São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

[+]análise

Um artesão vigilante do ofício de ator

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Livrando-se com desenvoltura de perguntas rasas, pairando sobre o charco das fofocas sem pretender atingir o Olímpo dos inovadores, Fagundes reivindica o caminho do meio: é um artesão.
Nem gênio nem celebridade instantânea, há décadas cumpre o papel de garantir uma iniciação ao teatro para quem o conhece das novelas -"o seu João e a dona Maria", segundo sua cartilha.
Encerrar Fagundes no rótulo de "comercial" seria esquecer momentos importantes de sua carreira, como "Morte Acidental de um Anarquista", peça de Dario Fo na qual fazia a platéia repetir "o governo é sempre f.d.p." em uma época em que isso ainda não era tranqüilo.
Arriscou-se no experimental, embora relutante, tendo sido um dos primeiros atores brasileiros dirigidos por Gerald Thomas, em "Carmem com Filtro".
Lembro-me de vê-lo diante de uma marca mais abstrata criada por Ulisses Cruz, em "Macbeth", dividido entre a obediência devida por ofício ao diretor e a preocupação com a dona Maria, sua fã habitual: "Eu faço. Mas antes me explica por quê".
Ator-empresário, nos moldes românticos de Kean a Procópio, e com um faro comprovado para o sucesso, seu teatro é aquele que ele gosta de fazer. Seu amor é pelo ritual em si, a fila na bilheteria, o silêncio na platéia, o debate com o público.
Suas brigas antológicas são sempre com os contraventores, os que querem banalizar a vulnerabilidade do artista que se apresenta ao vivo, por maus hábitos adquiridos diante da televisão.
Nem sempre concordei com as escolhas de Antonio Fagundes. Mas nunca duvidei de suas intenções -que são, em última análise, fazer frente à mediocridade que cada vez mais obscurece o ofício do ator.


Texto Anterior: A peça atual
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.