, comenta a fama de arrogante e critica a platéia
Caio Guatelli/Folha Imagem
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Antonio Fagundes no teatro Cultura Artística, onde faz a peça "As Mulheres da Minha Vida" |
LAURA MATTOS
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Se os fãs já eram inconvenientes na era do autógrafo no
papel, em tempos de celular
com câmera digital eles se tornaram um verdadeiro inferno.
Aos 57 anos, 40 de profissão,
o ator Antonio Fagundes perde
o bom humor com a mania de
tirar foto de famosos em todo
lugar. Acha que espectadores
de teatro continuam inconvenientes, mesmo após ter criado
"Sete Minutos" (2002) só para
reclamar de pecados da platéia.
Em cartaz em São Paulo com
"As Mulheres da Minha Vida",
elogiado pela crítica e já visto
por mais de 110 mil pessoas, já
interrompeu a peça porque um
homem "tossia tanto que parecia que o pulmão ia sair".
Fagundes admite que possa
ter fama de chato, arrogante,
mas não se importa. Também
está no cinema com "Achados e
Perdidos", estreou na semana
passada a quarta temporada de
"Carga Pesada" e planeja transformar a série em filme. À Folha, ele falou na semana passada com simpatia. Leia abaixo.
FOLHA - Em "Sete Minutos", o sr.
reclamava do comportamento do
público no teatro. De lá para este novo espetáculo algo mudou?
ANTONIO FAGUNDES - Não. Mudou para mim; pelo menos falei
a eles o que penso disso. Fiquei
mais de dois anos falando para
um público grande, mais de
200 mil espectadores, o DVD
está aí. Mas até hoje toca o celular durante o espetáculo, é um
inferno. Tenho impressão de
que eles se habituaram com isso, mas incomoda algumas pessoas. Outro dia parei a peça, há
anos não fazia isso, até porque
havia escrito "Sete Minutos"
para isso, não estava agüentando, tinha que falar. Comecei
"As Mulheres da Minha Vida" e
tinha um homem com uma tosse tão violenta que eu não conseguia ouvir minha companheira em cena. Era uma tosse
que parecia que o pulmão ia
sair. Pensei: "Além de estar me
incomodando, ninguém está
ouvindo nada". Parei e falei: "O
sr. está passando mal? Deve ter
algum médico na platéia".
FOLHA - Coitado [risos]...
FAGUNDES - Coitado, não. Ele
não tossiu mais. O que faz esse
cara tossir assim e de repente
parar e ficar assim? Tem alguma coisa louca aí, não? Mas fui
muito gentil, e a platéia riu.
FOLHA - Esse tipo de atitude, como
ao não admitir nem um minuto de
atraso, criou um folclore?
FAGUNDES - Nem 30 segundos.
Quando comecei isso, foi para
atender a platéia. É a coisa da
lei no Brasil. Como fazer com
que seja cumprida, se não é seguida à risca? Se matar alguém,
você vai mais ou menos preso?
Por que tolerar o atraso de 15
minutos e não um de 16? Não é
para castigar, mas para respeitar quem chega na hora.
FOLHA - É pontual na vida pessoal?
FAGUNDES - Sim. É de boa educação. E não tenho saída, preciso me organizar. Se comer mais
cinco minutos, não consigo entrar em cena na hora. Minha vida é regida por essa disciplina.
FOLHA - E se uma mulher chegar
atrasada a um encontro romântico?
FAGUNDES - Chegou atrasada?
Vai chegar uma vez só. Na segunda, não espero.
FOLHA - O sr. adquiriu certa aura de
arrogante, de não gostar de dar autógrafos. Em Amparo [interior de
SP], onde gravou "O Rei do Gado"
[1996/97], moradores que foram figurantes dizem que o sr. é chato.
FAGUNDES - É mesmo? Por todo
lugar que passo ganho essa fama. Sou sempre bem-humorado, mas aí a gente esbarra no problema da educação. Ninguém pergunta em que condições as pessoas descobriram que sou chato. Não consigo, por
exemplo, ser simpático com alguém se estou enterrando um
amigo e ele quer que eu tire foto
com a família dele e dê autógrafo. É o meu limite.
Tive que sair de um velório
de um amigo, em que a polícia
teve até de ser chamada. Confesso a você que fui extremamente antipático com aquelas
30 pessoas e serei novamente.
Existem algumas ocasiões na
vida em que a gente não pode
ser simpático. Se tenho uma
entrevista marcada, não posso
perder o avião porque alguém
acha que estou lá para tirar
uma foto com ela, que nem sabe
mexer na máquina. Vou embora correndo e ela me chamando
de nojento [risos]. A coisa está
complicando: antes era só autógrafo, agora é foto também, todo mundo está com câmera em
todos os lugares.
FOLHA - Depois de tantos anos, como avalia o desentendimento que
teve com o diretor Gerald Thomas?
FAGUNDES - Ele pensa radicalmente diferente de mim. Ele
usa muito a palavra comercial,
com a qual não concordo. Há
coisas que o público gosta de
ver e as que não gosta. Fora isso, é o mesmo público. Quando
nos conhecemos, Gerald tinha
um pé atrás com o que fazia sucesso. Mas tenho certeza de
que ele está mudando, porque
está fazendo até comédia.
FOLHA - O autor Carlos Lombardi
disse que o convidaria para "Pé na
Jaca" [próxima novela das sete]. Será a sua volta às novelas?
FAGUNDES - Ele até falou que eu
vou fazer um pai-de-santo [risos]. Acho que não, porque
"Carga Pesada" continua no ar
e é um projeto muito querido.
Colaboraram VALMIR SANTOS, da Reportagem
Local, e NELSON DE SÁ, colunista da Folha
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