São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A culpa não é do PT", diz Fagundes

Ator de "Carga Pesada" afirma que nenhum partido tem projeto para a cultura, defende Gil e acha cedo para acusar Lula

Intérprete avalia que o teatro "sempre foi elitista" e defende que a meia-entrada deveria ser extinta para reduzir o preço do ingresso

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir a continuação da entrevista com Fagundes.  

FOLHA - Depois de tantas peças políticas, optou por uma comercial, da Broadway. Por que a mudança?
ANTONIO FAGUNDES
- Não há mudança. Acabei de fazer "Achados e Perdidos", sobre um ex-delegado envolvido com esquadrão da morte, corrupção. Não acho que "As Mulheres da Minha Vida" não seja um texto político. Não é talvez engajado, mas fala de relações pessoais. Todas as peças são políticas. Você prepara o cidadão para ficar 90 minutos se aliviando da tensão trazida pela sociedade, pela má distribuição de renda, e sair com a cabeça mais fresca.

FOLHA - O sr. fala em ampliar o público. Não há como trabalhar com um valor de ingresso mais baixo do que os R$ 40 de "As Mulheres..."?
FAGUNDES
- Há o problema da meia-entrada, que nunca entendi. A cultura tem tão pouca força política que políticos acabam fazendo média em cima da gente. O teatro sempre foi elitista, desde a Grécia antiga.

FOLHA - O sr. é a favor de extinção da meia-entrada?
FAGUNDES
- Sou. Talvez, se a gente abolisse a meia-entrada, os ingressos não seriam tão altos. Todo mundo paga meia. Então, como eu faço? Se pusesse o ingresso num valor mais razoável, estava perdido. E nós não repassamos ao público a inflação da produção.

FOLHA - O sr., que foi garoto-propaganda do PT, concorda com as críticas que Paulo Autran e Marco Nanini fizeram sobre Gil no ministério? Acha que ele abandonou o teatro?
FAGUNDES
- A crítica pode ser pertinente dependendo do contexto. No contexto real, não existe ministro da Cultura que consiga fazer o que quer que seja em nenhuma área com 0,1% da dotação orçamentária. Você pode chamar o Goethe, que ele vai ficar fazendo discurso, como o Gil fica cantando. É preciso impedir que as igrejas comprem os teatros, reformar alguns, criar companhias estatais. O problema é financeiro, vontade política ele tem, mas de que adianta? Não é culpa do PT, mas dessa estrutura em que vivemos desde 1500. Nenhum partido tem projeto cultural. O Autran e o Nanini têm razão, mas não se pode particularizar.

FOLHA - E o PT não poderia ter feito isso, em sua avaliação?
FAGUNDES
- Não esperava isso, porque não via em nenhuma plataforma do PT algo voltado à cultura. O grande mérito do artista ligado ao PT é que já sabia que não ia ganhar nada.

FOLHA - O sr. voltaria a fazer propaganda para o PT?
FAGUNDES
- Não, parei há anos, quando percebi que o PT chegaria ao poder e que não teria a chance de me manifestar. Comecei a me sentir desconfortável em apoiar uma pessoa e saber que, se passasse a discordar dela, não teria espaço para falar. Mas sigo votando no PT.

FOLHA - Que avaliação faz sobre a crise do mensalão e a responsabilidade do presidente Lula?
FAGUNDES
- Estamos muito em cima do laço para conversar sobre isso. Ainda não é história, é jornalismo não devidamente apurado. Tem um monte de coisa que a gente não sabe e é prematuro falar contra ou a favor. Preciso deixar a coisa esfriar. A gente sempre soube que democracia é a eleição entre o ruim e o pior. É claro que foi um banho de água fria em todos nós. Mas, enquanto o sistema não for reformado, qualquer partido terá o problema de esbarrar com caras corruptos. No Congresso, com 550 deputados, quantos são corruptos? Diria 498 e teria dificuldade de apontar os honestos.

FOLHA - O sr. participou de um movimento da Globo pela defesa da cultura brasileira. Os críticos dizem que, na verdade, a emissora pretende manter o controle da produção de conteúdo artístico do país.
FAGUNDES
- A mesma animosidade que existia contra o PT existe contra a Globo no sentido contrário. Isso é um pecado, porque a Globo é a maior produtora de TV do mundo. Se tivéssemos a auto-estima alta, estaríamos nos vangloriando de ter a Globo. No dia em que a Globo acabar, vamos entender o que é TV, vamos sentir falta e será tarde. As TVs não se arriscam, elas copiam a Globo. Claro que há erros, mas a culpa talvez não seja só da Globo, mas do sistema de comunicação.

FOLHA - O seriado "Carga Pesada" também vai virar um filme?
FAGUNDES
- A gente tem essa idéia, até porque, de todos os seriados que viraram filme, o nosso é o que cabe mais. Mas ainda é só um desejo, uma nova luta, como foi da de voltar com a série. Fiquei dois anos tentando convencer a emissora.

FOLHA - O sr. já ganhou tudo quanto é título: o homem mais sexy, o bumbum mais bonito...
FAGUNDES
- [interrompe] O bumbum?! Nem "Caras" ousaria chegar a esse nível [risos].

FOLHA - Para isso, perto dos 60 anos, é preciso ser um metrossexual, cuidar da pele, do cabelo etc.?
FAGUNDES
- Não, o máximo que faço é ser limpinho [risos]. Tomo banho todo dia, sou perfumadinho, corto as unhas...


NA INTERNET - Leia a íntegra da entrevista com Antonio Fagundes www.folha.com.br/061596


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.