São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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o dono do mundo

Antonio Fagundes, 40 anos de carreira, comenta a fama de arrogante e critica a platéia

Caio Guatelli/Folha Imagem
Antonio Fagundes no teatro Cultura Artística, onde faz a peça "As Mulheres da Minha Vida"


LAURA MATTOS
GUSTAVO FIORATTI

DA REPORTAGEM LOCAL

Se os fãs já eram inconvenientes na era do autógrafo no papel, em tempos de celular com câmera digital eles se tornaram um verdadeiro inferno. Aos 57 anos, 40 de profissão, o ator Antonio Fagundes perde o bom humor com a mania de tirar foto de famosos em todo lugar. Acha que espectadores de teatro continuam inconvenientes, mesmo após ter criado "Sete Minutos" (2002) só para reclamar de pecados da platéia. Em cartaz em São Paulo com "As Mulheres da Minha Vida", elogiado pela crítica e já visto por mais de 110 mil pessoas, já interrompeu a peça porque um homem "tossia tanto que parecia que o pulmão ia sair". Fagundes admite que possa ter fama de chato, arrogante, mas não se importa. Também está no cinema com "Achados e Perdidos", estreou na semana passada a quarta temporada de "Carga Pesada" e planeja transformar a série em filme. À Folha, ele falou na semana passada com simpatia. Leia abaixo.  

FOLHA - Em "Sete Minutos", o sr. reclamava do comportamento do público no teatro. De lá para este novo espetáculo algo mudou?
ANTONIO FAGUNDES
- Não. Mudou para mim; pelo menos falei a eles o que penso disso. Fiquei mais de dois anos falando para um público grande, mais de 200 mil espectadores, o DVD está aí. Mas até hoje toca o celular durante o espetáculo, é um inferno. Tenho impressão de que eles se habituaram com isso, mas incomoda algumas pessoas. Outro dia parei a peça, há anos não fazia isso, até porque havia escrito "Sete Minutos" para isso, não estava agüentando, tinha que falar. Comecei "As Mulheres da Minha Vida" e tinha um homem com uma tosse tão violenta que eu não conseguia ouvir minha companheira em cena. Era uma tosse que parecia que o pulmão ia sair. Pensei: "Além de estar me incomodando, ninguém está ouvindo nada". Parei e falei: "O sr. está passando mal? Deve ter algum médico na platéia".

FOLHA - Coitado [risos]...
FAGUNDES
- Coitado, não. Ele não tossiu mais. O que faz esse cara tossir assim e de repente parar e ficar assim? Tem alguma coisa louca aí, não? Mas fui muito gentil, e a platéia riu.

FOLHA - Esse tipo de atitude, como ao não admitir nem um minuto de atraso, criou um folclore?
FAGUNDES
- Nem 30 segundos. Quando comecei isso, foi para atender a platéia. É a coisa da lei no Brasil. Como fazer com que seja cumprida, se não é seguida à risca? Se matar alguém, você vai mais ou menos preso? Por que tolerar o atraso de 15 minutos e não um de 16? Não é para castigar, mas para respeitar quem chega na hora.

FOLHA - É pontual na vida pessoal?
FAGUNDES
- Sim. É de boa educação. E não tenho saída, preciso me organizar. Se comer mais cinco minutos, não consigo entrar em cena na hora. Minha vida é regida por essa disciplina.

FOLHA - E se uma mulher chegar atrasada a um encontro romântico?
FAGUNDES
- Chegou atrasada? Vai chegar uma vez só. Na segunda, não espero.

FOLHA - O sr. adquiriu certa aura de arrogante, de não gostar de dar autógrafos. Em Amparo [interior de SP], onde gravou "O Rei do Gado" [1996/97], moradores que foram figurantes dizem que o sr. é chato.
FAGUNDES
- É mesmo? Por todo lugar que passo ganho essa fama. Sou sempre bem-humorado, mas aí a gente esbarra no problema da educação. Ninguém pergunta em que condições as pessoas descobriram que sou chato. Não consigo, por exemplo, ser simpático com alguém se estou enterrando um amigo e ele quer que eu tire foto com a família dele e dê autógrafo. É o meu limite. Tive que sair de um velório de um amigo, em que a polícia teve até de ser chamada. Confesso a você que fui extremamente antipático com aquelas 30 pessoas e serei novamente. Existem algumas ocasiões na vida em que a gente não pode ser simpático. Se tenho uma entrevista marcada, não posso perder o avião porque alguém acha que estou lá para tirar uma foto com ela, que nem sabe mexer na máquina. Vou embora correndo e ela me chamando de nojento [risos]. A coisa está complicando: antes era só autógrafo, agora é foto também, todo mundo está com câmera em todos os lugares.

FOLHA - Depois de tantos anos, como avalia o desentendimento que teve com o diretor Gerald Thomas?
FAGUNDES
- Ele pensa radicalmente diferente de mim. Ele usa muito a palavra comercial, com a qual não concordo. Há coisas que o público gosta de ver e as que não gosta. Fora isso, é o mesmo público. Quando nos conhecemos, Gerald tinha um pé atrás com o que fazia sucesso. Mas tenho certeza de que ele está mudando, porque está fazendo até comédia.

FOLHA - O autor Carlos Lombardi disse que o convidaria para "Pé na Jaca" [próxima novela das sete]. Será a sua volta às novelas?
FAGUNDES
- Ele até falou que eu vou fazer um pai-de-santo [risos]. Acho que não, porque "Carga Pesada" continua no ar e é um projeto muito querido.


Colaboraram VALMIR SANTOS, da Reportagem Local, e NELSON DE SÁ, colunista da Folha

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